“O futuro é um negócio que a gente traz, do futuro, para o presente. O que esperar do Porto Digital no futuro? Que ele continue fazendo isso”, define um dos maiores especialistas em “futuro” do País, o presidente do conselho do parque tecnológico, Silvio Meira.
E para continuar trazendo o futuro, é necessário que dois ingredientes sejam mantidos: importância e relevância. “Importância dentro da sua própria comunidade, de empresas de TIC e de parques tecnológicos, e relevância para um ambiente que é muito maior que o Recife. Muita gente ainda desconfia que o Porto Digital seja uma nuvem passageira, mas assim como a eletricidade foi uma estrutura fundamental para o desenvolvimento do século 20, a tecnologia da informação é essencial para o século 21”, comenta Meira.
Leia Também
A opinião é compartilhada pelo diretor presidente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) e professor do Centro de Informática da UFPE, Geber Ramalho. “O primeiro desafio de qualquer instituição que tem um grau razoável de sucesso é se acomodar. Com 15 anos, o Porto Digital talvez tenha ido mais longe do que os mais entusiastas imaginaram, e toda instituição ligada à inovação deve sempre se reinventar”, avalia Ramalho. Uma saída seria aproximar-se de outras áreas da economia que não são diretamente ligadas à tecnologia, mas que dependam dela. “TIC é um meio para resolver problema dos outros. Há cinco anos o Porto Digital fez uma abertura para a economia criativa, mas é importante ter parcerias a fazer ainda mais para ir à outras áreas que podem ser fortemente influenciadas”, completa.
Para isso, de acordo com o professor da UFPE, é preciso que o parque tecnológico tenha a capacidade de expandir sua influência pelo Recife, sem necessariamente expanda em terreno. “A premissa de construir um parque tecnológico que pudesse aproximar fisicamente as empresas é muito verdadeira. Mas hoje a cidade tem um problema sério de mobilidade e nem toda empresa quer, ou pode, se mudar para o Bairro do Recife. O Porto Digital deve criar pontes e ajudar a articular com movimentos semelhantes ou convergentes que estão fora do seu território. Os produtores culturais da Bomba do Hemetério, ou as empresas de saúda da Ilha do Leite, por exemplo, não podem ficar desgarrados”, comenta Geber.
Outro papel importante do parque tecnológico é, além de funcionar como porto para as empresas de TIC – para manter-se nas alegorias marítimas – servir de farol de tendências dentro desse mercado tão dinâmico. “Precisamos de instituições que ajudem as startups a enxergar quais são novos hábitos de uso do cenário de TI. Nos anos 1990 e 2000, o software foi muito forte, mas hoje o hardware está voltando com tudo através do conceito de internet das coisas. Para muito além do computador, tudo hoje é hardware: a maçaneta inteligente, a caneta stylus, a geladeira conectada... Toda essa parte de sistemas embarcados está crescendo e muita gente não abriu o olho para isso ainda”, afirma Ramalho. Para o próprio diretor presidente do Porto Digital, Francisco Saboya, o futuro da sociedade é digital na medida em que que as pessoas estão cada vez mais conectadas e móveis. “Daqui a 10 anos, estima-se que entre 70 e 200 bilhões de objetos estarão conectados entre si, pela internet. Imagine o impacto disso no comércio, na logística, na saúde e em muitas outras áreas”, conta Saboya.
Nessa vertente, o parque tecnológico está trabalhando para começar já em março do próximo ano as atividades do Laboratório de Objetos Urbanos Conectados, apelidado de L.O.U.Co. “Desde que iniciei meu trabalho na unidade de observação de futuro do Centro de Inteligência Competitiva para Parques Tecnológicos (Cictec), logo percebemos que o Porto Digital não estava bem posicionado na tendência de Internet das Coisas nem no movimento maker. Era preciso alguma ação oficial para ajudar as empresas a lidarem com isso”, explica o Consultor de Tendências e Informação do Porto Digital, Jacques Barcia. O L.O.U.Co veio como uma resposta à isso, com foco em soluções que possam ajudar no bem estar de quem vive nas cidades. “Esse tema é abrangente o suficiente para incluir coisas como segurança – não só do ambiente mas da própria rede –, mobilidade, saúde conectada, monitoramento de água, clima e todas essas coisas impactam quem mora num ambiente urbano, independente de ser no Recife, Mumbai, Berlim, Nova York ou São Paulo”, conta Barcia.
Um dos pontos-chave do futuro laboratório – que ele compartilha com o Armazém da Criatividade, de Caruaru, e com o espaço de coworking que será montado dentro da UFPE – e a possibilidade que dá aos usuários de prototiparem rapidamente uma solução. “A velocidade com que se consegue colocar um produto no mercado tem impacto determinante sobre o êxito do projeto e a janela de oportunidade de negócios. A dinâmica antiga, de processos de desenvolvimento lentos, com muitos planos teóricos, acabou. Serão vencedores os produtos cujo ciclo de criação sejam mais rápidos”, conta Saboya.
Para isso, startups incubadas, empresas do Porto Digital e qualquer pessoa ou grupo que tenha uma boa ideia (que envolva soluções para a cidade) pode aplicar para usar as impressoras 3D, cortadoras laser e outras ferramentas do laboratório. “Queremos ainda identificar, em conjunto com as pessoas que pensam a cidade, identificar problemas e lançar desafios para a sociedade. Os melhores projetos poderão trabalhar conosco”, completa Barcia.
Para Silvio Meira, Pernambuco possui um potencial que ainda não sabe usar. “Somos os únicos na região com esse potencial estratégico de usar a tecnologia a nosso favor. E dentro desse contexto, o Porto Digital tem um papel importante de trazer o Recife de volta para o centro da atividade econômica. Não somos uma colônia de férias como outras capitais do Nordeste, nunca fomos”, acredita Meira. Para além de setores como a tecnologia, a saúde e a educação, o presidente do conselho do Porto Digital afirma que nosso futuro pode estar numa área que nem conhecemos ainda. “O futuro não vem do passado, do que a gente era capaz de fazer antes. Se fosse assim, a gente não era capaz de fazer o Porto Digital, já que no passado não éramos capazes disso”.