FESTA

Dia da Música ocupou a cidade com maratona de shows

Recife Antigo ganhou movimento com o deslamento do público entre um polo e outro; after no Capibar encerrou a festa com chave de ouro

GGabriel Albuquerque
Cadastrado por
GGabriel Albuquerque
Publicado em 20/06/2016 às 9:27
Foto: Diego Albuquerque/ Divulgação
Recife Antigo ganhou movimento com o deslamento do público entre um polo e outro; after no Capibar encerrou a festa com chave de ouro - FOTO: Foto: Diego Albuquerque/ Divulgação
Leitura:

O festival francês Dia da Música (DDM - Fête de La Musique) chegou à sua segunda edição brasileira no último sábado (18). Se no primeiro momento, em 2015, o evento teve impacto mais concentrado no Sudeste do País, desta vez o alcance foi nacional, com palcos de Manaus até Porto Alegre e adesão espontânea de 4 mil bandas. “Descentralizar é muito interessante porque é importante para os artistas se firmarem nas suas cenas locais. Isso é determinante para formação de plateia”, declarou a organizadora nacional, Katia Abreu em entrevista à Revista Noize.

Ano passado, o Recife teve apenas um palco, no Estelita. Neste sábado foram cinco, sendo quatro deles no Centro da cidade. Somou-se a isso o evento Contra o Golpe com Punk e Hardcore, que reuniu um bom público na Ocupa MinC PE com shows de Rabujos, Subversivos, Eu o Declaro Meu Inimigo, entre outros. Foi gerado um fluxo diversificado de arte e cultura, com as pessoas se movimentado entre diversas atrações, no período da tarde até altas horas da madrugada.

O advogado, artista visual e músico Shilton Roque veio de Natal(RN) para acompanhar os shows e participar da oficina de zine e publicação independente do Festival Uivo, na Torre Malakoff. “Achei boa a proposta da oficina junto com os shows, o entretenimento e a atividade, porque isso pode gerar mais produção de cultura e ampliar as possibilidades. É uma forma de dar continuidade ao processo da arte”, elogia.

Em suma, a concentração de tantas atrações – 39 diferentes nomes – num polo turístico da cidade mostrou que a música do Recife, do Nordeste e do Brasil é uma pulsão constante. Existe um cardápio para todos os gostos, do pop rock da Coxas D’Amélia e Chãocéu ao rap do Sem Peneira Pra Suco Sujo, passando som instrumental da Astronauta Marinho, o indie da Bad Rec Project e o Zeca Viana.

Por volta das 23h, o Capibar recebeu o “after” que encerrou o DDM. Com cerca de 150 pessoas na plateia, a pernambucana Namöa fez sua estreia nos palcos em um show contagiante que incluiu, entre suas músicas autorais, um cover de Only Shallow, do My Bloody Valentine. O mineiro Fábio de Carvalho causou um estranho fascínio com suas composições pessoais em spoken word – “dentro de qual caixão será que vou apodrecer”, dizia o verso de sua última música. Na sequência, a Kalouv fez uma de suas melhores performances, para fechar a noite com chave de ouro.

Este palco no Capibar foi o segundo evento da produtora Trama, criada por Letícia Tomás e Hannah Carvalho, que organizaram também o Bichano Fest, em fevereiro. “É uma oportunidade maravilhosa que nos foi cedida pelo DDM. É uma iniciativa que nos dá a liberdade de fazer um evento de porte, com as bandas que queremos, mesmo sendo uma produtora que está começando”, diz Hannah, que traz para o Recife show da banda cearense Máquinas no dia 16 de julho.

"A MALAKOFF PEDE SOCORRO"

uivo

Uivo, na Torre Malakoff, foi um dos melhores palcos, mas espaço sofre com problemas estruturais.
Foto: Ashley Mello/ JC Imagem


O Festival Uivo, organizado pelo blog Hominis Canidae, foi o palco com a programação mais plural e com curadoria mais bem planejada do DDM. Realizado na Torre Malakoff, sofreu, porém, com problemas estruturais do espaço.

“O pessoal da Malakoff foi muito receptivo, mas a estrutura aqui está bem ruim”, conta o produtor Diego Albuquerque. “Essa semana roubaram a bomba d’água e agora não tem água nos banheiros. Fui lavar a mão depois de carregar um monte de caixa de som e não tinha água. Tive que pegar a água do gelo e botar num copo para poder lavar. Precisamos botar um gerador de energia para o palco. Não tem luz na rua, nós tivemos que botar uns holofotes voltados para fora. Teve um curto circuito e um monte de tomada está sem funcionar. E até problema de segurança do patrimônio. Nos falaram para não deixar o som montado logo, um dia antes, porque estão roubando até pedaço de toldo! Então, a Torre tá pedindo socorro mesmo”, afirma.

Diego salienta ainda que “a coordenação, os funcionários, todos foram muito solícitos. É um pessoal que está muito aberto a receber qualquer evento, mas a Torre está meio jogada às traças. E isso triste porque a Malakoff é um espaço muito importante para a cidade”, lamenta.

UM ANO DE ROCK NA CALÇADA

O projeto Rock na Calçada completou no Dia da Música um ano de atividades. Idealizado pelo produtor Du Lopes, o evento leva artistas da nova cena musical de Pernambuco para apresentações gratuitas, nas ruas do Bairro do Recife. No sábado, sua programação contava com Juvenil Silva, Zeca Viana, Verdes & Valterianos, Serrapilheira, Autores do Regresso, Diablo Angel, entre outros, totalizando dez bandas.

“O projeto já teve 11 edições, recebendo tanto bandas do Recife como do interior. A ideia nasceu dessa necessidade de dar um empurrão, de dar visibilidade a uma nova geração da música de Pernambuco e de trazer as pessoas para junto. O nome rock não é o do gênero musical, mas sim da gíria ‘rockear’, curtir. Queremos reunir todas as tribos e todas as ideias”, explica Du Lopes.

Ele destaca também a importância de um evento nacional do porte do Dia da Música para a cultura local. “Isso aqui representa uma possibilidade de mostrar que a nossa cena é latente. O DDM consegue ter essa percepção de que muita coisa pode ser feita quando se dá abertura aos músicos, tanto em nível artístico quanto em movimentação do mercado”, diz. “Mas eu tenho que fazer um adendo: é uma pena nós estarmos vivendo com essa gestão cultural de camarote, higienista, sem atenção para a cena independente”, critica.

No palco, a caruaruense Diablo Angel mostrou o stoner rock encorpado de Fuzzled Mind, seu ótimo álbum de estreia recém-lançado. A Verdes & Valterianos, seja como banda de apoio de Zeca Viana ou como banda solo, mostrou novamente a sua força e energia de palco com as músicas do EP The Same People With The Same Face, lançado em abril.

Depois de um tempo tocando solo ou em projetos como o show Gal 70, da Dunas do Barato, Juvenil Silva reuniu sua banda para fazer o último show dos discos Desapego e Super Qualquer no Meio de Lugar Nenhum. “Voltaremos só depois com a carga total do novo disco e novos ares coracionais”, antecipa.

Últimas notícias