Há alguns meses, quando uma campanha online e despretensiosa de fãs recifenses subiu no Twitter a hashtag #AzealiaNoMolotov, a vinda da rapper americana ao Recife parecia mais uma fanfic (ficção criada por fãs) do que uma possibilidade real. Por isso, foi com um misto de surpresa e êxtase que seus admiradores receberam a confirmação do show de uma das figuras mais controversas da música contemporânea. A expectativa, portanto, era alta para a apresentação da artista no Bailito, quinta-feira (15), abrindo a 15ª edição do Coquetel Molotov. Para alegria e alívio de todos, a espera valeu a pena, com um show enérgico e catártico.
A carreira de Azealia Banks já passou por vários altos e baixos desde que ela emergiu para o grande público em 2011. Dona de uma personalidade forte e de uma retórica bélica e sarcástica, a nova-iorquina se tornou uma das figuras mais controversas da música contemporânea. Mesmo diante das várias polêmicas nas quais se envolveu, um dos públicos mais fiéis da artista, sem dúvidas, sempre foi o brasileiro. E, no Recife, suas canções continuam a embalar festas alternativas e LGTBs.
No dia anterior à sua chegada a Pernambuco, a rapper cancelou de última hora seu show em Fortaleza, alegando descumprimento do contrato por parte dos produtores cearenses, que rebateram, afirmando que houve estrelismo por parte da americana. Os fãs recifenses, não sem razão, ficaram tensos com a possibilidade do mesmo se repetir aqui. Fervorosos, alguns deles aguardaram a artista desde cedo no Aeroporto dos Guararapes e a cercaram de abraços e mimos, como uma imagem de Iemanjá. Ela adorou.
Como sempre, fez muitos stories no Instagram, foi à praia de Boa Viagem, provou paçoca e aguardente e se mostrou curiosa com o bolo de rolo. Quase uma recifense. A acolhida calorosa mais cedo pode ter contribuído para que ela chegasse com energia renovada no Bailito, entregando o show completo, ao contrário do que fez em Curitiba, que teve um setlist reduzido. Ou talvez fosse mesmo impossível ficar apática diante do vigor do público.
Quando ela subiu o setlist tocado por TransAlien, personagem criado pela artista Ana Giselle, já havia esquentado o público com hits house, techo, pop e encerrado com uma (muito bem-recebida) performance ao som de Pitty.
Azealia já entrou emendando canções como Chi Chi e Pyrex Princess, Treasure Island (um de seus lançamentos mais recentes) e Gimme a Chance. Com um top e um figurino prateado, estava acompanhada de um DJ, um baterista e duas dançarinas. Foi lacônica, mas sua presença de palco fez com que a produção simples do show parece maior.
Com fôlego invejável e flow no ponto, ela entoou junto com o público – que cantava cada palavra dos intrincados raps – Luxury e Heavy Metal and Reflective, chegando ao auge do êxtase coletivo com Anna Wintour, lançada este ano e que mescla house, hip hop e pop. A canção, inclusive, deu uma primeira mostra dos vocais poderosos de intérprete de Azealia. Ela ainda deu um presente aos fãs brasileiros ao cantar Chega de Saudade. Outro momento de destaque foi The Big Big Beat.
Durante uma breve pausa, o DJ tocou Used To Being Alone, para delírio do público, já que a canção era quase obrigatória em festas recifenses desde 2016. O famoso bamburim de sabonetes – ela tem uma marca de fabricação própria – não aconteceu, supostamente por proibição da entrada dos produtos por parte da Anvisa.
De volta à cena, ela tocou 212, seu primeiro e maior hit e não houve uma só pessoa parada no Bailito. Pulando e cantando junto, o público celebrou uma noite memorável com a diva mais controversa da atualidade – e também, como provou, uma das mais talentosas.