PREVISÃO

Geração de emprego é grande desafio para Pernambuco em 2020, diz estudo

Enquanto até o fim do terceiro trimestre a taxa de desocupação do País estava em 11,8%, no Estado o percentual chegou a 15,8%

JC Online
Cadastrado por
JC Online
Publicado em 10/12/2019 às 13:20
Foto: Divulgação
Enquanto até o fim do terceiro trimestre a taxa de desocupação do País estava em 11,8%, no Estado o percentual chegou a 15,8% - FOTO: Foto: Divulgação
Leitura:

O Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco deve continuar a crescer acima da média nacional em 2020, segundo estimativa da consultoria econômica e de planejamento Ceplan. Nas previsões dos economistas Jorge Jatobá e Tânia Bacelar, este ano a taxa no Estado deve ficar em 2%, ao passo que no ano que vem, poderá variar entre 2,5% a 3,0%. Enquanto isso, no cenário nacional, a projeção da Ceplan é de que o ano feche com um PIB de 1%, podendo chegar em 2020 a um patamar de crescimento entre  2,0% a 2,5%.

No Estado, o grande desafio para o crescimento vislumbrado para o PIB em 2020 está na melhora do mercado de trabalho, que demanda outros pontos como a retomada de investimentos públicos e atração de recursos privados.

Leia mais >> Produção industrial sobe 0,3% em outubro em Pernambuco, diz IBGE

Leia mais >> Em Pernambuco, mais de 10% da população vive em extrema pobreza

Leia mais >> Extrema pobreza assombra o futuro de 1 milhão de pernambucanos

Leia mais >> Diante da crise, 160 mil pessoas já abriram mão do plano de saúde em Pernambuco

"O calcanhar de Aquiles é o mercado de trabalho em Pernambuco. A partir da crise há uma ambivalência, por estarmos melhor que o Brasil em relação ao PIB, mas pior em se tratando do mercado de trabalho. O ciclo de investimento que vivemos antes aqui no Estado puxou muito emprego. Este ano, como o cenário melhorou no País, nós melhoramos também, mas criamos 11,5 ml empregos contra 90 mil em todo o Nordeste. Isso representa cerca de 14% do total da região, e Pernambuco é representa quase 20% da economia do Nordeste. Somos muito mais importantes na economia do que no emprego", sinaliza Tânia Bacelar. 

Enquanto até o fim do terceiro trimestre a taxa de desocupação do País estava em 11,8%, no Estado o percentual chegou a 15,8%. Mesmo quando se cria vagas, a renda já não traz o mesmo impacto que nos anos pré-crise. "No Brasil está se conseguindo criar emprego, mas por conta própria. Hoje 60% dos empregos estão nesse grupo, que tem precariedade e baixos salários. O Estado tem reproduzido esse perfil, o que dificulta por outro lado o crescimento do consumo", pontua Bacelar. 

Na avaliação da economista, o Estado precisa aumentar os investimentos, melhorar o desempenho do mercado de trabalho e fazer parcerias com o setor privado através de novos modelos de PPPs e concessões. "Investimento em infraestrutura continua crítico em Pernambuco. O Estado tem localização estratégica, mas está perdendo gradualmente essa competitividade."

Brasil 

Já a nível Brasil, para que o País chegue ao patamar de crescimento estimado para o ano que vem, além da manutenção do atual ambiente favorável, com inflação controlada, juros em baixa e algum avanço na redução do desemprego, é preciso que o lado político também cumpra seu papel. 

"O Brasil continua com um ritmo lento, mas crescendo. Desde 2014 o País vem passando pelas fases de estagnação, recessão profunda e, de 2017 para cá, um lento e lerdo crescimento", avalia o economista Jorge Jatobá. Segundo ele, nesse cenário de retomada em baixa velocidade setores como agropecuária e serviços têm dado resposta, assim como o consumo das famílias (estimado em torno de R$ 84 bilhões) e, de certo modo o investimento, que cresceu mas ainda representa só 15% do PIB. 

"A tragédia de Brumadinho e a crise da Argentina tiveram um impacto considerável no PIB nos cenários internos e externos, tirando de 0,5% a 1% do PIB, mas hoje temos uma inflação baixa, por demanda pouco aquecida e uma boa política monetária, que tem conseguido ancorar a expectativa em torno da meta. Além disso, a taxa de juros real está em um nível muito baixo, o que já viabiliza o consumo das famílias, mas ainda falta fazer com que isso chegue com mais força na ponta", comenta. 

O desemprego é um dos principais fatores que inibem o crescimento do PIB ainda em 2019 e deve continuar a pressionar em 2020 no Brasil e, sobretudo, em Pernambuco. "A nível nacional, a economia continuará liberal, sendo bem recebida pelo mercado, com privatizações e maior abertura comercial. O grande acontecimento ano que vem será a consolidação do acordo Mercosul e União Europeia - importante para tirar a ineficiência da indústria brasileira. Para o PIB crescer a esse nível, o país precisa avançar nos fundamentos macroeconômicos, seguir com a política monetária e as mudanças na área fiscal e, permitam-me dizer, sem o presidente atrapalhar", afirma Jatobá. 

Para ele ainda falta um norte para o desenvolvimento, além da questão da queda do investimento público. "Tem que apostar no avanço das reformas na área fiscal, tributária e administrativa. A preocupação política é que o governo implodiu o único partido que era sua base. Sem apoio do Congresso, nada passa. A grande incerteza em relação às reformas está na área política. Já na política comercial, a abertura de mercados, com avanços na China e Mercosul tem andado. A gente tem que ser pragmático, e isso parece estar acontecendo."

Produção industrial 

A produção industrial cresceu 0,3% em Pernambuco em outubro em 2019 em relação a outubro do ano passado. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 10. No Brasil, o crescimento acompanhou sete dos 15 lugares pesquisados 

Em São Paulo, maior parque industrial do País, a produção aumentou 5,0%. Os demais avanços ocorreram em Goiás (11,2%), Paraná (9,4%), Amazonas (6,1%), Rio de Janeiro (5,7%), Mato Grosso (2,2%) e Pernambuco (0,3%).

Extrema pobreza assombra o futuro de 1 milhão de pernambucanos

Na última quarta-feira (27), não teve almoço na casa de Luciana Libânia da Silva, 25 anos. As panelas ficaram vazias porque mal havia comida para levar ao fogo. Só um resto de arroz no armário. Sem nada de feijão, carne ou ovos. “É assim toda vez que vai acabando o dinheiro do Bolsa”, confessa Luciana, num misto de vergonha e tristeza. A esperança de ver a despensa um pouco mais abastecida depende, todo mês, dos R$ 130 que a jovem recebe do Bolsa Família, o programa federal de assistência aos mais pobres. É a única renda da casa. E por ser a única joga Luciana na faixa de maior vulnerabilidade social: a dos que vivem na condição de extrema pobreza. Se, para a classe média, o desemprego e a baixa remuneração representam um duro impacto na qualidade de vida, para essa faixa da população não há quase nada a perder.

Não são poucos no Estado. Em Pernambuco, um milhão de pessoas sobrevivem com menos de R$ 145 por mês. Algo em torno de 11% dos pernambucanos. Com dois filhos pequenos, Luciana não esconde que, muitas vezes, precisa recorrer a vizinhos e parentes para colocar comida dentro de casa. “Pedir é feio, mas ficar com fome é pior ainda”, diz. Tudo em volta da jovem é miséria: a palafita que, na maré alta, é inundada pelas águas sujas do rio; a falta de saneamento; a baixa escolaridade; o desemprego; a desesperança.

>>> Leia também: Desemprego derruba qualidade de vida da classe média

Moradora da comunidade do Bode, no Pina, Zona Sul do Recife, Luciana ainda encontrava um alento na venda do sururu que pescava toda semana no mangue. Mas, desde que o vazamento de óleo chegou às praias do litoral pernambucano, em agosto deste ano, essa fonte secou. Ela simplesmente não acha quem queira comprar o produto. “As pessoas têm medo de comer. Não adianta nem sair para buscar no mangue, porque ninguém quer.”

Quando se olha a série histórica que mede o tamanho da miséria que envergonha o País, os índices só pioraram. Ao todo, 13,5 milhões de pessoas no Brasil viviam em 2018 com até R$ 145 por mês, o que corresponde a 6,5% da população. Esse percentual em 2014 era de 4,5%. Significa dizer que 4,5 milhões de brasileiros passaram a integrar a parcela dos extremamente pobres – um aumento de 50% no número de miseráveis. Assim como no Brasil, a taxa cresceu em Pernambuco na série histórica, iniciada em 2012, ainda que timidamente. E atinge prioritariamente pretos e pardos, como Luciana e seus dois filhos. A extrema pobreza tem cor. Mais de 75% das pessoas em condição de miserabilidade no Estado são negras.

A piora nos indicadores sociais, observada nos últimos anos, assombra o futuro de milhares de brasileiros e pernambucanos. Torna ainda mais improvável o compromisso firmado pelo Brasil de erradicar a miséria no País. Firmada em 2015, como parte da agenda proposta pelas Nações Unidas, a meta estipulava o ano de 2030 como o prazo final para eliminar a extrema pobreza. O desafio é tirar do mapa da miséria uma população do tamanho de países como Bolívia, Bélgica, Grécia e Portugal. Missão cada vez mais distante e difícil.

Últimas notícias