Em reportagem publicada neste sábado (24), o jornal The New York Times destacou que as queimadas que ocorrem este ano na Amazônia atingem uma escala não vista em quase uma década em igual intervalo. Citando especialistas e agências de dados por satélite, a publicação afirma que o número de incêndios no trecho brasileiro da floresta tropical é o maior desde 2010. "O número de incêndios na Amazônia até o momento neste ano, 40.341, é o maior desde 2010 e cerca de 35% maior que a média dos oito primeiros meses do ano", informa o jornal.
O NYT pondera que no início dos anos 2000 o número de incêndios era superior ao registrado nos primeiros sete meses deste ano, mas que a taxa de desmatamento levou o Brasil a adotar um "conjunto ambicioso de políticas para preservar a Amazônia e outras áreas ambientalmente sensíveis". "Muitas dessas medidas foram corroídas no relógio de Bolsonaro", ressalta o artigo.
Leia Também
- Governadores da Amazônia Legal pedem providências contra incêndios
- Com 'dica' do Planalto, governador do Acre pede a Macri avião contra incêndio
- ''Vamos atuar fortemente para controlar os incêndios na Amazônia'', diz Bolsonaro
- Bolsonaro: incêndios na Amazônia não podem ser pretexto para sanção internacional
- Paraguai controla incêndio na fronteira com Bolívia e Brasil
- Trump oferece ajuda a Bolsonaro para controlar incêndios na Amazônia
A reportagem aponta ainda que o "desastre ecológico da Amazônia" se transformou em uma crise política global. O NYT relata que a atenção internacional está voltada ao Brasil, também pelo fato do País ser líder em aliar proteção ambiental às florestas tropicais e desenvolvimento econômico. "Essa reputação suada vem desmoronando na era de Bolsonaro", pontua a reportagem.
'Acerto de contas'
O jornal classificou o pronunciamento feito nessa sexta-feira (23) à noite em rede nacional de televisão pelo presidente Jair Bolsonaro como um "acerto de contas" com a população, em meio a possíveis retaliações comerciais a uma economia que ainda se recupera de uma "brutal recessão". "A súbita reversão, após dias a desconsiderar a crescente preocupação com centenas de incêndios em toda a Amazônia, ocorreu quando a indignação internacional cresceu sobre o crescente desmatamento na maior floresta tropical do mundo. Líderes europeus ameaçaram cancelar um grande acordo comercial, manifestantes realizaram protestos em frente a embaixadas brasileiras e apelaram por boicote a produtos brasileiros nas redes sociais", destacam os repórteres Ernesto Londoño, Manuela Andreoni e Letícia Casado, em referência à medida do governo de enviar as Forças Armadas para a floresta amazônica.
Para o periódico norte-americano, é "improvável" que o plano do governo federal possa resolver a "crise subjacente sem uma mudança em suas políticas ambientais". O artigo afirma que as políticas da atual gestão federal "encorajam mineradores, madeireiros e agricultores a desmatar e queimar áreas protegidas com um senso de impunidade". O jornal lembra que o presidente Bolsonaro se comprometeu, em campanha eleitoral, a facilitar o acesso das indústrias a áreas protegidas com enorme riqueza, que estariam sob o controle de comunidades nativas. "A maioria dos incêndios são intencionalmente destinados a desbravar terras para agricultura pecuária", diz o artigo.
A reportagem também cita as desavenças entre o presidente francês Emmanuel Mácron e o presidente brasileiro.