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Casos de racismo crescem no esporte brasileiro e atingem maior índice em cinco anos

Observatório da Discriminação Racial registrou 47 casos no Brasil até novembro

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Publicado em 01/12/2019 às 10:52
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Observatório da Discriminação Racial registrou 47 casos no Brasil até novembro - FOTO: Foto: Reprodução / Twitter @FCShakhtar
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Depois que foi chamado de "macaco" pelos irmãos Adrierre e Natan Siqueira da Silva e recebeu uma cusparada no rosto, o segurança Fábio Coutinho não queria contar para ninguém. O vigilante temeu que não acreditassem na sua versão, pois não sabia que a agressão havia sido filmada. Hoje, ele fala sobre o tema por acreditar que está no meio de uma causa coletiva, que casos de injúria racial continuam a acontecer, mas evita ver o vídeo do dia 10 de novembro feito nas arquibancadas do Mineirão.

As dificuldades de Fábio estão mesmo inseridas em um contexto mais amplo: o aumento dos casos de injúria racial no esporte brasileiro em 2019. O Observatório da Discriminação Racial, entidade dedicada a pesquisar e discutir o tema, registrou 47 casos no País até novembro. O número representa um crescimento de 6,8% em relação ao ano passado, quando foram registradas 44 ocorrências.

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Os casos de 2019 representam a maior marca nos últimos cinco anos. "Um dos maiores erros é enxergar cada caso como uma novidade. Todos estão inseridos em um contexto que exige preocupação e atitude", explica Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório.

Para os especialistas, a questão está ligada a problemas estruturais da sociedade brasileira. O sociólogo Rogério Baptistini Mendes, da Universidade Mackenzie, opina que os episódios nos estádios de futebol reproduzem o processo de exclusão do negro na sociedade por conta da escravidão. Nos momentos de tensão social frequentes nos estádios, quando as pessoas são colocadas como torcedoras de times diferentes, a exclusão ressurge. "A abolição da escravatura foi insuficiente para inserir o negro na vida social. O que nós imaginávamos que estivesse sendo mitigado com o avanço da educação e a melhoria das condições econômicas e políticas voltou à tona com a polarização da vida social nos últimos anos", conceitua.

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Roger Machado, um dos dois técnicos negros da Série A do Campeonato Brasileiro, concorda. "Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural", opinou o treinador.

Para Marcel Tonini, pesquisador da USP, vários fatores explicam o aumento dos casos. "Os jogadores parecem estar um pouco mais encorajados a denunciar, seja por autoconsciência, seja por influência de atletas internacionais; segundo, a imprensa tem tratado o tema com mais recorrência e profundidade; terceiro, talvez, pelas ações do Observatório e por clubes nas redes sociais."

O historiador Amailton Azevedo defende punições mais efetivas. "Não basta exibir faixas com dizeres ‘Diga não ao racismo’. É urgente uma política que puna os clubes. Os torcedores racistas devem ser banidos e o patrocínio das empresas pode ser cortado para os clubes que não adotarem medidas contra racistas", sugere.

No caso de Fábio, o Atlético foi multado em R$ 130 mil. Os torcedores foram expulsos do quadro de sócios-torcedores. Um deles responde por crime de injúria racial, com pena de 1 a 3 anos e multa.

EUROPA

O futebol europeu vem sofrendo com casos recorrentes de injúria racial. Os incidentes mais recentes envolvem atletas que atuam na Itália. Na última quarta-feira, o atacante Romelu Lukaku, da Inter de Milão, foi alvo de cânticos racistas de torcedores do Slavia Praga, na República Checa, em jogo da Liga dos Campeões. No início do mês, o atacante Mario Balotelli havia sofrido fato semelhante em partida do torneio nacional. Lukaku pediu providências. "Espero que a Uefa faça alguma coisa porque o estádio inteiro se comportou daquela forma", declarou o belga.

Nesse contexto, os 20 clubes da Primeira Divisão italiana divulgaram carta aberta na sexta-feira, reconhecendo o problema. "Não temos tempo a perder", diz trecho do documento.

O Observatório da Discriminação Racial registrou 13 casos envolvendo atletas brasileiros na Europa. Em um deles, os brasileiros Taison e Dentinho foram alvo de ofensas racistas no Campeonato Ucraniano entre Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, em 10 de novembro. Taison reagiu aos cânticos racistas gesticulando e chutando a bola em direção aos torcedores rivais. Acabou expulso do jogo, que chegou a ser paralisado pelo árbitro por cerca de cinco minutos. O jogador foi suspenso por uma partida.

Para o sociólogo Rogério Baptistini, da Universidade Mackenzie, a Europa apresenta um contexto diferente em relação ao racismo. "A questão gira em torno do nacionalismo mais primitivo do século XIX que se manifesta pela cor da pele, mas não só por essa questão", explica o professor.

"Nos países do Leste Europeu, o futebol é um sinal de identidade nacional. Com a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, nos anos 1989-1990, nós temos uma precarização da vida. Diante disso, existe uma afirmação de identidade como se fosse uma defesa em relação aos outros, vistos como inimigos. Os outros são imigrantes, aqueles que se dão bem em alguma esfera da vida, como o futebol. O futebol passa a marcar uma identidade que está ameaçada. São situações ligadas ao nacionalismo", completa.

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