Reza a lenda no campo da música que paira no ar um fantasma da dificuldade quando um artista lança o segundo disco – ainda mais quando o primeiro foi bem elogiado pelo público e pela crítica. Para o grupo paulista Bixiga 70, entretanto, lenda só se for africana. Mais precisamente nigerianas, terra de Fela Kuti, influência cultural de que o Bixiga soube muito bem se apropriar.
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Dois anos após o lançamento de Bixiga 70 (2011), os 10 músicos da banda voltaram com Bixiga 70 (2013). Segundo o baterista Décio 7, a escolha de não nomear os álbuns advém do fato de o grupo ainda estar em um processo de descoberta musical. “Não achamos que chegamos a um nível de nosso trabalho que podemos titular os discos. Ainda estamos em caminhada”, explica.
Mais abrangente em questões de referências rítmicas e mais ousado, Bixiga 70 (2013) chega com seu afrobeat de sempre. Mas desta vez acompanhado de carimbó, balanço latino e uma pegada maior de batidas afro-brasileiras.
“O Bixiga é um laboratório, um centro de pesquisa avançado em música. Somos 10 malucos que chegam com influências diferentes, desde o reggae dub até o rap, passando por Moacir Santos”, acrescenta o baterista.
Gravado “ao vivão” no próprio estúdio – assim como o mestre Fela Kuti fazia em sua República Kalakuta, em Lagos –, o registro sonoro de Bixiga 70 é concebido quase que de forma ritualística para que a emoção e a alma da música seja transmitida ao ouvinte. A faixa que abre o disco, Deixa a gira girá (domínio público) é a única não autoral da banda. Kalimba vem para mostrar o carimbó marcante do Norte do Brasil. “Nossa pesquisa está sempre apoiado para o lado de dentro, mas do que fora”, ressalta Décio.
Vêm ainda as faixas que mais se destacam: Esquinas, Tigre, Retirantes e a canção que fecha o disco, Isa, com seu canto lamentoso. A esperança, ao fim das nove envolventes faixas, é que venha uma terceira cria da família Bixiga 70.