Matéria publicada no JC no dia 4 de março de 2012
Há 30 anos, 74 dias mudaram a sorte de Margaret Thatcher. Acuada pelo rebatimento social de suas medidas econômicas e pressionada pela opinião pública, a Dama de Ferro encontrou na Guerra das Malvinas, em 1982, uma forma de ganhar sobrevida política. A vitória no conflito contra a Argentina rendeu, no ano seguinte, uma reeleição tranquila a Thatcher, a mais folgada em meio século. Pelo lado argentino, a fragorosa derrota acelerou a derrocada do governo militar.
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Se a Guerra das Malvinas não tivesse existido, seria preciso inventá-la. Apesar da máxima, repetida à exaustão pelos conservadores, foi a Argentina quem deu início ao confronto. As ilhas, a 500 quilômetros do país sul-americano, eram desde 1833 uma fatia ínfima dos vastos territórios do império britânico, mas a Argentina sempre reclamou sua soberania.
O general Leopoldo Fortunato Galtieri, tão pressionado quanto Thatcher por mazelas sociais, elaborou um plano de retomada das Malvinas. A Operação Rosário foi concebida na esperança de obter apoio americano ou pensando que o Reino Unido, em crise, não se importaria com as remotas terras. No dia 2 de abril, militares argentinos aportaram nas Malvinas – ou Falklands, como chamam os ingleses. Nascia ali um conflito que mudaria os rumos dos dois países.
A reação de Thatcher foi enérgica: despachou 27 mil homens para o território. Parafraseando a rainha Vitória (1819-1901), asseverou: “Derrota é uma possibilidade que não existe”. Também pudera. A superioridade militar britânica era gritante e, em 14 de junho, as tropas do Reino Unido cercaram a cidade de Port Stanley. Cerca de 9.800 soldados argentinos entregam suas armas. A guerra acabou com 649 militares argentinos e 255 britânicos mortos. As Malvinas eram, mais do que nunca, Falklands.
“Thatcher tinha sérios problemas econômicos e políticos. Temia uma derrota eleitoral forte. Assim, ela aproveitou a oportunidade e manejou a situação com habilidade”, avalia o cientista político Fabián Calle, professor da Faculdade de Ciências Sociais, Políticas e da Comunicação da Pontifícia Universidade Católica Argentina (UCA), em entrevista por telefone ao Jornal do Commercio. Segundo ele, a Argentina ainda esperou um apoio americano, que não veio. “Os EUA tinham o governo militar argentina em alta estima, mas não poderiam se permitir perder o principal aliado na Guerra Fria, o Reino Unido”, acrescentou.
PETRÓLEO - Em 2010, petrolíferas britânicas iniciaram operações de exploração de petróleo nas águas do arquipélago, reavivando uma disputa territorial que, a cada dia, vem ganhando novos contornos. O livro La Cuestión Malvinas en el marco del Bicentenario, do cientista político argentino Agustín M. Romero, professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), cita que Thatcher já sabia do potencial petrolífero das Malvinas. “Até 1982, 13 informes científicos internacionais assinalavam a importância petrolífera da bacia da qual as Malvinas fazem parte, assegurando que a reserva de petróleo era dez vezes maior que a do Mar do Norte. A reação de Margaret Thatcher não se deveu, então, apenas a um distúrbio hormonal momentâneo causado pela ousadia aborígene em um momento de debilidade política”, escreveu Romero.