ENERGIA

Apagão: entenda como aconteceu e por que o setor elétrico está fragilizado

Falta de investimento, demora na manutenção e politização enfraquecem a Chesf

Angela Belfort
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Angela Belfort
Publicado em 19/12/2014 às 7:54
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Os equívocos cometidos no setor elétrico brasileiro se tornam cada vez mais visíveis. Na forma de apagões. Nos últimos 10 dias, o Recife ficou sem energia nos dias 9, 14 e 17, quando um blecaute atingiu Jaboatão, Camaragibe, São Lourenço da Mata e quase todos o Recife a partir das 23h. No auge do problema, cerca de 500 mil pessoas ficaram no escuro. Empresas perderam vendas, restaurantes e bares que faziam confraternizações ficaram sem ter como cobrar dos clientes, linhas do metrô pararam, ônibus superlotados não atenderam à demanda, o trânsito piorou ainda mais.

Os dois primeiros blecautes ocorreram devido a problemas da Celpe. O da quarta-feira passada (17) foi consequência de um defeito na rede de alta tensão da Chesf  (veja infográfico). Foi a 24ª vez, esse ano, que o serviço foi interrompido devido a um problema na estatal. Conforme apontam os especialistas, sistemas podem falhar. Mas no Brasil, falham com uma frequência além do normal.

É o retrato da fragilidade gerada pela falta de investimento, de planejamento e politização de ações que deveriam ser fundamentalmente técnicas. “Uma linha de transmissão não era para estar se rompendo. É provável que a Chesf não esteja realizando a manutenção que fazia porque hoje tem menos gente e menos recursos, mas essa não é uma opinião conclusiva”, diz o membro do Instituto Ilumina Nordeste, Antonio Feijó, especialista em energia.

Infográfico

Como aconteceu o apagão

PRESSÃO - A Chesf é uma empresa sacrificada pelo próprio acionista. Teve queda de 56% das suas receitas devido à decisão da presidente Dilma Rousseff de tornar a energia mais barata a partir de janeiro de 2013. A medida provocou uma redução de receita de cerca de R$ 3 bilhões por ano. A estatal então realizou um plano de desligamento voluntário. Mais de 1.300 servidores, entre os quais técnicos superqualificados, aderiram.

“A redução de custo não afetou a manutenção do sistema, que é realizada periodicamente e está rigorosamente em dia”, garante o diretor de Operações da estatal, Mozart Bandeira Arnaud. A estatal, porém, não informa a data da última manutenção.

Uma linha de transmissão não era para estar se rompendo. É provável que a Chesf não esteja realizando a manutenção que fazia

Antonio Feijó, membro do Instituto Ilumina Nordeste

O consultor da empresa Excelência Energética Erik Rego argumenta que o serviço está piorando porque a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não fiscaliza e porque as linhas de transmissão estão sobrecarregadas. “Num sistema sobrecarregado, as quedas de energia vão ocorrendo em cadeia”, conta. Numa operação correta, a falha é logo isolada de forma a não se propagar.

Após o blecaute de quarta-feira (17) à noite, no entanto, o serviço só foi restabelecido às 13h57 de ontem, quase de 15 horas após a pane. E ainda assim, por causa do efeito secundário na rede da Celpe, ainda havia localidades sem energia na noite de ontem.

Agora, o Operador Nacional do Sistema (ONS) vai realizar uma reunião no Recife na próxima terça para levantar responsabilidades. Depois disso, o ONS manda um relatório para Aneel que multará a Chesf, caso entenda que o problema poderia ter sido evitado. A julgar pela situação do setor elétrico, a culpa pode até ser da Chesf. Mas não é apenas dela.

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