Luto

David Bowie, músico camaleônico e experimentador incansável

Através dos personagens como Ziggy Stardust, Aladdin Sane ou Thin White Duke, Bowie influenciou várias gerações de artistas

Da AFP
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Publicado em 11/01/2016 às 8:16
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O lendário músico David Bowie, morto no domingo vítima de um câncer aos 69 anos, soube unir música popular e experimentação para se alçar como um dos astros do pop mais importantes de todos os tempos. Verdadeiro artista camaleônico, havia acabado de lançar o 25º álbum de estúdio de sua carreira, "Blackstar", que saiu à venda no dia 8 de janeiro, sexta-feira, coincidindo com seu 69º aniversário.

O cantor e compositor, que modelou sua carreira em sucessivas reencarnações, através dos personagens como Ziggy Stardust, Aladdin Sane ou Thin White Duke, era um intérprete visionário que influenciou várias gerações de artistas. Confortável tanto com Beckett e Nietzsche quanto com seus amigos Lou Reed ou Iggy Pop, passou a vida experimentando diversos gêneros musicais, com frequentes incursões no mundo do cinema, do teatro, da moda ou da pintura.

Os mais de 140 milhões de discos vendidos, a influência exercida sobre colegas de profissão como Lady Gaga, Placebo ou Blur, ou ainda o milhão de visitantes que foram a sua exposição itinerante, "David Bowie Is", lançada em 2013 em Londres, confirmam o alcance de seu sucesso. 

O homem das mil faces

David Robert Jones nasceu em 8 de janeiro de 1947 no seio de uma família humilde de Brixton, um bairro popular do sul de Londres. Uma briga aos 16 anos deixou a pupila de seu olho permanentemente dilatada, conferindo a ele o estranho olhar que se converteu em uma de suas marcas.

Foi neste momento em que deixou os estudos e iniciou sua carreira musical. Seu primeiro sucesso chegou em 1969 com "Space Oddity", uma mítica balada sobre a história de Major Tom, um astronauta que se perde no espaço. Paralelamente, fez cursos de mímica que, junto ao seu gosto pela moda ou pelo teatro kabuki, o ajudariam a se transformar no homem das mil faces.

A partir de 1972 iniciou sua série de personagens: primeiro Ziggy Stardust, o astro andrógino que lançou seu período glam rock, e depois personagens de loucura decadente, do nazista cínico ao rebelde. Por trás destas máscaras, David provocava, multiplicava as declarações contraditórias, especialmente sobre sua orientação sexual, alimentava crônicas mundanas, gravava discos sem igual, irritava e fascinava ao mesmo tempo.

A ambivalência sexual é um dos temas recorrentes de suas canções, junto ao medo e à alienação, com um modo de vida autodestrutivo como pano de fundo. Em 1975 fez sua primeira incursão no mercado americano com "Fame", uma música coescrita com John Lennon que chegou ao número 1 das listas de sucessos, assim como o álbum "Young Americans".

O cantor se mudou aos Estados Unidos com sua esposa Angie e um ano depois a Berlim Ocidental com seu filho Zowie, deixando para trás uma vida marcada pela cocaína. De 1976 a 1979, durante sua época em Berlim, produziria junto a Brian Eno uma trilogia (Low, Heroes e Lodger) que abriu caminho para novas correntes musicais, como o  post-punk e a cold wave.

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Seu álbum "Let's dance", em 1983, conquistou um público mais jovem nas pistas de dança, mas a partir de 1988, seu período hard-rock com o grupo Tin Machine, recebeu uma acolhida bastante morna. No cinema, Bowie atuou em "Furyo, Em Nome da Honra", de Nagisa Oshima, "Fome de Viver", de Tony Scott, ou "A última tentação de Cristo", de Martin Scorsese. Em 1992 se casou com a modelo somali Iman, com quem teve uma filha, Alexandria.

Depois Bowie retomou sua carreira solo e em 1999 lançou seu álbum "Hours" na internet, autorizando o download através de pagamento. Até o início dos anos 2000 encadeou discos e turnês, mas um acidente cardiovascular em julho de 2004 no palco de um festival alemão acabou com esta fase. 

Forçado a um longo repouso, suas aparições passaram a ser raras, com apenas algumas atuações estelares junto ao The Arcade Fire, Alicia Keys ou ao ex-guitarrista do Pink Floyd David Gilmour. Quando cresciam os rumores alarmantes sobre seu estado de saúde, em 2013 surpreendeu com um álbum cheio de vida, "The Next Day". "Aqui estou, não precisamente morrendo", lançou, raivoso, referindo-se à letra que dava nome ao disco.

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