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Bandas brasileiras dão continuidade ao legado deixado pelo pai do afrobeat, Fela Kuti

Falecido há 16 anos, nigeriano continua influenciando grupos como Abayomy Afrobeat Orquestra, Iconili e Bixiga 70

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 26/10/2013 às 7:00
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Falecido há 16 anos, nigeriano continua influenciando grupos como Abayomy Afrobeat Orquestra, Iconili e Bixiga 70 - FOTO: Foto: Reprodução/Internet
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Em maio de 2011, Criolo lançava seu aclamado disco Nó na orelha. O álbum é um amálgama de diversos ritmos que formam um complemento para o rap: reggae, samba e afrobeat. Na faixa Mariô, o cantor e compositor declama: “Atitudes de amor devemos samplear. Mulatu Astatke e Fela Kuti escutar.” No verso, Criolo homenageia o nigeriano Fela Kuti, que morreu em decorrência de complicações da aids há 16 anos. Ao mundo, ele legou o afrobeat, uma eletrizante mistura de batidas africanas e improvisos jazzísticos.

O homem que criou um gênero, inspirou politicamente sua geração e foi casado simultaneamente com 27 mulheres, Fela continua influenciando diretamente muitos artistas contemporâneos brasileiros, em níveis musicais bem mais explícitos e diretos do que sugere a citação do rapper Criolo. No último dia 15, Fela Kuti teria completado 75 anos. Neste sábado, ele é homenageado no Recife com a festa Fela Day, que acontece a partir das 17h, na Casa do Cachorro Preto em Olinda, com apresentações de Abeokuta Afrobeat, Miguel Jorge e os DJs Vinicius Leso e Ravi Moreno.

O grupo paulistano Bixiga 70 é uma das bandas que reverbera diretamente os acordes e melodias livres e contagiantes de Fela Kuti. Os 10 instrumentistas da banda reuniram-se para formar o Bixiga há apenas três anos, por ocasião do Fela Day de São Paulo. “A vontade de formar uma orquestra já existia há muito tempo. Aí a galera foi se juntando sem nada formatado, surgiu a festa Fela e o som caminhou para isso”, explica o baterista da banda, Décio 7. 

Para o biógrafo de Fela Kuti, o cubano Carlos Moore radicado em Salvador, esse caminho sonoro deixado pelo artista leva a um destino final que vai muito além da música pela música. “O afrobeat em si é uma música rebelde, como o jazz, o reggae e tantas outras musicalidades surgidas da alma dos oprimidos”, diz.

O resultado artístico explosivo advém de um atrito ideológico constante entre Fela Kuti e o governo nigeriano. “A ofensiva do governo da Nigéria contra Fela começou quando ele voltou dos Estados Unidos totalmente politizado e decidido a desafiar o status quo (o músico passou um ano no país). Isso aconteceu em 1970 e, a partir daí, foi guerra. Essa guerra não teve mais fim, nem mesmo com a morte de Fela, em 1997.”

Um dos pioneiros no País em se apropriar da herança do nigeriano, o grupo carioca Abayomy Afrobeat Orquestra formou-se igualmente em um Fela Day, em 2009. Um dos fundadores da banda, o percussionista e vocalista pernambucano Alexandre Garnizé ressalta a ligação entre a África de Fela Kuti, o Brasil e principalmente a bandeira político-social levantada pelo músico nigeriano. “Afrobeat é o jazz africano, música e filosofia de resistência”, diz.

A Iconili, que se autodefine como “banda do Hemisfério Sul formada por 11 integrantes”, também é outro grupo contemporâneo brasileiro filho do legado de Fela Kuti. “Acredito que nenhuma escolha possa ter motivação pura. Por mais que se tome um caminho puramente estético, outras questões, como a situação social de quem escolhe e seu passado, influenciam no rumo de alguma maneira”, ressalta o saxofonista Henrique Staino. Mineira, a banda chegou a conviver por quase um mês com Oghene Kologbo, guitarrista do Africa 70, banda que acompanhava Fela Kuti. 

De Crioulo a Abayomi Afrobeat Orquestra, passando por Iconili e Bixiga 70, Fela Kuti, o homem que encabeçou um movimento, seguiu suas convicções políticas até o fim e não teve medo de enfrentar seus sentimentos amorosos ainda faz história. Salve Fela! Salve o afrobeat!

Leia matéria na íntregra na edição deste sábado (26) do Caderno C, no Jornal do Commercio.

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