O balanço da Petrobras em 2015 contabilizou um prejuízo recorde de R$ 38,4 milhões na história da companhia e informações preocupantes sobre a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), no Complexo de Suape. Pelo resultado do ano passado, a unidade de refino sofreu uma perda de valor de R$ 9,1 bilhões. A depreciação está relacionada à má gestão na implantação do projeto e ao esquema de corrupção envolvendo o empreendimento.
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A Refinaria Abreu e Lima ainda está bem distante de operar a sua plena capacidade, mas já sofreu depreciação em seu ativo (patrimônio). O balanço da Petrobras, apresentado na semana passada, aponta essa perda de valor no impairment. Essa palavra estranha e presente no jargão contábil significa deterioração. Se o empreendimento estava avaliado em R$ 72,4 bilhões, a previsão é que esse valor tenha se desvalorizado para R$ 63,3 bilhões.
“Imagine que você comprou um apartamento por R$ 1 milhão em 2010 e este ano ele esteja avaliado em R$ 500 mil, em função de acontecimentos que derrubaram sua valorização”, explica o gerente do Núcleo de Economia e Negócios Internacionais da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Thobias Silva. O imóvel pode ter se desvalorizado porque ficava na beira da praia e o mar avançou, por exemplo.
No caso da Rnest, os motivos dessa perda de valor são conhecidos de quem acompanha as investigações na obra mais polêmica nos mais de 60 anos de história da Petrobras. A ex-presidente Graça Foster chegou a dizer que a refinaria era um exemplo a não ser repetido. Após essas declarações se intensificaram as investigações da operação Lava Jato e as auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) no empreendimento, apontando irregularidades como superfaturamento.
O orçamento da Abreu e Lima começou com valor de US$ 2,5 bilhões e até a conclusão está estimado em US$ 20 bilhões. Mas com a depreciação do ativo e a demora pela retomada da obra e conclusão do segundo trem (segunda etapa), a expectativa é de que o valor ainda seja mais inflado.
A construção da Rnest começou em 2005 e a previsão era que fosse concluída em 2010. O último cronograma anunciado pela Petrobras prevê a finalização do segundo trem para dezembro de 2019.
Outros fatores que contribuem para a perda de valor da Rnest são a queda no preço do barril de petróleo e a produção abaixo da capacidade total. A refinaria tem capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia, mas só está fazendo 100 mil, porque não concluiu a fábrica.