Formada há dois anos, Renato Bandeira & Som de Madeira tem hoje uma das raras oportunidades de se exibir para um grande público. O quarteto tem quatro dos mais talentosos músicos da cena instrumental pernambucana. O guitarrista Renato Bandeira, o baterista Augusto Silva e o contrabaixista Helio Silva integram a Spokfrevo Orquestra, enquanto Julio César é destaque na nova geração de acordeonistas do Estado.
Embora os músicos sejam veteranos, menos pela idade, mais pelo tempo de estrada (Renato tem 40 anos, 30 de música), o grupo deu os primeiros passos em 2013. Dois anos depois, gravou no Estúdio Muzika, em Casa Amarela, o primeiro DVD (e CD), De Ponta Cabeça. O pouco espaço para a música instrumental e as outras ocupações dos quatro dificultaram uma maior divulgação do trabalho: “Música instrumental demora a pegar, e a gente na prática tem só dois anos, que conto a partir do tempo em que passamos a fazer apresentações, viajar como grupo. Mas posso dizer que a gente plantou uma semente que está começando a
brotar”, diz Renato Bandeira.
Por “brotar” quer dizer que o grupo começa a ser reconhecido, convidado para tocar em outros Estados, e até já levar a sua música para outros países: “A gente quer tocar na Europa, e pra isto vejo duas possibilidades: projeto na Lei Rouanet ou deixar passar o Carnaval e fazer uma turnê de primavera, esta seria por nossa conta e risco”, diz o guitarrista, que já tocou em vários continentes, como componente da orquestra do maestro Spok. Por conta dessas viagens (tocou até na China e na Índia), o baterista Augusto Silva ressalta que adquiriram muita informação, que incorporaram à música que fazem.
Ao contrário de músicos da cena pop, que geralmente tocam com músicos do mesmo segmento, os quatro integrantes do Som de Madeira são profissionais no estilo antigo. Heraldo do Monte, por exemplo, botou guitarra em gravações de alguns dos primeiros sucessos de rock brasileiro, no final dos anos 50. Renato fez muito shows com Paulo Diniz, foi da banda de Silvério Pessoa, assim como os três companheiros, trabalhou em estúdio para dezenas de artistas, dos mais variadas estilos. De forrozeiros de pé de serra a Ney Matogrosso. Todos eles têm como uma das principais referências o Mestre Camarão: “A gente não circula por esta cena pop, ou indie aqui. A minha visão dela é que tem coisas muito boas, mas os instrumentistas se preocupam mais com efeitos do que com a execução”.
De Ponta Cabeça tem uma maioria de composições de Renato Bandeira, com arranjos feitos, em grande parte, coletivamente. Xotes, baiões, frevos, choros: “Nesse disco eu meio que assumi isto de fazer as músicas, com algumas regravações, no próximo, que já está se encaminhando, vamos dividir as tarefas. Nesses dois anos tocando com mais frequência, viajando, a sonoridade da banda está mais madura”, pondera Renato.
Não apenas mais madura, como também mais ousada. O segundo disco terá um maracatu em 3/4 (o compasso do maracatu é em 4/4) e ainda mais inusitado um frevo em 5, e um frevo de bloco também em compasso modificado.
Renato Bandeira & Som de Madeira é um grupo de jazz? Renato acha que sim: “Tenho falado nisso com Spok. Acho que jazz é a música em que se tem liberdade para se improvisar. Nossa música tem este sotaque jazzístico. O Quarteto Novo é uma referência pra gente. Sobretudo para Heraldo do Monte. Eu toco guitarra de jazz como se fosse uma viola. Mas é uma coisa comum no mundo inteiro. Você ouve Richard Bona (de Camarões) tocar jazz com sotaque da África. O que a gente faz é uma espécie de jazz tupiniquim”.
Como o show tem apenas 50 minutos de palco, vão sintetizar o repertório. Tocam parte da música de De Ponta Cabeça, com algumas reinterpretações de Nilton Rangel, do citado Camarão, e do guitarrista americano Pat Metheny: “A gente preparou um repertório com mais músicas do que cabe no tempo do show, mas o público pode aguardar surpresas e temas ainda inéditos”, diz Renato.