A paixão do músico pernambucano Alexandre Garnizé pelo afrobeat começou quando tinha 14 anos. Morando há 12 no Rio de Janeiro, ele é um dos fundadores da big band Abayomy Afrobeat Orquestra. Garnizé se lembra ainda de como entrou em contato com a música de Fela Kuti. “Eu estava na loja de disco do Recife A modinha. Vi o álbum Mr. follow follow e comprei na hora por causa da capa. Era o desenho de um avião passando pela Nigéria.”
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Na época (final da década de 1980), Garnizé integrava uma banda de metal e depois fez parte do Faces do Subúrbio. Mas o coração falou mais alto e o percussionista deixou-se levar pelo groove do afrobeat. “Pernambuco tem essa coisa de música africana. Afinal, estamos apenas a duas horas e meia de voo do Senegal”, conta. “O que nos separa é o sotaque.” Preparando-se agora para voltar “à terrinha” para tocar com sua orquestra, o músico é bem consciente do cunho transformador da música. “É como uma arma que me salva. A Abayomi fez um show agora no Arpoador lotado e foi puramente político. Queremos levantar a bandeira do afrobeat com isso mesmo”
Lançado no ano passado, o disco de estreia da Abayomy tem título homônimo ao grupo e seis faixas – em sua grande maioria instrumentais. Os versos “hoje eu quero falar do medo/ porque eu me repeti no medo” retratam, segundo Garnizé, esse sentimento de receio de voltar à ditadura. “O Eru é isso. Ir às ruas, falar dos nossos medos, colocar para fora.” Os batuques sedutores, os explosivos metais e os cantos afinados ressaltam o significado da palavra Abayomy: encontro feliz.