Por Luana Ponsoni e Filipe Farias
Por mais que a Fifa incentive o fair play (jogo limpo)no esporte, o tema divide opiniões e nem sempre é utilizado da melhor maneira, principalmente nos jogos mais acirrados. Porém, um caso ocorrido no futsal escolar de Pernambuco deveria servir de inspiração para todos (ou de reflexão), sobretudo para o futebol profissional. E a saga ainda terminou com uma forcinha do destino.
Na última terça-feira, o time de futsal sub-13 do Colégio Marista São Luís deixou o Colégio Equipe chegar ao empate no primeiro jogo da semifinal da Liga das Escolas Particulares do Recife, depois de ter um gol irregular validado pelo juiz. A partida acabou com vitória do adversário por 2x1. No duelo da volta, ontem, na quadra do São Luís, o time da casa conseguiu vencer por 1x0, com um gol marcado no final do segundo tempo e que forçou uma prorrogação. A igualdade permaneceu no tempo extra e o São Luís obteve a classificação para a final por ter feito uma melhor campanha. O adversário será o Visão.
Leia Também
- Uefa arquiva investigação contra o PSG sobre fair play financeiro
- Senegal foi a primeira equipe eliminada por fair play das Copas
- Dudu é o craque do Brasileirão; Sport leva fair play no feminino
- Fair Play financeiro pode obrigar PSG a vender estrelas
- Equipe de futsal do São Luís dá show de fair play e ainda consegue classificação para a final
- Em torneio sub-13, pais se comovem com atitude de treinador que exigiu Fair Play de seus alunos
A festa foi grande pela conquista da classificação, ainda mais pela grande lição de honestidade e justiça da equipe comandada pelo técnico Gileno Siqueira, de 36 anos. “Foi apenas o espírito de justiça de a gente fazer o que sempre fez. Buscamos ensinar mais do que jogar bola, porque jogar eles já sabem. Buscamos ensinar jogar de forma limpa, respeitosa. Você nao vê nossos jogadores brigando com o árbitro. Fez falta, pede desculpa. Precisamos disso”, afirmou Gileno após o jogo de ontem.
JOGO DO FAIR PLAY
A partida da última terça-feira seguia muito disputada, sem que nenhum dos times conseguisse inaugurar o placar. Na reta final da partida, porém, um atleta do São Luís chutou forte da intermediária e a bola caiu dentro do gol. Só que a rede estava furada, gerando muitas dúvidas sobre o lance.
Depois que o juiz validou o tento, um princípio de confusão se instalou e um dos jogadores do Equipe questionou a atitude do árbitro, recebendo cartão amarelo. Diante de toda a situação, o técnico Gileno Siqueira chamou o autor do gol e perguntou se a bola realmente tinha entrado por fora. Com a resposta positiva do atleta, o treinador orientou que todos ficassem imóveis quando o jogo recomeçasse para o Equipe empatar a partida. “O meu enteado, que é o meu filho do coração, joga no time. Ele não escutou quando dei a orientação e até acabou partindo para disputar a bola. Tive que gritar para ele parar”, relatou.
Apesar de a atitude gerar consternação inicial em alguns pais e pessoas que estavam na torcida, esse sentimento logo foi substituído por admiração. “Eu prego muito para os meninos que eles precisam disputar e batalhar muito por tudo, mas do jeito certo. Não a qualquer custo. Quando eu tive a certeza que a bola não entrou, era o correto a se fazer”, contou Gileno.
O treinador relatou ainda que essa não foi a primeira vez que ele e sua equipe optaram por seguir o que é certo dentro das quatro linhas. “Já aconteceu, em outros jogos, de o adversário chutar, a bola bater na trave e o juiz não dar o gol e eu ir lá e falar. Mas, desta vez, o árbitro não quis ouvir. E foi algo muito claro para todo mundo. Então, tive que ter uma postura maior. Pense como eu fui aplaudido (risos). Passei o dia hoje (ontem) recebendo mensagens. É algo muito estranho para a sociedade da gente. Mas sempre digo aos meninos: só podemos ter o que é nosso”, observou.
O curioso é que, apesar da pouca idade, todos os jogadores do Marista São Luís entenderam o porquê da orientação do treinador. “Eles não fizeram nenhum comentário, nenhuma reclamação. Esse poder de comandar bem esses meninos tenho há um tempo. Eles sabem que tudo que eu faço é para o bem deles. Ensino-os a serem competitivos, a terem espírito de disputa, mas de maneira justa. É o que mais importa”, concluiu.