POLÊMICA

O funk entra na academia e sofre com o preconceito

Projeto de mestrado de estudante carioca foi questionado por que trata do ritmo carioca, que ainda é estigmatizado pela sociedade

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 25/04/2013 às 5:40
Mauro Pimentel/Divulgação
Projeto de mestrado de estudante carioca foi questionado por que trata do ritmo carioca, que ainda é estigmatizado pela sociedade - FOTO: Mauro Pimentel/Divulgação
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Talvez a história do ritmo musical ajude a mostrar porque ele enfrentou preconceitos. Suas raízes estão na periferia carioca, onde é parte da vida da população, mas a classe média ainda se recusa a legitimizá-lo. Tratá-lo como manifestação cultural já foi quase um ultraje para defensores do bom gosto – ainda que alguns artistas e críticos consagrados já ousassem se apropriar dele.

Bem, essa história poderia ser a do funk carioca, mas é também – com suas especificidades, claro – a história do samba antes da sua aceitação generalizada no século passado. Quando a resistência aos ritmos musicais criados na periferia parecia superada, ela voltou novamente contra o funk, o "som de preto / de favelado".

A discussão sobre o tema começou quando um portal da web noticiou que a estudante carioca Mariana Gomes havia sido aprovada para o mestrado da Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), com um trabalho sobre cantoras de funk, com destaque para Valesca Popozuda. No projeto, ela se propõe a estudar o estigma cultural do ritmo e também o feminismo das letras do funk.

A matéria repercutiu e chegou até a apresentadora do SBT Brasil, Rachel Sheherazade. Em um comentário, ela criticou esse reconhecimento do funk como cultura e também a proposta da mestranda de ver como o ritmo tematiza o feminismo. O discurso gerou nova reações – incluindo uma carta-resposta de Mariana Gomes. Rafucko, criador de vídeos humorísticos (e politizados) na web, também ironizou a apresentadora, inventando uma irmã gêmea (uma “gêmea boa”) de Sheherazade.

“A repercussão foi um susto, não imaginava que receberia esse destaque”, comenta Mariana ao JC. Ela conta que na UFF nunca enfrentou resistência por falar do funk. “É um preconceito direcionado a quem produz o funk, a quem ouve e a quem dança. Quando a gente consegue questionar isso, começa a tentar mudar esse jogo”, defende.

Outra figura central da discussão, Valesca Popozuda,acha que só houve essa reação porque se tratava do funk, ainda que a rejeição ao ritmo tenha diminuído. “É um preconceito menor hoje em dia. Eu não recebo essas críticas diretamente, mas elas existem”, conta.

Leia mais no Jornal do Commercio desta quinta (25/4)

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