Homenagem de Maria Rita a Elis Regina sai em DVD

Cantora enfrentou o desafio de encarar interpretações denifitivas
JOSÉ TELES
Publicado em 03/12/2012 às 6:00


 

Maria Rita, por mais luz própria que tenha sua carreira, nunca deixará de sofrer comparações com Elis Regina. O show em que ela homenageou a mãe, com um repertório inteiramente pinçado da consistente obra de Elis, foi como se quisesse antecipar um trabalho que, mais cedo ou mais tarde, estava fadada a realizar.

Depois, é como se ela desafiasse, de uma vez por todas, os que teimam e compará-la a Elis Regina, considerada, quase que unanimemente, a maior cantora popular da história da música popular brasileira. No show ela se reafirma como uma das vozes destacadas da MPB atual, e não como um êmulo de uma artista que marcou definitivamente o canto popular do país.

Não se pode driblar DNA. A aparência, a voz são de Maria Rita, inegavelmente, assemelham-se a de Elis Regina. Desde o disco de estreia mostrou uma força rara, num cenário cada vez mais dominado por vozes banais, gravando banalidades circunstanciais. Maria Rita insiste em afirmar que os novos compositores que tem interpretado são de igual qualidade aos que sua mãe gravou (muitos dos quais descobriu) ao longo de duas décadas.

O DVD e CD (álbum duplo), Redescobrir (Universal Music) contraria sua asserção. Elis Regina foi uma cantora única, de voz privilegiada, que viveu uma época única, e de criatividade privilegiada. Tom Jobim, Edu Lobo, Milton Nascimento, Gilberto Gil, João Bosco/Aldir Blanc, Gonzaga Jr. Ivan Lins, alguns dos compositores que ilustram a obra de Elis.

Comparando interpretações, Maria Rita, embora grande cantora, não é páreo para a mãe. O que não a desmerece. Nenhuma das contemporâneas de Elis foi. Gal, Bethânia, Nana, e vozes menos populares, mas excelentes, como Leny Andrade, não são dotadas de uma combinação tão perfeita de técnica e emoção quanto Elis Regina.

Redescobrir foi um grande show. O registro em DVD é um ótimo momento da música popular brasileira moderna. Em algumas canções, a filha chega bem próxima à mãe, feito, caso, por exemplo, de Como nossos pais (Belchior). Infelizmente, para Maria Rita, os tempos são outros. Pelo nível da concorrência, em cada show, Elis e as contemporâneas procuravam não apenas superar uma às outras, como também a si mesmas em relação ao espetáculo, ou disco, anterior.

Inicialmente seriam apenas cinco apresentações para o projeto Nivea Viva Elis. O interesse que despertou fez com que o espetáculo virasse turnê nacional. Com uma banda formada por Tiago Costa (piano e teclado), Sylvinho Mazzucca (baixo acústico e elétrico), Davi Moraes (guitarra) e Cuca Teixeira (bateria), Maria Rita desfia 29 canções. Boa parte com interpretações definitivas de Elis Regina, especialista em tornar sua a música que cantasse.

O bêbado e o equilibrista (João Bosco/Aldir Blanc), um dos hinos da redemocratização é uma destas desapropriadas pela mãe de Maria Rita. E a interpretação que ela faz deste samba não é para competir, é apenas para homenagear mesmo. 

Uma das faixas em que Maria Rita canta com se competisse mesmo é em Como nosso pais, um dos grandes momentos da última fase de Elis. A fila solta a voz, num arranjo diferente, mais jazzificado, e dá um banho de interpretação. Fãs ortodoxos de Elis Regina consideram um sacrilégio que se cante algumas das canções que marcaram a carreira da cantora. Mas devem ter na cabeça tem luz própria, e já provou isto desde o disco de estreia. 


 

 

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