Congelamento de preços, dívida externa descontrolada, bloqueio de dinheiro em contas bancárias, fim da hiperinflação, geração de empregos e aumento do crédito são reflexos de decisões governamentais que impactaram a vida de milhões de brasileiros ao longo da história do País. As trajetórias de 14 ex-ministros da Fazenda que participaram destes momentos e os relacionamentos deles com os presidentes são contados no livro O pior emprego do mundo (Editora Planeta) do jornalista e ex-ministro de Comunicação Social do governo Dilma, Thomas Traumann.
A figura do ministro da Fazenda é descrita como alguém que tem poder semelhante ao de um primeiro-ministro, que depende apenas do voto do presidente para tomar decisões. Ao mesmo tempo, dorme com uma espada suspensa por apenas um fio sobre a cabeça todas as noites, como na lenda grega de Dâmocles. “A intenção era traduzir Brasília para os brasileiros, explicar como as decisões são tomadas, quem decide, o que decide, sob que circunstâncias. Pensei em quem poderia representar tudo isso e cheguei ao ministro da Fazenda, uma pessoa com muito poder, que sofre muita pressão e tem muita fragilidade, basta uma assinatura no Diário Oficial para cair”, explica Traumann.
O livro começa com os anos do Milagre Econômico no regime militar, com Delfim Netto, a partir de 1967, e mostra bastidores de momentos importantes da economia, como a crise da dívida externa, o combate à inflação, entraves com o Fundo Monetário Internacional (FMI), tensões entre membros da equipe econômica ou do governo, até a grande recessão do século XXI. Por exemplo, na noite da posse de Collor, a ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello levou um papel com três números (30 mil cruzados, 50 mil cruzados e 70 mil cruzados) a uma festa promovida por seus familiares, enquanto sua equipe do governo estava no apartamento dela, formulando medidas para serem anunciadas na manhã seguinte, sobre o bloqueio de contas correntes e cadernetas de poupança. As opções de valores dos bloqueios estavam no papel levado à festa, dando início a um rumor de que o valor final teria sido sorteado, o que foi desmentido por Zélia depois.
Atualmente, em um momento de crise econômica, com 13 milhões de desempregados, a definição do próximo presidente vai deixar claro qual política econômica será adotada para tentar fazer o País voltar a crescer.
“Eu acho que o mercado está sobrevalorizando a relação de Bolsonaro com Paulo Guedes, que é boa, mas não é tão boa quanto gostariam que fosse. A principal coisa que devem fazer é se acertar e pararem de falar um contrário do outro. No caso de Haddad, é mais complexo, ele nunca foi da cúpula do PT, era um burocrata. Para virar candidato a presidente, teve que fazer acordos internos. Ele está fazendo um discurso muito mais intervencionista para agradar a parte do PT que desconfia dele. É muito parecido com o segundo mandato de Lula e o primeiro de Dilma (com Guido Mantega como ministro da Fazenda)”, explica Traumann.