Impedida de fazer pagamentos de dívida externa desde julho do ano passado, a Argentina voltou ao mercado nesta terça (21), vendendo títulos com vencimento em 2024. E obteve um retorno positivo.
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A Argentina conseguiu vender US$ 1,415 bilhão em títulos, com uma taxa de 8,75% ao ano.
O país pretendia vender apenas US$ 500 milhões, mas obteve oferta de US$ 1,8 bilhões.
Parece estranho que um país sob calote técnico obtenha tanta boa vontade do mercado externo. Mas a Argentina vive uma calmaria econômica desde o início do ano, devido à expectativa de investidores de que haverá uma mudança na política do país com as eleições presidenciais deste ano.
Cristina Kirchner termina seu mandato em dezembro e a avaliação é que o próximo governante fará mudanças relevantes na economia, principalmente eliminará as restrições à importação.
Com isso, os mercados vêm antecipando o que acreditam que poderá ser uma alteração positiva das condições econômicas da Argentina.
Desde janeiro dólar blue (paralelo) já caiu 7,9%, na contramão do que ocorre na maioria dos países emergentes, como o Brasil, onde o dólar disparou e estacionou acima dos R$ 3. O principal índice da Bolsa argentina, o Merval, acumula valorização de 30%.
Desde março, porém, a Argentina está impossibilitada de pagar aos detentores de títulos externos, por força de uma decisão do juiz americano Thomas Griesa.
Ele congelou todos os pagamentos do país até que a Argentina negocie com os chamados fundos "abutres", que ganharam na Justiça dos EUA o direito de cobrar uma dívida de US$ 1,7 bilhão do país.
Ainda não se sabe como a Argentina fará o pagamento aos novos credores e se os "abutres" tentarão impedir o pagamento também a esses credores.
"Aqueles que participarem da mais recente tentativa da Argentina de emissão global devem entender que ela parece ter todas as características de endividamento externo, o que é coberto pelos nossos direitos 'pari passu'. Estamos examinando de perto essa transação altamente incomum para determinar quais ações serão apropriadas", afirmou em nota Robert Cohen, advogado do NML Capital, um dos fundos que brigam com a Argentina na Justiça dos EUA.