MM3 é a continuidade de uma encruzilhada que o Metá Metá iniciou em MetaL MetaL (2013), seu segundo álbum. Naquele momento, o trio dava fôlego a uma massa sonora densa e caótica. Foi o momento de intensificação do encontro de trajetórias distintas. Combinava-se o samba e free jazz de Thiago França (que vinha da banda Marginals), a polifonia cortante dos riffs de Kiko Dinucci (do Passo Torto; versado tanto em punk quanto em samba) e a voz em transe de Juçara Marçal (do grupo vocal Vésper e d’A Barca, banda que pesquisa música tradicional ou folclórica desde 1998).
Na sequência, os músicos seguiram explorando abordagens radicais. Juçara, por exemplo, imergiu em experimentações com improvisos em Abismu (com Dinucci e Thomas Harres) e camadas de ruídos sintéticos em Anganga (com Cadu Tenório). O acúmulo de experiências desse tipo já ressoaram em Me Perco Nesse Tempo, versão de uma música da banda pós-punk paulistana Mercenárias, incluido em EP (2015). Porém, MM3 é sua efervescência por completo.
A banda cria canções rápidas, cruas, angulares, de ritmo urgente e, acima de tudo, inquietantes. O belo transfigura-se em formas distorcidas e afiadas. Imagem do Amor é o desconsolo do parto de um criança que nasce morta. “Consternação no semblante servil da parteira, a criança na mão/ Uma beleza disforme, sem rosto, sem nome, sem moderação”, canta Juçara com lamentos e gritos desesperados, sufocados por ataques nervosos de sax e bateria.
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O disco foi gravado ao vivo e em apenas três dias. O processo configura o sabor áspero e evidencia a simbiose do conjunto. Em quinteto, com os amigos Sérgio Machado (bateria) e Marcelo Cabral (baixo), o Metá Metá, mais do que nunca, é um organismo múltiplo com vida própria. E está em posição de ataque: recriando o formato canção, ateando fogo nos engessamentos da música brasileira, inventando mundos possíveis. Como nos versos de Corpo Vão, “Vai engolir o mundo. E regurgitar”.