“No mesmo minuto que eu choro muito de tristeza/ Do nada eu começo a rir/ Pareço doida/ Mas parece a alma e o espírito sendo manifestados ao mesmo tempo, sabe?”: Este trecho de um desabafo pessoal de Priscilla Alcântara está na faixa 188 – o mesmo número do telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV) – que abre o bundle O Final da História de Linda Bagunça (Sony Music, 2019), lançado no final de setembro, nas plataformas digitais. Com este novo trabalho de três faixas, a cantora e pastora quer chamar atenção do público para um assunto que é tabu dentro e fora das igrejas: a saúde mental.
O projeto audiovisual traz três faixas. Além de 188, as autorais Linda Bagunça e O Final da História fecham o ciclo que ela iniciou ano passado com o impactante disco Gente (Sony Music, 2018), que fez sucesso dentro e fora do universo gospel. “O álbum Gente tem muito significado. Acho que ele foi muito maior que só um passo profissional meu. Ele significou a quebra de muitos tabus, representou a esperança para muita gente, se tornou a trilha sonora da vida de muitas pessoas, teve realmente um impacto na indústria, tanto de forma pessoal quanto profissional. É um projeto muito pesado em significado, e fiquei feliz desde o lançamento pelo feedback do público”, conta Priscilla por telefone, em entrevista para o JC.
A prova maior de seu acerto está com a indicação de Gente para o Grammy Latino 2019 como o Melhor Álbum de Música Cristã em Língua Portuguesa. “Eu não esperava, mas fiquei muito feliz com minha primeira indicação ter sido com esse álbum, por conta de tudo o que ele representa. Acho que respalda tudo aquilo que o álbum é enquanto projeto, e tudo aquilo que ele significou de todas as formas. Foi o melhor jeito de concluir”, declara a cantora e pastora paulista de 23 anos.
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CRISE
Voltando ao Final da História de Linda Bagunça, Priscilla Alcântara foca na saúde mental através das letras e dos dois videoclipes por considerar um assunto muito velado, principalmente no meio evangélico. “Para mim, a questão da saúde mental é um tabu em toda a sociedade, mas dentro do meio religioso é pior ainda porque se torna mais ‘místico’, porque as pessoas tendem a espiritualizar tudo e colocar tudo no mesmo saco. Então eu precisei realmente primeiro viver para conseguir me apropriar do assunto”, revela a artista, que teve um ataque de ansiedade no ano passado que a levou à depressão.
“Para sair dessa crise eu precisei achar um equilíbrio entre a minha razão, a minha emoção e a minha fé. Eu falo que o equilíbrio, e a junção destes três fatores, foi o que me sustentou e fez superar a situação difícil que eu passei. E é isso que eu ensino na música Final da História”, declara. As faixas do bundle tem a produção musical de Johnny Essi, o mesmo que assinou o disco Gente.
Para Priscilla AlcÂntara, O Final da História de Linda Bagunça não chega como uma cura para a depressão, mas sim como força para levantar sempre que cair. “É muito bom poder superar fases, mas vou usar essa superação não para dizer que momentos ruins nunca vão chegar outra vez, mas para acreditar que, quando o momento ruim chegar outra vez, eu poderei superar de novo, porque já superei uma vez. Não é sobre idealizar uma vida perfeita, mas sobre aprender a sobreviver, muitas vezes, no meio da adversidade. A Bíblia me ensinou muito isso, Jesus me ensinou muito isso”, ressalta.
Além de encerrar o ciclo iniciado em Gente com este bundle, Priscilla também se prepara para o seu novo álbum de inéditas, previsto para início de 2020: “Está tudo se encaminhando bem. Quero terminar de gravar ainda este ano e será algo completamente diferente. Uma outra temática, um outro conceito. Mas o que posso adiantar é que trabalho em cima de crítica e conscientização sobre um tema pertinente à sociedade”.
Se muitos falam hoje em dia que Priscilla Alcântara é gospel demais para ser pop, e pop demais para ser gospel, a cantora e pastora sabe que está mesmo é no caminho certo. “Fico feliz porque eu já alcancei muita coisa, mas tem muito mais. O meu objetivo é realmente derrubar todo e qualquer muro que afaste a minha mensagem das pessoas”, conclui.