A Índia declarou alerta nesta quinta-feira em vários estados do país diante do anúncio da criação de um novo braço do movimento radical islâmico Al-Qaeda no subcontinente indiano.
Em um momento de auge do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque, o líder da Al-Qaeda, Ayman al Zawahiri, anunciou em um vídeo divulgado na quarta-feira que a nova força lutará para reviver o califado muçulmano em Mianmar, Bangladesh e em certas regiões da Índia onde há uma população muçulmana importante e moderada.
"Levamos este anúncio muito a sério. Ameaças como esta não podem ser ignoradas", declarou à AFP uma fonte dos serviços de informação indianos. "Pedimos aos Estados, especialmente a Gujarat, Madhya Pradesh, Uttar Pradesh e Bihar, que fiquem em alerta".
A Al-Qaeda atualmente está em atividade no Afeganistão e no Paquistão, onde seus líderes sobreviventes supostamente estão escondidos, mas Zawahiri afirmou que a "Qaedat al-Jihad" levará a luta para a Índia, Mianmar e Bangladesh.
"Essa entidade não foi estabelecida hoje, mas é fruto de um esforço abençoado de mais de dois anos para reunir os mujahedines no subcontinente indiano em um único grupo", afirmou Zawahiri.
Fundada por Osama bin Laden, morto no Paquistão por soldados americanos em maio de 2011, a Al-Qaeda tem reivindicado há bastante tempo a liderança dos jihadistas para restaurar um único califado em terras muçulmanas.
Desde a morte de Bin Laden, porém, o grupo tem sido ofuscado, primeiro pelas suas próprias ramificações na África e na Península Arábica, e agora pelo chamado Estado islâmico, que atua no Iraque e na Síria.
Embora ainda seja considerado uma ameaça para o Ocidente, o grupo nunca conseguiu recuperar o destaque alcançado depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados atingiram as torres gêmeas Do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington.
Mas, ao lançar a "Qaedat al-Jihad no subcontinente indiano", Zawahiri tenta retomar um pouco do protagonismo perdido. "É uma entidade que foi criada para reforçar o chamado do imã revivido, o xeque Osama bin Laden. Que Deus tenha misericórdia dele", disse Zawahiri.
A convocação é para que a "Umma" (comunidade constituída por todos os muçulmanos) se una em torno da "Tawhid" (doutrina monoteísta) para "lutar a jihad" (guerra santa), libertar sua terra, restaurar sua soberania e reviver seu califado", afirmou Zawahiri.
"É um golpe publicitário que mostra o desespero (da Al-Qaeda) diante do fato de o Exército Islâmico (EI) ser agora a verdadeira ameaça mundial", disse Kumar Singh, do grupo de reflexão Institute of Conflict Management, em Nova Délhi. "Isto é uma batalha pela supremacia entre a Al-Qaeda e o EI".
Milhões de muçulmanos fugiram da Índia para o atual Paquistão no momento da divisão do país, em 1947, e as tensões persistem entre os muçulmanos que permaneceram na Índia e a maioria hindu.
Mas os muçulmanos indianos (13% da população) são tradicionalmente moderados.
Os especialistas destacam que são raros os exemplos de jovens que entraram para a organização. "Não conhecemos células da Al-Qaeda ou membros da rede na Índia até o momento", disse à AFP Rahimullah Yusufzai, especialista em movimentos jihadistas.
"É um gesto de desespero. No lugar de se concentrar no Oriente Médio, nos países árabes, apostam em uma região onde não estão realmente presentes".
Em Mianmar, os muçulmanos são minoria e o país não conhece a violência por parte de grupos islâmicos.