Os brasileiros estão sendo orientados a não viajar para a China. Não se trata de uma proibição, mas o Ministério da Saúde disse nesta terça-feira (28) que as pessoas devem evitar se expor a uma possível infecção pelo coronavírus. O comunicado foi dado em coletiva de imprensa, em Brasília, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) aumentar o nível de alerta para alto em relação ao risco global de epidemia do vírus que já matou 106 pessoas na China. Um mapa criado pela Universidade Johns Hopkins (Johns Hopkins University) mostra em tempo em real a evolução do número de casos registrados no mundo.
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Com quase três mil casos confirmados, segundo o último boletim da OMS, todo o território chinês passa a ser considerado área de transmissão ativa da doença. Com isso, as pessoas vindas desta localidade nos últimos 14 dias e que apresentem febre e sintomas respiratórios podem ser consideradas casos suspeitos. "Não se sabe, ainda, qual é a característica desse vírus, que é novo; sabemos que ele tem alta letalidade", destacou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Não é recomendável que a pessoa se exponha a uma situação dessas e depois retorne ao Brasil e exponha mais pessoas. Recomendamos que, não sendo necessário, que não se faça viagens, até que o quadro todo esteja bem definido
Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde
Até a publicação do boletim desta terça, três casos suspeitos da doença estão sendo monitorados pelas autoridades de saúde brasileiras. Eles estão localizados em Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR), além de Belo Horizonte (MG), noticiado pela manhã. Os pacientes se enquadraram na atual definição de caso suspeito para nCoV-2019 (o novo coronavírus), estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, apresentaram febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, além de terem viajado para área de transmissão local nos últimos 14 dias.
Turismo ainda mede impactos do coronavírus
Embora a orientação tenha sido dada nesta terça, o assunto coronavírus ganhou os noticiários internacionais desde o fim de dezembro de 2019, quando os primeiros casos surgiram. Há casos em países como Estados Unidos, Canadá, Coreia do Sul, Malásia e França.
Questionada se a proliferação do vírus tem alterado a dinâmicas do turismo, seja de negócios ou a lazer, a presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Magda Nassar, disse que até a noite desta terça (28) ainda não foram registrados casos de cancelamentos. Pelo menos entre as 2,2 mil empresas associadas à entidade no País. "Quem tinha viagem para a China está remanejando, mas não deixando de viajar", afirma. "Claro que nenhum agente de viagem recomenda ir ao país nesse momento, mas o cliente está sendo orientado a mudar de destino", pontua. De qualquer forma, quem desejar cancelar ou alterar a viagem terá as condições facilitadas pelas agências e companhias aéreas, sem a cobrança de taxas.
Para Magda, o surto não deve ter impacto no turismo brasileiro por enquanto, uma vez que o fluxo de viajantes entre o Brasil e a China "ainda é pequeno nos dois sentidos", em comparação com outros destinos, como Argentina e Estados Unidos. "Só há uma suspeita do coronavírus no País. O impacto real ainda é muito distante de nós, do outro lado do mundo. Vemos a China tomar todas as medidas necessárias e acreditamos que o vírus será contido num curto espaço de tempo", ressalta. A estimativa de crescimento do setor no Brasil nesta alta temporada, de acordo com a Abav, é de 5% a 8%, comparado ao mesmo período do ano passado.
Já a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos no Brasil (Clia-Brasil), por meio de nota, diz que por enquanto só há impacto sobre as viagens de navios que partem da China, que tiveram as saídas canceladas. No Brasil, a Clia diz que "segue em contato com as entidades responsáveis, como Anvisa e Ministério da Saúde, pronta para entrar em ação quando for necessário".
Por outro lado, a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) revela que as pessoas que têm viagens em fevereiro e março para a China, ou região, já estão cancelando ou remarcando seus pacotes. “Existe uma união do setor no que diz respeito à isenção de taxas para cancelamentos e adiamentos, inclusive por parte das cias aéreas. Tudo está sendo monitorado”, afirma em nota.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), a China é o país que mais emite turistas para o mundo, com 141 milhões de chineses viajando ao exterior anualmente. Este número deve ultrapassar a marca dos 300 milhões em 2030.
Em 2018, o Brasil recebeu 56.333 turistas vindos da China, ante 61.250 em 2017, de acordo com o Ministério do Turismo. A Pesquisa da Demanda Turística Internacional feita pela pasta aponta que esses turistas gastaram em média US$ 65,29 por dia e ficaram, em média, 30 dias no Brasil, tendo como principais motivações o turismo de negócios e o ecoturismo. No sentido contrário, o número de brasileiros que visitaram destinos chineses em 2018 foi de 75.598. Sobre os dados de 2019, o ministério diz que "está fechando um levantamento para ser divulgado posteriormente". "O governo federal monitora diariamente a situação do coronavírus junto à OMS. Portos, aeroportos e fronteiras já foram notificados e o Ministério da Saúde instalou um Centro de Operações de Emergência para o atendimento de possíveis casos", declara a pasta, via nota.
Pesquisa feita nesta terça-feira (28) em um site de buscas de passagens aéreas mostra que sair do Recife para uma das três principais cidades chinesas pode custar mais de R$ 6 mil. Para se ter ideia, o preço da viagem ida e volta entre Recife/Hong Kong varia de R$ 7.843 a R$ 26.301. Já para Xangai esse valores ficam entre R$ 8.020 e R$ 49.421. No caso de Pequim, os preços ficam entre R$ 6.770 e R$ 31.912.
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PREJUÍZOS DE OUTROS SURTOS
O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) declarou na última sexta-feira que o coronavírus ameaça causar sérias e duradouras consequências econômicas, caso haja pânico sobre o potencial de contaminação. Isso a menos que "lições sejam aprendidas com epidemias virais anteriores".
O impacto econômico mundial do surto mexicano do vírus da influenza H1N1 em 2009, por exemplo, foi estimado em até US $ 55 bilhões, com a perda para o setor de turismo mexicano avaliada em US$ 5 bilhões. Um impacto econômico semelhante afetou a China, Hong Kong, Cingapura e Canadá após o surto de SARS em 2003, prejudicando o setor global de viagens e turismo entre US$ 30 bilhões e US$ 50 bilhões. Somente a China sofreu uma redução de 25% no PIB do turismo e uma perda de 2,8 milhões de empregos.
Segundo a presidente e CEO do WTTC, Glória Guevara, as análises de casos anteriores apontam que as perdas econômicas decorrentes de epidemias de saúde são evitáveis, através do uso eficaz de procedimentos de preparação e gerenciamento de crises, bem como através do gerenciamento de pânico público e tomada de decisões racionais através de viagens.
Guevara ressalta que o tempo médio de recuperação para o número de visitantes de um destino foi de 19 meses nas crises anteriores, mas "com a resposta e o gerenciamento corretos", a recuperação pode ser reduzida para 10 meses.
Casos confirmados do coronavírus
China: 4.409
Hong Kong: 8
Tailândia: 8
Macau: 6
Austrália: 5
Cingapura : 5
Taiwan: 5
Estados Unidos: 5
Japão: 4
Malásia : 4
Coreia do Sul: 4
França: 3
Vietnã: 2
Camboja: 1
Canadá: 1
Alemanha: 1
Nepal: 1
Sri Lanka: 1
(Até às 14h53 do dia 28.01.2020)