A crise na operadora Oi, que entrou com pedido de recuperação judicial na segunda-feira (20), no Brasil e na terça-feira (21) nos Estados Unidos, afetará as grandes instituições financeiras, que incluem bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa e BNDES) e privados, além de gestores, apontados como os maiores credores em lista fornecida pela tele à Justiça.
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O pedido de proteção terá impacto praticamente imediato no balanço dos grandes bancos brasileiros, que deverão elevar as despesas com provisões para devedores duvidosos.
No pedido de recuperação feito, a Oi indicou débitos totais de R$ 65,4 bilhões. Desse total, R$ 50 bilhões referem-se a dívidas financeiras, o que atinge os bancos, gestores e detentores de títulos. O restante trata-se de contingenciamentos - somente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Oi deve R$ 10,07 bilhões e, débito aos fornecedores, mais R$ 1,5 bilhão.
Na noite desta terça-feira, a operadora conseguiu na Justiça a suspensão de todas as ações e execuções contra a companhia pelo prazo de 180 dias. O objetivo é evitar novos processos até a aprovação da recuperação judicial.
Após forte oscilação na Bolsa, as ações ordinárias da tele recuaram ontem 8,73% e, as preferenciais, 18,18%. Os papéis dos bancos também foram afetados. O Banco do Brasil é a instituição pública mais exposta e deverá ser a mais afetada, uma vez que possui débitos de R$ 4,4 bilhões.
O BNDES, único com garantia real, tem exposição de R$ 3,3 bilhões. Já a Caixa tem R$ 1,96 bilhão pendurado (o banco teria retificado o valor para R$ 1,8 bilhão). Os papéis do BB fecharam com a maior queda do Ibovespa, de 4,46%.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou na noite de ontem, em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na Globo News, que os bancos públicos têm um porcentual alto da dívida da Oi (17%), mas que pode ser suportado. "É um porcentual relevante, mas que se acomoda dentro do balanço dos bancos públicos considerando-se que não é uma falência. O processo de recuperação judicial existe justamente para evitar a falência. É uma companhia grande, um processo de recuperação importante", disse.
Entre os bancos privados estão Itaú, com R$ 1,5 bilhão, e BNP Paribas, com R$ 1,1 bilhão. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco e Itaúsa tiveram baixa de 0,03% e 0,96%, respectivamente. Já as ações do Bradesco fecharam em alta de 1,18% (PN) e 1,12% (ON). Santander Unit avançou 0,34%, após forte oscilação. Fontes ligadas a Itaú e Bradesco afirmaram ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que já teriam provisionado esses valores.
Contaminação
Em relatório, analistas do Credit Suisse disseram que a crise da Oi trará implicações "muito negativas" para os bancos e também abrirá "precedente perigoso" para o setor corporativo. "Aumenta a probabilidade de que outras grandes empresas brasileiras altamente endividadas possam seguir o mesmo exemplo", avaliaram Marcelo Telles, Lucas Lopes, Alonso Garcia e Victor Schabbel, que assinam o relatório.
Eles citam o caso da Sete Brasil, empresa criada para fornecer sondas para a Petrobrás, quando os bancos foram modestos em termos de provisões. Por isso, segundo eles, há "fortes razões" para acreditar que o colchão feito para possíveis perdas com a Oi também seja pequeno, de 10% no máximo.
A Oi está aguardando a aprovação do pedido de recuperação judicial para dar prosseguimento às reestruturações financeiras. "A companhia entrou com pedido de proteção antes de declarar default (calote), o que é positivo", disse uma fonte próxima à companhia. A Oi não comenta o assunto.
Segundo uma fonte do governo, o pedido de recuperação judicial poderá dar fôlego ao caixa da operadora, que estava queimando cerca de R$ 7 bilhões por ano somente para pagar os juros das dívidas.
Procurados, BB e Itaú não comentaram. Bradesco, BNP Paribas, Santander e Caixa não retornaram os pedidos de entrevista. Em nota, o BNDES afirmou que "o provisionamento segue as regras internas, observando as normas determinadas pelo Banco Central".
Interesse
Em entrevista à Bloomberg, o bilionário egípcio Naguib Sawiris, acionista da Orascom Telecom, reiterou interesse na Oi. A informação já tinha sido antecipada na coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy.
Para ele, a "Oi precisa de um acionista com sólida experiência em telecomunicações para resolver os seus problemas operacionais e suas dívidas financeiras". O egípcio considerou se unir ao bilionário russo, Mikhail Fridman, que negociava entrar na Oi, mas desistiu em fevereiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.