Djavan em disco autoral como se fosse um recomeço

Cantor não gravava composições próprias há quatro anos
JOSÉ TELES
Publicado em 25/09/2012 às 6:00


Foram quatro anos desde o último disco autoral, e dois desde o último De lançado. Em Ária, de 2010, Djavan resolveu ser apenas intérprete, pela primeira vez em disco: “Dei um descanso ao compositor, faço música desde criança. Eu não sabia o que era não poder compor, abdicando do ofício em função de uma coisa que não tinha feito ainda”, comenta o cantor alagoano, o período ocupado com o trabalho de intérprete. De certa forma foi uma volta a um a capítulo remoto de sua carreira, quando foi crooner em casa noturnas do Rio, de onde saiu para gravar na Som Livre, em meados dos anos 70.
Rua do amores (Universal/Luanda) é uma retomada que soa também como recomeço, não apenas nas 13 faixas do álbum, todas produzidas e arranjadas por Djavan, mas pela retrospectiva da carreira que ele faz na colagem de fotos no encarte, com as mais diversas fases de sua: de criança em Alagoas e aos dreadlocks da época de Samurai, em 1982 (que teve participação de Stevie Wonder). Diferentemente do que acontece com grande parte dos compositores, Djavan diz que não faz música para guardar, só compõe o que precisa: “Pra chegar a este disco parti do zero. Todas as canções são recentes. Comecei em setembro o ano passado, e saíram cinco músicas. No estúdio saíram mais cinco. O trabalho inteiro durou de novembro a julho”, contabiliza.
Djavan que se esforçou para não compor enquanto trabalha Ária. Naturalmente, acometeu-lhe o temor de voltar a procurar musa e ela não se encontrar no mesmo lugar: “Isto certamente me preocupou. Mas também deu para sentir o quanto o desafio me move. Eu me lanço pleno, vou fundo. na hora certa as músicas vieram”.
Neste recomeço está até voltar a tocar, 15 anos depois, com sua antiga banda: Marcelo Mariano (baixo), Marcelo Martins (sax tenor), Paulo Calasans (teclado), Jessé Sadoc(trompete) e Carlos Bala (bateria): “Reouvi um disco dos anos 80 e deu vontade de tocar com eles novamente. Não houve nenhum problema comigo e a banda. Foi um simplesmente de a fila anda. Estava há muito tempo com a mesma banda, e quis conhecer outras sonoridades”. Sem dúvidas, a banda acentua o clima de recomeço. Quem ouve Rua dos amores coeçando pela primeira faixa, pode pensar que já a escutou antes. Já não somos dois antes é um canção tipicamente Djavan. A levada sincopada, um pop e jazz, aqui com um piano emoldurando a melodia. Os versos, a sonoridade parece importar mais do que o significado: “Águas que atravessei/um par dividido ao meio/um poço de drama, cheio/na vau da eternidade/num canto da solidão/semente nativa/germina bem à vontade”.
DISCO
Interpretar canções de autores tão diferentes quanto Cartola ou Caetano Veloso para ele acabou sendo inspiração para as novas canções. Não apenas pelo repertório do disco, mas pelo quantidade de músicas que escutou até chegar às que gravaria. Um bom exemplo é Acertos de contas, um samba de Rua dos amores que, segundo ele, veio de Disfarça e chora, de Cartola, uma das faixas e Ária. Ao mesmo tempo lembra muito o Djavan do primeiro disco, com sua melodia entrecortada por outra melodia, a mudança no andamento. Djavan é um dos autores que tem um estilo tão próprio, refinado a cada disco, que não raro é tido como repetitivo.
Rua dos amores vai variando de gêneros. Saltando da balada sofisticada, Bangalô, para seguir num samba funkeado, Pecado. Bangalô foi a escolhida para single, a primeira a tocar no rádio, embora ele preferisse algo mais balançado. A turnê do disco começa possivelmente em novembro.

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