Hoje com 57 anos, o empresário mineiro Omar Peres recebeu ainda menino um tesouro de presente do pai, o ex-lateral-direito da seleção brasileira Sylvio Hoffmann: a camiseta com a qual ele jogou a Copa do Mundo de 1934, na Itália. O menino Omar a guardou com carinho por toda a vida. Dezesseis anos atrás, resolveu doá-la ao Museu da seleção brasileira, que fica na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Barra da Tijuca. Na última terça-feira, o sonho de vê-la exposta ao público ruiu: Peres foi informado de que a camiseta havia sido comida pelas traças.
Leia Também
- Fifa já prepara suspensão 'severa' para Marco Polo Del Nero, presidente da CBF
- CBF cria comissão para avaliar árbitros e promete premiação aos melhores
- CBF diz desconhecer decisão da Justiça sobre indenização de R$ 500 mil
- Justiça condena Santa Cruz e CBF com indenização de R$ 500 mil
- CBF divulga calendário de competições em 2017
A CBF informou que a camisa foi doada "quando ainda não havia condições adequadas para o armazenamento de materiais". "Em 2006, a CBF criou a Gerência de Memória e Acervo, que, ao iniciar o trabalho de catalogação das peças, encontrou algumas em mau estado de conservação", disse nota da CBF.
Quem deu a má notícia a Peres foi o gerente de Memória e Acervo da CBF, Antonio Carlos Napoleão. Em uma carta, ele disse ainda que as pragas haviam destruído também as camisetas de Veludo, goleiro na Copa de 1954, na Suíça, e de Oreco, lateral na Copa de 1958, na Suécia. E não só elas. O mesmo fim teve uma das camisas usadas por Zico na Copa de 1982, na Espanha.
Vinte e três peças de partidas amistosas da seleção também se perderam. Peres, que entregou a camiseta do pai nas mãos do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, pediu fotografias do que restou dela; caso a prova lhe seja negada, pretende processar a CBF e pedir uma indenização pela sua perda.
"É inacreditável, uma vergonha. Guardei a camiseta a vida inteira, como uma relíquia, porque meu pai disse que era a única camiseta da Copa de 1934 que existia. Agora, foi jogada no lixo. Eu não quero ser leviano, mas se ela estragou, tem que ter foto documentando. Eles têm que me provar o que dizem que aconteceu", afirmou Perez.
"O gerente afirmou que assumiu o cargo e já encontrou o material deteriorado, mas eu entreguei em perfeitas condições. Se eles não tinham condições de cuidar, que me devolvessem. O compromisso foi de que a camiseta ficaria exposta", criticou. "É um patrimônio que eu quis deixar para o público. Há uns 20 anos levei a camiseta à (casa de leilões) Sotheby’s, em Londres, para uma avaliação e o leiloeiro disse que era muito valiosa, com lance inicial de uns US$ 100 mil (cerca de R$ 313 mil)".
Na carta, com o título de "Declaração" e sem data, Napoleão informa que ao assumir o posto, em 2008, pediu a retirada das peças do acervo e biblioteca da CBF. Foi durante esse processo que "foram verificadas diversas perdas por conta de cupim, traças, fungos e parasitas". Entre o que foi perdido, estão documentos de valor histórico, como atas de reuniões dos anos 30 do século passado, exemplares do livro oficial Fifa das Copas de 1934, 1938, 1950 e 1954 e relatórios oficiais da CBF.
O carioca Sílvio nasceu em 1908 e morreu em 1991. Começou a carreira aos 17 anos, no Vasco. Antes de chegar à seleção, passou pelo Fluminense, o São Cristóvão, o Santos e o uruguaio Peñarol. Foi convocado para a seleção brasileira para a disputa da Copa de 1934 quando estava no São Paulo. Após se aposentar dos campos, virou dono de restaurante.
Ainda pouco conhecido, o Museu da seleção tem mil metros quadrados e foi aberto há dois anos para guardar a memória do futebol brasileiro. Lá o visitante pode ver fotos históricas, réplicas das taças das cinco copas conquistadas pelo Brasil, além dos uniformes oficiais - e algumas réplicas - de todas as camisas usadas pela seleção.