Entenda os possíveis impactos da Operação Carne Fraca na economia

Especialistas analisam os prejuízos que a operação pode trazer para o País
Bianca Bion
Publicado em 26/03/2017 às 7:01
Especialistas analisam os prejuízos que a operação pode trazer para o País Foto: Foto: Arnaldo Alves/ANPr


Com a divulgação pirotécnica da Operação Carne Fraca da Polícia Federal, a imagem de um dos principais produtos brasileiros ficou podre. Em nove dias, 22 países e blocos econômicos suspenderam total ou parcialmente a compra da carne brasileira. Entre eles, está Hong Kong, o maior importador em 2016 (responsável pela entrada de US$ 718 milhões no País). A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que haverá perda de R$ 1 bilhão nas exportações do produto em dois meses. Ainda é cedo para fazer prognósticos, mas a perspectiva de especialistas do setor é de que a cadeia produtiva pode sofrer as consequências, afetando um dos pilares da economia brasileira: o agronegócio.


Esse setor, importante na balança comercial brasileira com as exportações e a alta produtividade, envolve as relações industriais ligadas à produção agropecuária e praticamente não foi afetado pela recessão.


O agronegócio correspondeu a 23,46% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2016, o equivalente a R$ 1,47 trilhão, segundo dados preliminares do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP). Em relação a 2015, a participação do agronegócio no PIB teve aumento de 15%. Em 2016, ele foi responsável por US$ 71,3 milhões na balança comercial brasileira. Vale lembrar que o Brasil é conhecido no exterior pelas commodities, como a soja e o milho.
A pecuária é parte importante. Tem 31% de participação no PIB do agronegócio. No ano passado, injetou mais de US$ 400 bilhões na economia brasileira. A preocupação principal dos especialistas diz respeito à reconquista da credibilidade do País.


“Pelo que a gente sabe, essa operação não vai fazer a economia brasileira crescer mais ou menos. A economia brasileira, como um todo, não deve sentir um impacto forte. Porém, isso não vale claramente para o setor de carnes. Infelizmente, não é só o pecuarista que vai sentir. Quem produz ração, vacina e produz material genético, suplementos minerais, infelizmente, todo mundo vai sentir”, explica o pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GVAgro), Felippe Serigati.

Para o diretor-geral da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, a investigação deixa uma série de questionamentos sobre o futuro, como o impacto sobre a compra de ração para os animais (composto de soja e milho). “É muito cedo para dizer qualquer coisa. Mas para as exportações, grandes surpresas são ruins. No mercado interno, é possível que haja um decréscimo (na compra de ração), mas pode aumentar a exportação de grãos. Só que isso nunca é desejado. O Brasil estaria trocando um produto de maior valor agregado por outro de menor valor. Ninguém pode garantir que o que deixou de ser consumido aqui vai ser exportado”, diz.

O impacto mais imediato foi a queda na atuação no mercado externo: em um dia as vendas do setor bovino caíram de US$ 60 milhões para US$ 74 mil. Já no de frango e suínos, a queda foi de 22% nas exportações em uma semana. No início deste ano, entretanto, o preço da carne bovina havia subido 10% na exportação. A de frango, 20% e a suína, 40%.

Em 2016, mais de 5,7 milhões de toneladas de carnes dos três animais foram exportados, movimentando US$ 11,6 bilhões. Com a queda nas exportações por causa da operação da PF, um dos temores é que os produtos sejam destinados ao mercado interno. Inicialmente, isso poderia provocar uma queda nos preços. Mas, com o tempo, os produtores iriam diminuir a produção. Pela lei da oferta e da demanda, o valor subiria.

Apesar de cenários ruins imaginados por especialistas, há perspectivas positivas. A crise deve durar dois meses, afirma o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro. “O Brasil é um dos maiores fornecedores de carne bovina e de frango. Se tirar, vai comprar de quem? Os Estados Unidos, desde o ano passado, teve novo foco de gripe aviária. Ninguém exporta para 150 países sem ter qualidade”, afirma.

Atualmente, os maiores fornecedores de carne bovina no mundo são os Estados Unidos, Brasil e Austrália. De frango, Brasil e Estados Unidos. Em relação às vendas suínas, o Brasil aparece em 4º lugar no ranking.

Até o momento, a Polícia Federal identificou problemas em 21 frigoríficos no País. Representantes dos empresários do setor defendem a investigação e a punição dos que infringiram as leis. A maior preocupação é conquistar a confiança do consumidor interno, já que ele consome a maior parte da produção. “Nós, como entidade, apoiamos a investigação da Polícia Federal. Há um equívoco grande na forma como foi trazido a público. A qualidade do produto é a mesma, tanto para o interno quanto para o externo. Cerca de 70% do que é produzido vai para o consumidor interno. É importante continuar a confiar”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo Santin.

PERNAMBUCO

Em Pernambuco, o agronegócio corresponde a cerca de 3,5% do PIB estadual. Os principais pilares são a cana-de-açúcar, a fruticultura do Vale do São Francisco e a avicultura. O Estado produz 44 milhões de toneladas de carne de frango por mês. Apenas 3% é exportado para países como China, Hong Kong e Japão. Já em relação à carne bovina, 90 milhões de quilos por ano são produzidos, que não são suficientes nem para o mercado interno. No ano passado, Pernambuco produziu 5 milhões de quilos de carne suína para atender o consumo local.

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