As negociações para um acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul são complexas, mas o acordo pode futuramente trazer um impulso para a economia dos dois blocos, disse à Lusa o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo. “Todas as negociações comerciais são complexas, levam tempo. Essas são negociações de peso e que podem trazer impulso importante para a economia dos dois blocos”, afirmou.
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Em setembro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, disse que o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE deve ser concluído no período de um ano e meio a dois anos. Ele declarou que os países do bloco estão dispostos a levar as negociações adiante, mas ainda há resistências protecionistas por parte de algumas nações europeias.
“A Espanha, a Itália, Portugal e a Suécia estão amplamente a favor e eu confio que consigam maioria para poder acelerar o processo", afirmou Serra em setembro.
Atualmente, há outros acordos comerciais internacionais da UE que estão em fase de negociação ou mesmo de ratificação parlamentar, como é o caso do Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Canadá (conhecido como Ceta).
O Parlamento Europeu tem prevista uma votação para 17 de janeiro de 2017. Se for aprovado, o Ceta será aplicado a 95%, pois para estar plenamente em vigor é necessária a ratificação dos parlamentos dos 28 países da UE, o que poderá levar anos.
Exemplos
Outro exemplo é o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, em inglês), que ainda está sendo negociado entre os Estados Unidos e a União Europeia.
Os negociadores da UE e dos Estados Unidos iniciaram conversações em 2013 para criar a maior área de comércio livre no mundo, mas as conversações continuam difíceis.
“As negociações comerciais avançam em vários caminhos ao mesmo tempo – bilateral, regional e multilateral. Os países – e a UE como bloco – procuram as oportunidades onde quer que elas estejam. Um sistema comercial saudável deve avançar em todas as frentes ao mesmo tempo”, destacou Azevedo.
Entretanto, segundo o diretor-geral da OMC, quando iniciativas regionais tratam de temas que não são cobertos pelas regras globais, “pode-se criar um cenário em que diferentes acordos tratam do mesmo tema de maneira distinta. Isso pode dificultar e encarecer os fluxos comerciais. Essa situação faz com que avanços globais na OMC sejam cada vez mais importantes”.
“Ao mesmo tempo, vejo que iniciativas comerciais – e o comércio em si – têm sido alvo de um crescente sentimento antiglobalização”, disse.
Segundo o diretor, é preciso “comunicar melhor os benefícios do comércio”, “reconhecer e atuar nos casos em que há problemas” e “agir para fazer com que o comércio beneficie mais os pequenos também, por meio de novas reformas do sistema comercial global”.
Roberto Azevedo estará em Lisboa para a WebSummit, que será realizada entre 7 e 10 de novembro com o objetivo de discutir esses temas, inclusive como a tecnologia pode ajudar mais pessoas a ingressar nos fluxos comerciais.
“Certamente, podemos fazer mais para tornar o comércio mais inclusivo”, afirmou Azevedo.