Atualizada às 13h07
Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) seguem avançando nesta quinta-feira na cidade curdo-síria de Kobane, na fronteira com a Turquia, que persiste em negar o envio de tropas para auxiliar as forças curdas.
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"Apesar da resistência feroz das forças curdas, o EI avançou durante a noite e se apoderou de mais de um terço da cidade de Kobane", afirmou à AFP o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
Mas, de acordo com o exército americano, as milícias curdas continuam controlando a maior parte da cidade.
Em um comunicado, o comando americano responsável pelo Oriente Médio e Ásia Central (Centcom), afirma que cinco ataques aéreos foram realizados nesta quinta-feira contra alvos do EI ao sul de Kobane.
Os ataques possibilitaram a destruição de um campo de treinamento do grupo jihadista, de um edifício e de dois veículos.
Os combatentes curdos que defendem Kobane sabem que dependem de suas próprias forças, já que Washington já reconheceu que os bombardeios aéreos da coalizão não bastam para salvar a cidade da ofensiva jihadista.
Com tanques e armas sofisticadas, o EI entrou na segunda-feira em Kobane. Desde então, trava uma batalha feroz nas ruas da cidade contra os curdos, menos numerosos e com armas inferiores.
Se Kobane cair nas mãos jihadistas, estes controlarão uma faixa ininterrupta no norte da Síria até a fronteira com a Turquia.
Necessidade de infantaria
A coalizão internacional, integrada por países ocidentais e árabes e liderada pelos Estados Unidos, realiza bombardeios aéreos contra posições do EI no Iraque desde 8 de agosto e na Síria desde 23 de setembro.
Contudo, porta-voz do Pentágono John Kirby reconheceu na quarta-feira que "apenas os ataques aéreos não vão resolver isto, não vão salvar a cidade de Kobane", considerando que somente tropas "qualificadas" em terra (combatentes rebeldes na Síria e forças do governo no Iraque) poderão derrotar o Estado Islâmico.
Segundo Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, os jihadistas adotaram uma tática mais evasiva desde o início dos ataques aéreos.
"Já não hasteiam bandeiras nem se deslocam em grandes comboios como faziam antes (...) Tampouco estabelecem quarteis generais visíveis", declarou o general à rede ABC.
Neste contexto de crescente tensão, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, declarou nesta quinta-feira que não é realista considerar que a Turquia possa realizar sozinha uma intervenção militar terrestre contra os jihadistas.
O Parlamento turco autorizou o governo a intervir contra o EI no Iraque e na Síria, mas até o momento Ancara se nega a apoiar os combatentes curdos que defendem Kobane.
O governo turco defende a criação de uma zona tampão no norte da Síria para proteger os refugiados e as zonas sob controle dos rebeldes moderados, uma opção que segundo o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, "ainda não esteve na mesa de nenhuma negociação, e não é um assunto que esteja sendo discutido".
E, de acordo com a Rússia, a criação da zona tampão exige a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.
A Turquia diz acolher 200.000 refugiados que abandonaram a região de Kobane, atacada pelo EI desde 16 de setembro.
Para tentar convencer a Turquia de lutar diretamente contra os jihadistas, Washington enviou a Ancara o coordenador americano da coalizão internacional anti-jihadista, o general John Allen.
Curdos indignados
A batalha de Kobane tem enfurecidos os curdos da Turquia, que exigem uma atitude de Ancara para frear o avanço jihadista.
Manifestantes curdos voltaram a enfrentar a polícia turca em várias cidades do sudeste do país na madrugada desta quinta-feira, denunciando a negativa do governo de Ancara em ajudar os curdos.
Apesar do toque de recolher em vigor em seis províncias do sudeste turco, de maioria curda, centenas de manifestantes voltaram a sair às ruas de Diyarbakir, Batman, Van ou Siirt, onde lançaram pedras e projéteis contra os agentes, que responderam com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo.
Incidentes similares ocorreram em outras grandes cidades do país, como Istambul, Ancara ou Mersin, indicou a imprensa turca.
A crise chegou até a Alemanha, onde mais de 1.000 curdos voltaram a protestar na madrugada desta quinta-feira, vigiados pela polícia, um dia depois de 23 pessoas ficarem feridas em confrontos entre curdos e islamitas radicais.
Ainda na Síria, um padre franciscano de 62 anos e cerca de 20 cristãos capturados na Síria pela Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda que luta contra o regime de Bashar al-Assad, foram libertados nesta quinta-feira, informou a ordem à qual pertence em seu site.
O padre Hanna Jalluf, de Qunya, e vinte cristãos foram sequestrados na noite de domingo neste povoado do noroeste da Síria, próximo à fronteira com a Turquia.