Sofia Freire borda a própria pele com Romã

Sofia Freire lança, hoje, o intimista Romã, seu segundo disco, com tem como foco narrativo o universo feminino
Bruno Albertim
Publicado em 24/10/2017 às 5:58
Sofia Freire lança, hoje, o intimista Romã, seu segundo disco, com tem como foco narrativo o universo feminino Foto: Felipe Jordão / JC IMAGEM


Aos 15 anos, com uma avançada formação erudita em andamento, a cantora pernambucana Sofia Freire usou as poesias do pai, Wilson Freire, e da irmã, Clarice Freire, para fazer música ao piano - base de seu primeiro disco, lançado quando ela completou 18. Agora, aos 20, o piano segue como espinha dorsal de sua musicalidade. Uma música, contudo, com tantas camadas em torno da coluna mestra que seria difícil classicá-la numa única gaveta. “Não tenho a mínima ideia de como definir a música que eu faço”, brincava, quarta à tarde, a cantora e compositora durante uma audição para convidados de Romã. Com produção da Fina Produção (de Melina Hickson) e Joinha Recordes (de China, Homero Basílio e Chiquinho Moreira), o segundo disco de Sofia é lançado, nesta quinta, pelo Natura Musical, o selo da empresa de cosméticos que, no vácuo da indústria tradicional e de editais oficiais, vem assumindo protagonismo na viabilização da nova música brasileira.

O lançamento físico do disco só acontece com o show de estreia, dia 21 de dezembro, no Teatro de Santa Izabel. Nesta quinta, o álbum é disponibilizado nas principais plataformas digitais (Spotify, Youtube, Deezer) do País. Nada, coincidentemente, mais adequado. “Se fosse definir para um E.T., eu diria que é um disco de pop eletrônico”, simplificava, meio ansiosa e sorridente, a artista.

A simplificação, contudo, não seria mesmo eficiente. Como se filho de um encontro remoto (e nem decalcado) de Debussy com Madonna, Romã é um disco polifônico. Às escalas do piano, vão se arquitetando camadas minimalistas de loops eletrônicos tão líricos quanto os teclados que lhes dão base. Uma musicalidade intimista, sofisticada e, apesar da linha melódica muito parecida entre uma canção e outra, aderente. Perfeita encarnação do conceito de one-girl band, ela mesma grava e cola tudo, instrumentos e programações.

FEMININO

Sofia chega com uma autoridade tranquila de quem sabe o que canta: quando não estruturadas na primeira pessoa de um eu lírico deliberadamente feminino, as canções tem o feminino como objeto narrativo. Não por acaso, as nove canções são poemas musicados escritos por mulheres: Micheliny Verunschk, Clarice Freire, Mariana Teixeira, Piera Schnaider e Luna Vitrolira. “Tem a ver com meu momento, de redescoberta como mulher e de desconstrução da opressão da sociedade em torno do feminino”, diz ela, que, a despeito de as letras virem de pessoas diferentes, considera todas, em conjunto, como se autobiográficas. “As mulheres têm a capacidade de refletirem umas às outras”, ela diz.

“Confesso que não sei bordar outro tecido que não seja a minha pele...”, diz um trecho da bonita Meu Bordado, poema musicado de Micheliny Verunschky que assina mais outras três letras do disco. “Tenho mania de escrever num caderno os poemas que eu gosto. Gosto muito da poesia de Micheliny.

Ela tem uma capacidade de falar de violência e coisas duras com uma delicadeza muito grande”, explica a cantora, reforçando a contundência metafórica da fruta escolhida para batizar o disco. "A romã nasce a partir da autofecundação e em muitas culturas ao redor do mundo, ela representa o feminino. O álbum fala sobre uma mulher que faz um mergulho dentro de si, passando por um processo de renascimento da própria identidade, se libertando de amarras sociais. Aos poucos, ela percebe que é fértil e que pode gerar a própria vida”.

Assista a entrevista com Sofia Freire:

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