Reino Unido

Morre a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher

Thatcher faleceu nesta segunda-feira em Londres, vítima de um derrame

Da AFP
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Publicado em 08/04/2013 às 9:15
Foto: ALESSANDRO ABBONIZIO / AFP
Thatcher faleceu nesta segunda-feira em Londres, vítima de um derrame - FOTO: Foto: ALESSANDRO ABBONIZIO / AFP
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A ex-primeira-ministra britânica conservadora Margaret Thatcher, de 87 anos, faleceu nesta segunda-feira (8) em Londres em consequência de um derrame.

"Com grande tristeza, Mark e Carol Thatcher anunciaram que sua mãe, a baronesa Thatcher, morreu tranquilamente depois de um ataque cerebral nesta manhã", anunciou seu porta-voz Lord Tim Bella em um comunicado.

O primeiro-ministro conservador David Cameron, em viagem à Espanha, expressou imediatamente sua tristeza pelo falecimento da colega. "Perdemos uma grande dirigente, uma grande primeira-ministra e uma grande britânica", declarou Cameron em um comunicado. Em função da notícia, o premiê britânico encurtou sua viagem pela Europa e decidiu retornar ao Reino Unido.

A rainha Elizabeth II, por sua vez, também se declarou "triste" ao receber a notícia da morte de Thatcher, segundo um comunicado do Palácio de Buckingham. "Downing Street pode anunciar que, com o consentimento da Rainha, Lady Thatcher receberá um funeral cerimonial com honras militares", declarou em um comunicado, sem informar por ora uma data.

Mas de acordo com Downing Street, residência oficial do premiê britânico, Thatcher terá apenas um funeral cerimonial na Catedral de St. Paul. Isso significa que não terá funerais de Estado, como a imprensa chegou a especular, já que era muito associada a outro ilustre primeiro-ministro, Winston Churchill.

Mas todos os ministérios e prédios oficiais mostram nesta segunda-feira bandeiras a meio mastro, em homenagem a Thatcher, que há uma década se encontrava afastada da vida pública.

Dirigentes que compartilharam com ela o mesmo período de poder também expressaram sua tristeza pelo desaparecimento da Dama de Ferro. O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger afirmou que a ex-primeira-ministra era uma "personalidade corajosa".

"Foi uma personalidade corajosa, uma mulher que aprendeu que um líder deve ter convicções firmes, porque as pessoas não têm como decidir por elas mesmas a menos que seus líderes lhes indiquem a direção a seguir", afirmou à CNN o secretário de Estado de Richard Nixon e Gerald Ford.

"Ela não acreditava que seu trabalho consistia em alcançar compromissos, e sim em ter convicções", afirmou Kissinger, Prêmio Nobel da Paz 1973. Já o ex-presidente polonês e histórico líder do sindicato Solidariedade, Lech Walesa, disse que Thatcher contribuiu para a queda do comunismo na Europa.

"Lástima. Era uma grande personalidade que fez muito pelo mundo, que contribuiu para a queda do comunismo na Polônia e na Europa do Leste, com (o presidente americano também falecido) Ronald Reagan, o Papa João Paulo II e o sindicato Solidariedade", declarou Lech Walesa, emocionado, falando à AFP.

"Margaret Thatcher era uma grande personalidade política e uma pessoa brilhante. Ela permanecerá na memória e na história", declarou, por sua vez, o antigo dirigente soviético Mikhail Gorbachev.

Thatcher, a primeira e até agora única primeira-ministra britânica, permaneceu 11 anos em Downing Street, entre 1979 e 1990. Mais de duas décadas depois, o legado desta política que ganhou o apelido de Dama de Ferro, implacável defensora do conservadorismo político e do liberalismo econômico, continua dividindo os britânicos.

Ela começou a sofrer problemas graves de saúde a partir de 2002, e em 2008 sua filha Carol revelou em um livro de memórias que a mãe sofria de demência senil há sete anos. Também havia sofrido vários ataques cerebrais.

LEGADO - Sua lenda foi forjada em sua autodeterminação para impulsionar a liberalização econômica dos anos 1980, para resistir às pressões europeístas, para enviar a marinha real às Malvinas para combater as tropas argentinas em 1982 e devido a sua intransigência perante o nacionalismo do grupo IRA na Irlanda do Norte.

Traída por uma saúde delicada que, desde março de 2002, a obrigou a renunciar a falar em público, "Maggie" Thatcher foi muito afetada pela perda de seu marido, Denis, depois de mais de 50 anos de casamento, em junho de 2003. Ele a apoiou ao longo de toda uma carreira que a tornou um verdadeiro "monstro sagrado" em seu país.

Nascida no dia 13 de outubro de 1925, Margaret Roberts cresceu em Grantham, no centro da Inglaterra, onde seu pai, Alfred, comerciante, dividia seu tempo entre a Igreja metodista e o conselho municipal. Na casa da família, a missa era obrigatória e o trabalho uma segunda religião, razão pela qual a jovem saía pouco.

Graduou-se em química em Oxford em 1947 e depois também estudou direito. Desta época data a sua aproximação da política. Em 1951, se casou com o empresário Denis Thatcher e, dois anos mais tarde, deu à luz gêmeos, Carol, jornalista, e Mark, que se dedica aos negócios.

Foi eleita pela primeira vez deputada em 1959 e escalou rapidamente na hierarquia do Partido Conservador. No ano seguinte, assumiu a liderança dos "Tories" e, em maio de 1979, se converteu na primeira mulher a assumir o posto de primeira-ministra do país.

Os sindicatos foram amordaçados, setores inteiros da economia privatizados (telecomunicações, ferroviários, aeronáutica, etc) e o Estado de bem-estar desmantelado. Os impostos caíram, os gastos públicos também. Os círculos empresariais a veneravam, mas sua revolução também se chocava com fortes resistências, uma divisão vigente até hoje na avaliação de seu legado.

Nos primeiros anos de seu mandato, foi superada a marca de três milhões de desempregados e cresceram o mal-estar social e os confrontos com os sindicatos, contra os quais declarou uma guerra sem quartel. No início dos anos 1980, os mineradores em greve se chocaram com a intransigência de "Maggie", assim como os grevistas de fome do Exército Republicano Irlandês (IRA), que iam morrendo na prisão.

No âmbito internacional, a Dama de Ferro tentou restabelecer o prestígio do antigo Império. Em 1982, quando as tropas argentinas desembarcaram no arquipélago austral das Malvinas, sob dominação britânica desde 1833, Thatcher enviou uma força naval que em dois meses recuperou as ilhas. A vitória encarrilou sua reeleição em 1983.

Ao seu nacionalismo se somou uma desconfiança quase visceral em relação à União Europeia. Essa relação difícil com a União Europeia fica evidenciada no comunicado em que a UE lamenta sua morte, dizendo que ela será recordada por suas "contribuições e por suas reservas ao projeto europeu".

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, destacou que a ex-dirigente foi "uma pessoa-chave, e também circunspecta" em relação à construção do projeto europeu. "Foi, sem dúvida, uma grande mulher de Estado, a primeira mulher primeiro-ministro de seu país, e uma atriz cautelosa, mas engajada na União Europeia", afirmou em um comunicado.

Sua intransigência também lhe valeu sólidas inimizades no próprio Reino Unido e até em seu próprio partido, o que a levou a uma humilhante renúncia no dia 22 de novembro de 1990. Suas posições sobre a Europa, após uma calamitosa reforma fiscal local - a famosa "Poll Tax" -, acabaram com sua carreira.

Após sua saída em prantos de Downing Street, a baronesa Thatcher se refugiou no elegante bairro londrino de Belravia, onde continuou preparando lucrativas conferências e redigindo suas memórias.

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