Brasil, este é Naná Vasconcelos. Um Naná que, aos 68 anos, se diz tão pouco conhecido pelos brasileiros. Um homem que tem pele negra, voz calma e uma energia contagiante, daquelas que prendem o interlocutor a cada frase de efeito e onomatopeias compassadamente faladas, cantadas ou tocadas. Que fique claro: o Naná que o Brasil ainda teima em desconhecer não é só aquele maestro dos tambores vibrantes da abertura do Carnaval do Recife. É o Naná homenageado da folia deste ano e que um dia Maria Bethânia, em entrevista, usou como exemplo do mais completo significado de cultura popular brasileira: aquele que não é estático, que renova a tradição. “Eu amo o Recife”, diz o músico que tem uma África dentro de si.
O seu pedaço do Recife, sua casa, é um refúgio para quem pouco sai de lá, salvo para alguns passeios, a ida ao cinema, ao teatro, aos shows e workshops que dá, mas muito pouco. Naná é tímido, introspectivo. O verbo gostar ele conjuga facilmente e repetidamente como complemento da palavra Recife. Nascido aqui, mas criado no mundo (morou 27 anos nos Estados Unidos e outros cinco em Paris, onde trabalhou e gravou discos), Juvenal de Holanda Vasconcelos – cujo apelido dissílabo é um referência constante quando o assunto é percussão pernambucana – ao mesmo tempo em que divide palcos mundo afora com grandes nomes da música ainda é um artista pouco desbravado no seu próprio País. “Minha música não toca nas rádios. E por isso, cada apresentação minha é uma descoberta para os brasileiros”.
Ele começou a carreira cedo. Aos 12 anos, Naná já tocava bongô e maracás nos bailes de Carnaval. Nos anos 1960, enquanto muitos bateristas brasileiros estavam imersos no contexto bossa nova, o pernambucano descobriu no berimbau os ritmos da sua música. Em 1967, no Teatro Popular do Nordeste, Naná Vasconcelos, Geraldo Azevedo, Teca Calazans e Edivaldo Souza enveredavam pelo teatro musicado, febre lançada por Augusto Boal e seu grupo Opinião, no Rio de Janeiro.
Preservar a cultura negra para ele não basta. É preciso ter a consciência de ser negro, e essa consciência depende da educação. “É preciso se educar, ler, se intelectualizar. Na Bahia, os negros, de certa forma, leem mais os dialetos africanos, sabem o iorubá. Virgínia Rodrigues, por exemplo, canta em iorubá e jeje e traduz. Os negros da Bahia, os jovens que fazem música, são assim. Aqui eu não vejo muito essa preocupação, essa autoestima de ser negro. Na Bahia, negro não nasce, estreia. O mesmo acontece na história dos EUA, que os negros buscaram se intelectualizar.”