A aprovação da lei da terceirização uniu as seis principais centrais sindicais do País que, juntas, preparam manifestações e uma greve geral contra a medida. Em oposição, entidades patronais receberam com entusiasmo o resultado da votação, defendendo que a medida trará segurança jurídica para empresas e para os trabalhadores, além de incentivar a criação de postos de trabalho.
De acordo com os representantes dos trabalhadores, a data da paralisação será decidida na segunda-feira, dia 27, e deve ocorrer no fim de abril. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo já realiza protestos a partir desta sexta-feira, 24.
Em nota assinada na quinta-feira (23) pelos presidentes da CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB, após reunião em São Paulo, as centrais afirmam que "a terceirização aprovada condena o trabalhador à escravidão". Segundo o texto, o governo Temer e o Congresso atendem só a interesses da classe empresarial. "O trabalhador ganhará menos, trabalhará mais e ficará exposto a acidentes de trabalho."
Representantes de quase 10 milhões de trabalhadores, as centrais ressaltam estarem abertas ao diálogo para mudar o projeto. Outra proposta alternativa que tramita no Senado e que poderá ser votada nos próximos dias também não é consenso entre as centrais A CUT, por exemplo, é contra qualquer projeto que permita a terceirização da atividade principal da empresa.
Para Vagner Freitas, presidente da CUT, a nova lei oficializa o bico. "Vai aumentar o desemprego, pois as empresas vão querer substituir o pessoal formal por terceirizados, temporários e pessoas jurídicas."
Na opinião de Ricardo Patah, presidente da UGT, "nem a ditadura militar tratou os trabalhadores como o governo Temer está tratando". O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, diz que a nova mobilização nacional será maior do que a da semana passada. Adilson Araújo, da CTB, avalia que contratados pelo novo regime terão jornada maior e salários menores, o que resultará em produtividade menor.
Para a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, o quadro em que hoje se encontram cerca de 12 milhões de terceirizados será agravado e poderá ocorrer uma inversão em relação aos 35 milhões de contratados diretos.
O discurso das entidades patronais é diametralmente oposto. "O trabalho terceirizado é uma realidade no País", diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf. "Dá mais segurança para ambos os lados e destrava qualquer inibição de investir." Para Skaf, as alegações de que a terceirização levaria a uma precarização dos direitos do trabalhador não fazem sentido e uma versão mais branda da lei criaria distorções.
"É preciso cobrar quem fizer errado, não punir os setores pela possível precarização", diz José Carlos Rodrigues Martins, da Câmara Brasileira da Construção (Cbic). "Terceirizar garante a sobrevivência de uma atividade como a construção. Ninguém está falando em locação de mão de obra, estão tentando organizar o mercado."
Para Heitor Klein, da Abicalçados, a regulamentação deve trazer maior produtividade. "E não tira os direitos consagrados na CLT, protege o trabalhador de forma dupla, já que regulamenta que caso a empresa terceirizada não cumpra com os encargos, o contratante o fará."
Na avaliação de advogados especialistas em direito trabalhista, porém, apesar de a aprovação ter sido positiva, o projeto tem lacunas. "A forma como a aprovação foi feita causou estranheza. Há um projeto de lei, de 2004, parado no Senado, que é mais maduro do que o texto aprovado pela Câmara", diz Giancarlo Borba, sócio do Siqueira Castro Advogados. "Foi atabalhoado."
"As reclamações das centrais sindicais são esperadas, e de fato quem terceiriza uma atividade de sua empresa por questões econômicas está fazendo algo errado", diz José Carlos Wahle, da Veirano Advogados. "A razão tem de ser gerencial, deixar a empresa livre para se concentrar em suas atividades centrais. O texto final da lei deve ter mecanismos que separem a terceirização saudável daquela feita pelos motivos errados." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.