Repreensão

Cannibal denuncia censura da PM em show após música de Chico Science

Em entrevista à Radio Jornal, vocalista da Devotos contou detalhes da ação no Polo da Várzea após apresentarem a canção 'Banditismo Por Uma Questão de Classe'

Robson Gomes Robson Gomes
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Robson Gomes
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Publicado em 27/02/2020 às 15:55
Foto: Aline Sales/Divulgação
Em entrevista à Radio Jornal, vocalista da Devotos contou detalhes da ação no Polo da Várzea após apresentarem a canção 'Banditismo Por Uma Questão de Classe' - FOTO: Foto: Aline Sales/Divulgação
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O vocalista da Devotos, Cannibal, concedeu uma entrevista nesta quinta-feira (27) ao Rádio Livre, da Rádio Jornal, falando sobre a ação de censura da Polícia Militar durante a apresentação da banda no Polo da Várzea na noite do último domingo (23) após eles interpretarem a canção Banditismo Por Uma Questão de Classe, de Chico Science & Nação Zumbi. Segundo o artista, eles foram avisados que "se cantassem mais uma música falando mal da polícia, o show seria interrompido".

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"A gente tinha cantado essa música de Chico Science e outra nossa chamada De Andada, quando o nosso roadie chegou a nós e disse que a polícia estava atrás do palco e falou para a produção que se cantássemos outra música falando mal da polícia, eles acabavam o show", disse ele à jornalista Anne Barreto.

O trecho "polêmico" desta canção de Chico Science & Nação Zumbi, que está no disco Da Lama Ao Caos, de 1994, diz: "Em cada morro uma história diferente / Que a polícia mata gente inocente". (Ouça a música na íntegra logo abaixo)

Cannibal contou na entrevista que foi a primeira vez que ele passou por esse tipo de repreensão e que tocam essa música há muito tempo. "Tem um vídeo que colocamos no nosso Instagram semanas atrás cantando essa música no FIG de 2002 e nunca tivemos problemas com isso. Foi a primeira vez que ameaçaram parar o show por causa de uma música, de uma letra. É preocupante", completou o músico.

O vocalista da Devotos ressaltou que ação da PM foi verbal e não teve nenhum tipo de violência. "Até tem algumas matérias dizendo de que a gente foi preso, fake news que as pessoas colocam. E eu já estou explicando dizendo que não houve truculência física. Ninguém nem chegou perto da gente, ninguém foi atrás da gente no camarim ostensivamente. Foi uma prisão mental mesmo", esclareceu Cannibal.

O artista aproveitou para se dizer preocupado com a censura nas artes e a propagação de notícias falsas para o público. "A Devotos é uma banda que tem letras totalmente sociais. Nós mudamos o quadro social da nossa comunidade por causa das nossas letras. As pessoas só falavam mal da comunidade até começarmos a cantar e espalhar as coisas boas que tem no Alto José do Pinho. Nós saímos das páginas policiais para as páginas culturais. Isso foi uma positividade muito grande. E às vezes você se impor e falar do que está acontecendo, algumas pessoas não gostam. E foi isso que aconteceu no show da gente", declara.

"Isso [a censura] causa uma certa preocupação porque chegou na Cultura, chegou na música, vai chegar nas artes plásticas, no teatro, em todo o canto, como foi na época da ditadura. E ninguém quer que volte uma época dessa. Nós precisamos de expressão, de liberdade, para poder reivindicar os nossos direitos", concluiu Cannibal, que reiterou que outros artistas também foram censurados como China e a banda Janete Saiu Para Beber.

Em nota ao blog Ronda JC, a Polícia Militar não falou diretamente da repreensão no show de Devotos, mas disse que agiu em alguns polos apenas para organizar o "estouro de tempo em alguns desfiles" e que "não houve qualquer proibição de nenhuma música". Leia a nota na íntegra:

"Não houve qualquer tipo de proibição à exibição de nenhuma música durante o Carnaval ou em qualquer época do ano. O efetivo somente orienta a suspensão de blocos que tenham estourado o tempo previsto para o desfile, por causa do planejamento operacional, que provoca o recolhimento da tropa após a dispersão dos foliões. Deixar que a festa prossiga sem a presença de policiais colocaria em risco a segurança de todos. Os organizadores das agremiações que acreditem ter havido algum abuso deve procurar o Batalhão responsável ou mesmo a Corregedoria Geral, para formalizar uma queixa e possibilitar uma detalhada apuração de todos os fatos".

OUÇA A ENTREVISTA DE CANNIBAL NA ÍNTEGRA:

OUÇA A MÚSICA 'BANDITISMO POR UMA QUESTÃO DE CLASSE':

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