Diante de uma figura sempre em movimento como o escritor Jomard Muniz de Britto, toda homenagem é, no mínimo, uma negociação. Agitador cultural, professor, pensador da estética e o que mais que se quiser pensar, Jomard, aos 82 anos, nunca se apegou a postos oficiais, honrarias formais ou lugares estanques: a sua trajetória é a de alguém sempre disposto a se deslocar, indo da pedagogia aos manifestos estéticos, do cinema experimental ao poemas que imprime por conta própria e distribui. Ainda assim, por sua dimensão para a cultura e literatura pernambucana, ignorar sua importância seria uma plena injustiça – uma que, felizmente, não tem sido cometida.
Depois de sua vida virar uma biografia escrita por Fabiana Moraes por ocasião dos seus 80 anos, Jomard vai ser agora o homenageado da Praça da Palavra do 29º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), que acontece entre os dias 18 a 27 de julho. A programação completa do evento, que celebra o centenário de Jackson do Pandeiro, será divulgada nesta quinta (4), em coletiva de imprensa.
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A Praça da Palavra hospeda a programação literária do FIG 2019, com espaço para lançamento de livros, debates e atividades para crianças. A abertura vai ficar por conta de um bate-papo com o homenageado no dia 20, um sábado, às 20h. É uma oportunidade de vislumbrar um pouco da trajetória de Jomard, entendendo como um homem que começou sua vida pública como integrante inicial do método Paulo Freire de alfabetização de adultos termina como um inquieto artista e filósofo. Afinal, nos anos 1960, o sistema freiriano, generoso e revolucionário como o próprio homenageado, logo seria escolhido como inimigo pela ditadura militar, que depois forçaria Jomard a se aposentar precocemente de suas funções como professor na universidade.
A ligação com a pedagogia nunca abandonou Jomard, mesmo quando ele partiu para os fronts da arte e do pensamento. Assim, foi um dos pioneiros e filósofos da Tropicália, produziu filmes em Super-8 e ainda publicou os livros Contradições do Homem Brasileiro e Do Modernismo à Bossa Nova. Mais recentemente, passou a criar os atentados poéticos, textos que, enquanto falam de questões do momento, mostram as reflexões estéticas, políticas e poéticas do autor.
MAIS ATRAÇÕES
A programação da Praça da Palavra do FIG 2019 reflete essa pluralidade jomardiana, com debates e lançamentos de livros. No mesmo dia que Jomard, o jornalista e escritor carioca Pedro de Luna fala, às 17h, sobre a produção da biografia Planet Hemp, Mantenha o Respeito, com a história de 25 anos da banda.
Adiel Luna apresenta o seu recital musical O Bardo na segunda, 22. No dia seguinte, às 19h, dois vencedores do Prêmio Pernambuco de Literatura (agora Prêmio Hermilo), os escritores Amâncio Siqueira e João Paulo Parisio, debatem o tema Do Fantástico Insólito à Vida Cotidiana, comentando como suas obras dialogam com a ficção especulativa.
Já o lançamento do livro Lutar é Crime, da poeta Bell Puã, está marcado para o dia 25. Miró faz um recital, organizado pela Cepe Editora, no dia posterior, às 15h. Outro livro que vai ser apresentado é Meu Peito É Feito de Festa, do escritor Paulo Brás, no dia 27. De olho no homenageado geral do FIG, o biógrafo Fernando Moura vai lançar Jackson do Pandeiro em Quadrinhos em data ainda não definida.
Além dessa programação, a Praça da Palavra do FIG ainda contará com atrações infantis, como as contações de histórias comandadas por Pochyua, o grupo O Tapete Voador, Toni Edson, Alexandre Revôredo e Yalle Feitosa, entre outros. O projeto Outras Palavras vai realizar também no dia 27, às 10h, uma edição especial dos seus encontros entre leitores e escritores, intitulada Outras Palavrinhas.
