A tecnologia que tem revolucionado diversos setores também tem chegado a passos largos no universo jurídico e dado início à transformação dos procedimentos dentro de tribunais, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos das empresas. Através das chamadas lawtechs ou legaltechs (empresas de tecnologia voltadas ao mercado jurídico), os atores que compõem o sistema judiciário têm economizado tempo e dinheiro, otimizando os serviços prestados.
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O desenvolvimento das lawtechs no Brasil, em síntese, tem desconstruído a máxima de que a “justiça tarda, mas não falha”. Prezando pelos resultados assertivos, o que se consegue é chegar até eles com menos tempo e esforço. “O advogado gasta em média 30% do seu tempo de trabalho em tarefas burocráticas. As lawtechs e legaltechs surgem para que o profissional do direito tenha mais tempo para focar naquilo em que ele é formado. São anos de formação muitas vezes aplicados em tarefas automatizáveis”, conta o diretor-executivo da AB2L, Daniel Marques.
Criada em 2017, a associação começou com 20 empresas. Em três anos, viu o número crescer impressionantes 2.400%, chegando à marca das atuais 500 negócios associados. “Todas as nossas lawtechs ou ajudam no ganho de eficiência de tempo ou permitem que o advogado tenha visão mais estratégica”, reforça Marques.
Com um dos maiores polos tecnológicos do País, Pernambuco faz parte da vanguarda desse mercado desde 2003 e acompanha o surgimento de novos negócios. Naquele ano, a Kurier (composta só por profissionais de TI) já dava seus primeiros passos mesmo sem internet banda larga.
“Surgimos para fazer a leitura de Diário Oficial por meio de software e mandar as informações de interesse aos clientes. Nós éramos lawtech antes mesmo de existir o termo. O que acontece é que o uso intensivo de tecnologia ainda não é uma verdade na sua plenitude dentro dos escritórios de advocacia, e agora está se aproveitando um mercado grande a ser explorado. Estamos crescendo 25% ao ano”, comemora o diretor comercial da empresa, Fred Ferraz.
Baseada no Recife, a Kurier mantém 150 colaboradores, tem 70% do seu faturamento vindo do Sudeste e atende 1,7 mil clientes. Das 12 soluções desenvolvidas, destacam-se o robô que identifica a distribuição de processo 60 dias antes da empresa ser notificada e a plataforma que reúne 240 milhões de processos, dando subsídio para o advogado tomar decisões mais estratégicas.
Escritórios
A abertura à tecnologia no mercado jurídico tem se dado com tanta consistência que os escritórios têm buscado se especializar e desenvolver soluções próprias para otimizar seus serviços.
O advogado Pedro Silveira, 30 anos, viu na tecnologia a oportunidade que precisava para ampliar suas atividades. “Eu advogo há quase oito anos. Hoje em dia tenho meu próprio escritório, mas conheci um grupo em Nova Iorque que se dedicava a estudar a conciliação do direito com a tecnologia. Comecei a me aprofundar e o resultado é que criei uma legaltech minha”, conta Silveira, que aportou R$ 20 mil para criar a Legal Promo há pouco mais de um ano.
“Eu tinha uma demanda de várias empresas que queriam fazer sorteios e promoções comerciais. Isso exige uma autorização do governo federal. Percebi que era uma coisa que conseguia automatizar. E hoje o cliente consegue fazer o cadastro, upload da documentação e pagar através dessa plataforma”, detalha.
O investimento já está sendo recuperado este ano. O custo para o cliente cai cerca de 50%. Na mesma direção, só que numa proporção maior, o escritório Queiroz Cavalcanti tem acrescentado à empresa a cultura da inovação e, a partir dessa experiência, já contabiliza mais de 30 soluções tecnológicas internas desenvolvidas.
“Temos algumas verticais. A primeira delas é a implantação da cultura de inovação. A gente trouxe uma pessoa do mercado de tecnologia e criamos uma área de inovação que não é capitaneada por um profissional de direito”, detalha a sócia do escritório Camila Queiroz.
A Queiroz Cavalcanti já realizou, inclusive, um hackathon, aproximando o escritório das startups. Algumas são contratadas para desenvolver a tecnologia e receber mentoria no ambiente legal para estruturação do negócio. “A gente já desenvolveu praticamente 18 robôs e temos aumentado o investimento na área de tecnologia este ano”, confirma Camila.