CARNAVAL

Homenageado, Francisco José fala do amor pelo Galo da Madrugada

O repórter que cobriu o Galo desde a sua primeira saída, há 40 anos, ganhou homenagem e boneco gigante

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 09/02/2018 às 8:15 | Atualizado em 15/04/2021 às 15:20
Sergio Bernardo/JC Imagem
O repórter que cobriu o Galo desde a sua primeira saída, há 40 anos, ganhou homenagem e boneco gigante - FOTO: Sergio Bernardo/JC Imagem
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Ele nem é folião, não vai atrás de blocos nem pula uns frevinhos. Mas já tinha virado paródia de farra carnavalesca e agora é boneco gigante. Neste Sábado de Zé Pereira (10), o jornalista Francisco José, da TV Globo, está de folga - a primeira, em 40 anos, nesta data. Junto com a família - a filha Marianne veio da Espanha, onde mora - assiste ao desfile do Galo da Madrugada e do boneco feito em sua homenagem pelo bamba Sílvio Botelho. “Ele pediu que eu fosse até a casa dele, em Olinda, e ficamos conversando durante quase uma hora”, conta o repórter. “Queria ver de perto o meu jeito, as minhas expressões. E acho que ficou bem parecido mesmo”, avalia o homenageado.

Chico José é celebrado no 40º aniversário do maior bloco de Carnaval de Pernambuco - e do planeta, há quem ateste. Em 2018, o Galo faz homenagens àqueles que ajudaram a firmar a sua trajetória. Por isso, Chico é merecedor de todas as loas. O repórter acompanhou e ajudou a divulgar todos os desfiles do bloco, um por um. Em 1978, um grupo formado por pouco mais de 70 mascarados saía pelas ruas do São José, no Recife. A primeira reportagem foi um acaso. “Estava entrevistando Badia (1915-1991), carnavalesca muito querida aqui em Pernambuco, 40 anos atrás, quando vi uns batuqueiros e alguns mascarados. Perguntei a ela, ainda gravando: ‘que bloco é esse que vem aí?”, recorda-se. Badia falou de um grupo novo e recomendou que ele fosse ver de perto porque era muito bonito. “Fui e vi que ela tinha razão. Fiz ali a minha primeira reportagem sobre o bloco. O Galo, pra mim, é paixão à primeira vista mesmo.”

Para desespero das equipes que o acompanham, Chico dispensa camarotes ou praticáveis - a estrutura usada por repórteres de TV para facilitar o trabalho e se destacar da multidão. Faz todo o percurso caminhando em meio ao mar de gente. “Todos esses anos eu sigo no chão, entre foliões. Preciso encontrar as pessoas, as fantasias. Isso só é possível no meio do povo.”

Numa dessas caminhadas, quase 30 anos atrás, encontrou um amor, confessa. Avistou uma mineira, repórter da TV Globo Brasília, acuada dentro de um carro, assustada com a multidão. Ela havia sido escalada para cobrir o Carnaval de Pernambuco. Tinha chegado cedo na avenida e achou que poderia sair quando fosse preciso. Não conseguiu. Chico decidiu ajudar a colega. “Ela disse que nunca tinha visto uma multidão daquela. Decidi tirar o carro de lá, fui pra frente, o povo ajudou, a multidão ia abrindo quando passávamos, dizendo que era ‘o carro de Chico’”, diverte-se e sorri com a lembrança. “Aí, acho que ela deve ter pensado: ‘Esse homem é o Padre Cícero’. Foi a chance que tive pra me aproximar e começar um namoro que está, até hoje, como no primeiro dia.” Francisco José e Beatriz Castro são casados há 27 anos e têm uma filha, Carla Beatriz, com 24.

PERNAMBUCO

Sob a luz de candeeiro, em 1944, numa fazenda no Crato, Ceará, nasceu Francisco José de Brito. Aos 11 anos veio morar em Pernambuco, perto do mar. No Recife, escolhe a praia de Boa Viagem como seu lugar preferido. “Não saio mais daqui. Tenho uma família enraizada na cidade”, afirma.  

O jornalista acabou transformando-se numa espécie de embaixador de Pernambuco. Acha graça quando fala das disputas travadas com baianos tendo a TV como veículo. “Até o ex-governador Antonio Carlos Magalhães foi se queixar na direção da Globo dizendo que Pernambuco tinha mais espaço”, conta, lembrando-se da curiosa competição com o colega e amigo baiano José Raimundo. “No Carnaval, se ele dizia que na Praça Castro Alves tinha 500 mil pessoas - um lugar onde nem cabem 50 mil - eu entrava na transmissão dizendo que o Galo da Madrugada tinha 1 milhão.” Até que, de disputa em disputa, o Galo foi parar no livro dos recordes, o Guinness World Records, em 1994.

CABO DE VASSOURA

Quem o conhece sabe bem de sua generosidade. Durante a nossa conversa, mostrou-se absolutamente disponível: “faço o que você quiser. Você manda”. Tirou fotos com os que passavam e pediam o registro. “É preciso atender às pessoas. É uma demonstração de carinho.”

Chico fez sua estreia no Jornal do Commercio, em 1967, como repórter esportivo. Tentou deixar a profissão, virou publicitário. Mas decidiu voltar, em 1976, atendendo a um convite da TV Globo e ganhando, segundo ele, metade do salário que a publicidade lhe garantia. Neste 2018 já conta 42 anos no ar. No currículo, cobertura de seis copas do mundo de futebol, olimpíadas, guerras, reportagens em todos os continentes.

Por escolha, passou a se dedicar ao meio ambiente. Tanto que ganhou a paródia do Quanta Ladeira, bloco de ‘tiração de onda’ que fez história no Recife: “Chico José tá no fundo do mar, chamando golfinho pra entrevistar” (a música original é “Meu Maracatu Pesa uma Tonelada”, da Nação Zumbi. O restante da letra da paródia é meio impublicável). A filha Marianne, também jornalista, garante de ele adorou a brincadeira.

Há poucos dias, Chico José esteve em Fernando de Noronha, mais uma vez, para reportagem ainda inédita. O desafio era mostrar como os tubarões estão comendo peixes fisgados pelos pescadores. Voltou ao fundo do mar para ver a história de perto.

“Conseguiu? Usou roupa especial de proteção?”, pergunto. “Nada. Desci com um cabo de vassoura com um prego na ponta pra me defender, se fosse preciso”, responde, lembrando que a sugestão foi do empresário, pescador e amigo José Maria Sultanum. O repórter topou com cinco tubarões da espécie cabeça de cesto. Mas não precisou usar o cabo de vassoura.

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