Veja como é ir até Porto de Galinhas de ônibus

JC testou o serviço de transporte público usado por turistas que visitam o Estado
Felipe Lima
Publicado em 20/11/2011 às 9:22
JC testou o serviço de transporte público usado por turistas que visitam o Estado Foto: Foto: Clemilsom Campos/JC Imagem


Quinta-feira, dia 17, 9h20 da manhã. A professora Angélica Weninger está a ponto de desistir de viajar para Porto de Galinhas. Esperou na Avenida Barão de Souza Leão, em Boa Viagem, por cerca de duas horas, acompanhada de seu filho de 7 anos. Há sete anos morando na Suíça, esqueceu por onde o veículo passava. Diante de tamanha demora, seguiu para o Aeroporto do Recife, parada tradicional do coletivo. Ao chegar, precisou sair perguntando se estava no local correto. Quando estava quase sem esperança, enfim, o ônibus apareceu. Deu sorte. Entrou em um coletivo com poltronas novas e em bom estado. Poderia ser pior. Se tivesse chegado meia hora antes, embarcaria em um ônibus velho, completamente sujo. Do chão ao teto, das janelas aos assentos.

É assim, contando com o acaso, que recifenses ou turistas nacionais e estrangeiros seguem de ônibus para a praia mais badalada do Estado e um dos principais pontos turísticos do Nordeste e do Brasil.

A falta de informação em sites, pontos de desembarque e nas própria paradas faz com que poucos saibam que há três tipos de ônibus realizando o trajeto Recife-Porto de Galinhas. Há o luxo, com ar-condicionado e cortinas, cuja passagem custa R$ 9,80. A linha intermediária, de R$ 6,70, é composta por veículos novos, mas não conta com sistema de refrigeração. A mais conhecida, porém, é a “pé-duro”, segundo definição dos usuários. Ônibus antigos, na maioria sujos, com poltronas rasgadas – quando essas existem, pois há os com assentos normais de coletivos – e que, por conta do “pinga-pinga” (ou seja, as paradas excessivas) chegam a levar duas horas e meia para chegar na praia do Litoral Sul. A reportagem do JC viajou em todos eles e pode conferir que a diferença é enorme.

A falta de ar-condicionado da linha intermediária faz com que uma passageira coloque uma toalha branca no rosto. Quer fugir da poeira que vem das obras na Estrada da Batalha e na PE-60. Não há do que se queixar da acomodação, pois as poltronas estão novas. Porém, o itinerário está longe de ter apelo turístico. Assim que sai de Jaboatão dos Guararapes, o ônibus segue por Pontezinha e Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, comunidades, sem muitos atrativos naturais. Quando a viagem está próxima do final, o passageiro ainda é agraciado com um passeio por Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca, onde leis de trânsito inexistem. Resultado: 20 minutos para percorrer, no máximo, 300 metros dentro do distrito. Ao todo, quase duas horas para ir da capital a Porto de Galinhas.

No ônibus urbano, de tarifa mais barata, além do mesmo itinerário nada atraente, o passageiro entra limpo para sair sujo. A poltrona fede. O teto só tem metade das luzes. O chão e as janelas estão cobertos de uma crosta de poeira. O rangido do veículo completa o pacote de desconforto. Em feriados e finais de semana ir nesse ônibus para Porto de Galinhas é uma experiência única de tão desagradável. A média diária de três mil passageiros salta para cinco mil. Surfistas atravessam suas pranchas sob as cabeças dos demais passageiros. Lugar sentado só para quem pegou o veículo no terminal, localizado na Avenida Dantas Barreto. Às vezes dá vontade de voltar no meio do caminho.

O cenário é totalmente diferente no ônibus com ar-condicionado. Cheiro de novo e clima agradável. Uma passageira chega a colocar uma jaqueta jeans para amenizar o frio. Difícil não recostar a cabeça e tirar um cochilo. Dentro da capital é o único que passa pelo bairro de Boa Viagem. Além disso, não entra nem em Pontezinha nem no centro de Ipojuca. Segue para a praia do Litoral Sul de forma expressa: leva uma hora e meia. O problema é que somente agora começou a ficar mais conhecido dos usuários esporádicos e dos turistas – apesar de terem sido adotados desde março de 2010. Para se ter uma ideia da falta de conhecimento, no site oficial de Porto de Galinhas não há menção a eles. Também não há indicação especial nas paradas de ônibus.

Assim como Angélica, o contador argentino Mariano Flores chegou ao Aeroporto do Recife sem saber se estava no local correto. Acompanhado de sua namorada, Laura Perri, teve sorte em pegar o ônibus refrigerado. Antes de embarcar, no entanto, Mariano queixou-se da falta de orientação. No Aeroporto, a placa que indica que ali passa o ônibus rumo à praia mais famosa do Estado está jogada no chão, comida pela ferrugem. Por sorte, no final, saiu satisfeito. Guardou sua prancha long board no bagageiro, assim como a malas de grande porte da companheira. Ao entrar, não demorou para cair no sono. Só acordou quando chegou no destino final.

Os veículos saem da capital das 5h às 22h30. A cada trinta minutos um ônibus deixa o terminal, havendo um revezamento entre os três tipos de veículos. Isso motivaria o longo tempo de espera para o tipo mais luxuoso, por exemplo, que pode variar entre 45 minutos e uma hora. Ao todo, são 92 viagens, sendo 36 do carro urbano, 26 do intermediário e 30 do com ar-condicionado.

Pedro Murilo Bandeira Filho, diretor de operações da Cruzeiro, empresa responsável pela linha Recife-Porto de Galinhas, lista investimentos para rebater as críticas, mas confirma que os ônibus urbanos são mais “apertados”. Até março do ano passado, só haviam 10 veículos. Após uma pesquisa com usuários, o número foi elevado gradualmente, com a adição dos ônibus em melhores condições. Hoje, são 18. “A prova de que estão sendo aceitos foi o aumento no número de usuários. Passamos de uma média de 2.500 passageiros por dia para 3.000. O investimento em um ônibus novo é de R$ 300 mil. Ainda não obtivemos retorno dos recentes aportes, que foram de R$ 300 mil em 12 veículos, mas vemos a linha com potencial de crescimento no futuro”, afirma.

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