DOENÇA

Coronavírus: Militares que resgatarão brasileiros na China terão quarentena, diz Bolsonaro

Dois aviões da frota presidencial devem sair do Brasil nesta quarta para buscar 29 pessoas em Wuhan

Katarina Moraes
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Katarina Moraes
Publicado em 05/02/2020 às 12:33
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FOTO: SONNY TUMBELAKA / AFP
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O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 5, que os militares envolvidos no resgate de brasileiros em Wuhan, na China, também terão de passar por período de quarentena no Brasil. A cidade de Wuhan é o epicentro do novo coronavírus.

"E o pessoal chegando, inclusive nosso pessoal da Força Aérea, mais de uma dezena de militares, quando voltar, também vão passar o carnaval em quarentena. Então, é responsabilidade acima de tudo, trazendo esse pessoal de lá para cá", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada.

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Dois aviões da frota presidencial devem sair do Brasil nesta quarta para buscar 29 pessoas em Wuhan. No grupo, há quatro chineses que são parentes dos brasileiros que serão repatriados. A previsão é de que eles retornem ao País no próximo sábado.

O Ministério da Saúde já havia anunciado que os repatriados passariam por quarentena de 18 dias, na base aérea de Anápolis (GO). Segundo Bolsonaro, a princípio todos ficarão em Anápolis, Goiás, civis e militares.

Mapa de contaminação

Mortalidade

"O que vimos até agora é que esta doença (...) não é tão violenta quanto a Sars", disse Gao Fu, diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, no domingo (26).

"Temos a impressão (...) de que hoje a propagação desse vírus é mais rápida que a Sars, mas sua mortalidade é claramente menor", concordou a ministra da Saúde da França, Agnès Buzyn, do país onde foram detectados os primeiros casos da Europa. 

O novo vírus, batizado 2019-nCoV, e o da Sars pertencem à mesma família de coronavírus e no plano genético têm 80% de semelhanças. 

Segundo a OMS, a epidemia de Sars deixou 774 mortos em 8.096 casos no mundo em 2002/2003, antes de ser interrompida, ou seja, uma taxa de mortalidade de 9,5% (comparado a 34,5% de outra epidemia causada por um coronavírus, a Mers). 

Até agora, o novo vírus deixou 81 mortos, todos na China, dos 2.744 casos detectados (mais de 40 no exterior), o que equivale a uma taxa de mortalidade inferior a 3%. 

No entanto, esse número é apenas indicativo: o número real de pessoas infectadas é desconhecido porque os pacientes com pouco ou nenhum sintoma não são contados. 

"A taxa de mortalidade parece diminuir com o passar dos dias, juntamente com um número maior de casos detectados", disse Buzyn.

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Turistas chineses em Dempassar, na Indonésia - SONNY TUMBELAKA / AFP
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Pedestres usam máscaras durante feriado do Ano Novo Chinês, em Hong Kong - ANTHONY WALLACE / AFP
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Turistas chineses em Dempassar, na Indonésia - SONNY TUMBELAKA / AFP
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Casal usando máscaras no metrô de Hong Kong, na China - Anthony WALLACE / AFP
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Passageiros usando máscaras aguardam por trem na plataforma em Hong Kong - Anthony WALLACE / AFP
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Passageiros usando máscaras viajam em trem durante feriado de Ano Novo Chinês - Anthony WALLACE / AFP
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Homem usando máscaras sentado em um banco enquanto aguarda por trem - Anthony WALLACE / AFP
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Turista chinês usa máscara para se proteger do coronavírus em Dempanssar, na Indonésia - SONNY TUMBELAKA / AFP
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Passageiros usando máscaras aguardam por trem na plataforma em Hong Kong - Anthony WALLACE / AFP

Transmissão

Os cientistas do Imperial College de Londres estimam que "em média, cada caso (de um paciente portador do novo coronavírus) infectou 2,6 pessoas a mais". 

Chamada de "taxa básica de reprodução" ou R0, essa medida é importante para entender a dinâmica de uma epidemia. 

No caso da Sars, estima-se que cada caso tenha infectado uma média de 2 a 3 pessoas (como a gripe), mas com grandes disparidades: havia "super transmissores" capazes de contaminar dezenas de pessoas. 

No caso do novo vírus, há uma pergunta crucial: em que estado de infecção o paciente se torna contagioso. "O contágio é possível durante o período de incubação", ou seja, antes mesmo que os sintomas apareçam, disse Ma Xiaowei, diretora da Comissão Nacional de Saúde da China, no domingo. "É muito diferente da Sars", insistiu. 

Essa hipótese, no entanto, baseia-se na observação de vários primeiros casos e ainda não está confirmada. 

"Se isso for incomum, terá um impacto mínimo na evolução da epidemia, mas se for frequente, será cada vez mais difícil de controlar", explica o virologista Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham (Inglaterra). 

Acima de tudo, dado que o período de incubação pode ser prorrogado até duas semanas, segundo estimativas. Se essa hipótese for confirmada, "medidas como controle de temperatura nos aeroportos seriam ineficazes", disse a professora britânica Sheila Bird.

Sintomas

A doença causada pelo novo coronavírus e a Sars apresentam sintomas comuns, de acordo com a observação dos 41 primeiros casos detectados na China. 

Todos os pacientes sofriam de pneumonia, quase todos tinham febre, três em cada quatro tossiam e mais da metade apresentava dificuldades respiratórias. 

Mas "existem diferenças notáveis com a Sars, como a ausência de sintomas que afetam as vias aéreas superiores (congestão nasal, dor de garganta, espirros)", diz o Dr. Bin Cao, principal autor desses trabalhos publicados na revista The Magazine Lancet.

A idade média dos 41 pacientes é de 49 anos, e menos de um terço sofreu doenças crônicas (diabetes, problemas cardiovasculares...). Quase um terço teve uma condição respiratória aguda e seis morreram. 

Embora não se possam tirar conclusões gerais devido aos poucos pacientes controlados do novo coronavírus, essas observações permitem elaborar um primeiro quadro clínico da doença - que já matou dezenas, principalmente na China - pois a nova infecção apresenta sintomas semelhantes aos da gripe de inverno, dificultando o diagnóstico. 

Não existe vacina ou medicamento para o coronavírus e a assistência médica é para tratar os sintomas.

Controle da epidemia

A epidemia de Sars foi contida em vários meses, graças à extensa mobilização internacional. A China impôs rígidas medidas de higiene à sua população, além de dispositivos de isolamento e quarentena. 

O país também proibiu o consumo de gatos da algália, um mamífero pelo qual o vírus foi transmitido ao homem. 

No caso do novo vírus, não se sabe até agora qual animal desempenha esse papel intermediário. Enquanto isso, a China proibiu o comércio de todos os animais selvagens.

Wuhan, epicentro do coronavírus

A cidade de Wuhan, que ocupa o centro das atenções por estar na origem de uma epidemia de pneumonia viral, é uma megalópole industrial localizada no centro da China.

Esta capital regional, com 11 milhões de habitantes, onde um novo coronavírus apareceu em dezembro, está isolada do mundo desde que foi colocada em quarentena na última quinta-feira (23).

Localização estratégica 

Wuhan está entre dois eixos importantes: Yangtze, o rio mais longo da Ásia, que atravessa a cidade de oeste a leste, e o eixo norte-sul, Pequim-Hong Kong.

Capital da província de Hubei, a cidade assistiu em 1957 a abertura da primeira ponte construída sobre o rio Yangtze.

Devido à sua localização estratégica, vários consulados estão localizados em Wuhan (França, Reino Unido, Estados Unidos).

Além disso, é uma importante plataforma aeroportuária, com conexões diretas à Europa, Oriente Médio e Estados Unidos.

Berço da revolução 

Em outubro de 1911, uma revolta no quartel da cidade deu o sinal da revolução que levaria à queda do último imperador da China, o jovem Puyi, de 3 anos.

Os habitantes da província, apelidados de "hubeilao", são conhecidos como duros.

Wuhan é conhecida por seu clima extremo no verão: junto com Nankin e Chongqing, é um dos "três fornos" do Yangtze.  

Siderurgia e indústria tecnológica

Com sua localização central, a cidade se beneficiou durante a era Mao da estratégia de deslocamento das indústrias para as regiões do interior do país, consideradas melhor protegidas.

Atualmente, é um dos centros da indústria siderúrgica, onde são fabricados 60% dos trilhos de alta velocidade do país.

Suas fábricas atraem uma população massiva de trabalhadores de outras regiões: são cerca de 5 milhões, segundo o prefeito.

Wuhan também é pioneira em novas tecnologias. Em uma classificação do Instituto Milken, Wuhan foi em 2019 a nona cidade chinesa "com melhor desempenho", com setores como microprocessadores e biomedicina.

Cerca de 160 empresas japonesas, de todos os setores, estão presentes na cidade.

Base da Renault e da PSA na China

Wuhan também é um polo importante da indústria automotiva. Em 1969, foi fundada ali a Dongfeng, a segunda maior fabricante do país e parceira da japonesa Nissan e Honda, além das francesas PSA e Renault.

Com mais de dez fábricas de veículos e cerca de 500 fabricantes de equipamentos, o setor produz cerca de 400 bilhões de yuans por ano (52,3 bilhões de euros), segundo dados do Changliang Daily.

A cidade teria produzido 1,7 milhão de veículos em 2018. 

A PSA possui três fábricas em Wuhan, com 2.000 funcionários. Sua rival Renault abriu sua primeira fábrica na China no início de 2016 e foi seguida pelas fabricantes de equipamentos Faurecia e Valeo.

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