Um mago sem varinha. Sem cartola. Cuja única ferramenta de trabalho é uma bola. Aliás, foi com a fiel companheira que Rosembrick deslanchou no futebol e apareceu para o mundo. Saiu de São Lourenço da Mata para fazer magia Brasil à fora. Hoje, aos 38 anos e defendendo a Cabense na Série A2 do Campeonato Pernambucano, o “mago bola” abriu a “caixa preta” da carreira. Em entrevista ao JC, dada no estádio Gileno di Carli, no Cabo de Santo Agostinho, o pernambucano lembrou de quando foi indicado por Tite ao Palmeiras, negou qualquer problema com bebidas durante a vida e falou sobre as curiosidades na carreira.
Poucos sabem, mas Rose foi contratado pelo Palmeiras em 2006 após receber um telefonema do então técnico alviverde Tite, hoje na seleção brasileira. O jogador era um dos destaques do Santa Cruz à época e despertou o interesse paulista após uma partida no antigo Palestra Itália, mesmo com uma derrota da Cobra Coral por 2x1. O contato inicial foi do presidente do clube, Affonso Della Monica Netto. O treinador entrou na negociação logo em seguida.
“Foi o presidente quem me ligou, através dos empresários que naquele tempo eu tinha. Depois ele(Tite)ligou e disse: 'Quero você aqui. Você vai vir mesmo? Posso confiar em você?'. Aí eu disse: ‘pode’. Graças a Deus, até hoje, a gente se fala no Whatsapp. Falo com ele e com o Edmundo (ex-atacante palmeirense). É uma pessoa que toda vez que eu falo me responde tranquilo”, lembrou o jogador.
E uma das histórias mais curiosas do são-lourensense em terras paulistas foi justamente com Edmundo, ídolo do clube alviverde. Surgiu o rumor na época de que o meia teria pago incríveis R$ 20 mil reais em um jogo de rodas do carro do craque. Aos risos, Rosembrick explicou a história e classificou apenas como mais um dos vários folclores que existem no futebol.
“Continua ainda essa história no ar. Com certeza é mentira. Edmundo tinha uma Land Rover e eu uma Hilux, eu não tinha como estar comprando roda. Edmundo não tinha nada de loja de carro. É só resenha de internet mesmo”, explicou.
O contrato com o Palmeiras era de três anos, mas o pernambucano cumpriu apenas sete meses. Passou a maioria das partidas no banco de reservas, causando insatisfação no jogador, que pediu para ser transferido. O destino? O Sport, em 2007. Justamente o arquirrival do clube que o fez aparecer para o mundo.
“Naquele tempo eu não tinha a cabeça que tenho hoje. Eu era titular no Santa Cruz, um ano sem ficar na reserva. Depois eu chego ao Palmeiras e viro reserva. Via que tinha condições de jogar e achava melhor vir para aqui (Recife). Foi uma opção boa que fiz, vim para cá e fui campeão pelo Sport (em 2007, no Campeonato Pernambucano)”, explicou.
O título não reflete o futebol que Rosembrick apresentou na Ilha do Retiro. O meio-campo não voltou a ter as apresentações que o consagraram no Arruda, quando conquistou o Estadual e o vice da Série B em 2005. A partir daí passaram a surgir especulações sobre a conduta do jogador fora de campo. Um possível problema com bebidas passou a ser usado como justificativa para a queda na carreira.
Rosembrick não nega que gosta de bebidas alcoólicas. Fez até uma ironia quando questionado sobre o assunto. “Se vocês da imprensa gostam, porque a gente (jogadores) não pode?”, indagou. Mesmo com a brincadeira, ele garantiu que nunca teve problemas com o extracampo.
“Quem tem a sua boca fala o que quer. É só ir lá na minha folga em São Lourenço me procurar ou onde eu tiver. Vai lá, senta na mesa comigo e pronto. Eu vou ter jogo na quarta e no domingo, então eu não vou ter tempo de fazer o que eu quero. A gente sabe o momento de fazer. Nunca tive problema com bebida não. Na folga a gente faz o que quer. Pega aquele pedaço de picanha, bota para assar e toma aquela cerveja. Se vocês fazem, por que a gente não pode? Vocês (jornalistas) também gostam de um cabelo loirinho bonitinho, uma marquinha de biquíni na beira da praia... É só alegria”, afirmou.
Em seguida fez outra pergunta, mais uma vez questionando o repórter que assina esta matéria. “E vocês da imprensa gostam de tomar um “gelinho”, gostam de um negócio que a gente gosta. Então pesa para vocês trabalharem no outro dia?”, afirmou.
A fama e a boa condição financeira fizeram o “mago da bola” ficar cercado de pessoas que hoje não o acompanham mais, como empresários, falsos amigos e mulheres. Hoje, casado e pai de um filho de 11 anos, o jogador garante que não sente falta das amizades dos tempos auréos.
Uma das boas consequências trazidas pela fama foi a estabilidade financeira. Rose não depende mais apenas do futebol. “Amarrou o burro na sombra” como diz o ditado. É dono de uma autopeças e um lava jato, ambos no Paraná, Estado que escolheu para viver.
O Sul do País é considerado como um refugio para o pernambucano. Ele garante que, quando está em Pernambuco, “a vida não para quieta”. “Para mim é melhor morar no Paraná. Quando passam dez ou 15 dias que eu estou no Recife, começam a falar do Mago. Então eu me sinto muito bem morando lá, faço as minhas coisas no sossego”, concluiu.
O sobe e desce na vida não desanimam o “mago da bola”. Sorridente e feliz, ele participou de quase todo o treino da Cabense logo no seu primeiro dia, na última terça-feira. O gás pode não ser mais o mesmo, mas o velho Rose continua praticamente igual. Carregando sempre a polêmica e a sinceridade. E, será nessa pegada, que o camisa 10 tentará levar o Cabo de Santo Agostinho de volta à elite Estadual.