Atualizada às 19h42
Doze pessoas morreram e onze ficaram feridas nesta quarta-feira em um ataque de homens armados e aos gritos de "Alá é grande" contra a sede do semanário satírico Charlie Hebdo, localizada em Paris.
Leia Também
- Família de jornalista australiano da Al-Jazeera pede sua extradição
- Número de jornalistas assassinados no mundo em 2014 chega a 118 (FIP)
- Hollande: ataque à revista é atentado terrorista de excepcional barbárie
- David Cameron considera ''revoltante'' ataque contra jornal francês
- Presidente francês declara luto nacional
- Conselho de Segurança da ONU condena ataque 'terrorista' em Paris
- Diretor do 'Charlie Hebdo' estava em lista de 'procurados' da Al-Qaeda
- Mais de cem mil vão às ruas de cidades da França por vítimas de atentado
- Policiais e militares ocupam Paris após ataque a Charlie Hebdo
No ataque, foram mortos os renomados chargistas Wolinski, Charb, Cabu e Tignous.
O presidente François Hollande dirigiu-se até o local do atentado e confirmou tratar-se de um ataque terrorista, o mais violento registrado na França em 40 anos.
Segundo testemunhas, homens armados com kalashnikovs e um lança-foguetes invadiram a redação da revista de humor Charlie Hebdo e de forma determinada, demonstrando sangue-frio e coordenação, dispararam contra os funcionários da publicação, visando especialmente aos desenhistas.
De acordo com fontes policiais, os autores do ataque gritaram "Vingamos o Profeta!", em referência a Maomé, alvo de charges publicadas há alguns anos pela revista, o que provocou revolta no mundo muçulmano.
Este ataque sem precedentes, o mais sangrento cometido na França em décadas, fez pensar rapidamente em uma vingança dos radicais islâmicos contra o jornal que publicou, em 2006, caricaturas do profeta Maomé.
Os atacantes pareciam ter seguido orientações dadas pelo grupo Estado Islâmico (EI), contra o qual a França atua militarmente no Iraque.
A redação do semanário, surpreendida em plena conferência de redação, foi dizimada. Quatro de seus caricaturistas - Charb, Cabu, Tignous e Wolinski -, muito conhecidos na França, estão entre os mortos, assim como dois policiais, um dos quais foi executado a sangue grio quando estava caído no chão, ferido.
Ao abandonar o prédio, os agressores atacaram um motorista e bateram em um homem com o carro roubado.
O atentado deixou outros 11 feridos - quatro deles com gravidade -, segundo um novo balanço divulgado ao fim da tarde (hora local) pelo procurador de Paris, encarregado da investigação, François Molins.
A polícia iniciou uma busca pelos agressores pelas ruas de Paris e as autoridades pediram à população que evitasse circular e utilizar transportes públicos.
As autoridades também anunciaram que a região parisiense foi colocada em estado de alerta máximo.
Vários momentos da ação foram registrados por celulares de pessoas presentes na cena da tragédia.
"Ouvi disparos, vi pessoas encapuzadas que fugiram em um carro", declarou à AFP Michel Goldenberg, que tem um escritório vizinho na rua Nicolas Apert, onde fica a sede da revista.
Hollande convocou uma reunião de crise com seus assessores no palácio presidencial.
"Tudo foi organizado para neutralizar o mais rápido possível os três criminosos que estão na origem deste ato bárbaro", afirmou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, sem especificar o papel desempenhado pelas pessoas envolvidas.
"É um atentado terrorista, não há dúvida", disse Hollande, definindo o atentado como "um ato de uma barbárie excepcional".
Bandeiras tremulavam a meio-pau tanto no Palácio do Eliseu, sede do Executivo, quanto nas duas câmaras do Parlamento.
Segundo fontes policiais, homens envolvidos no atentado contra a revista demonstraram calma, determinação e eficiência de quem passou por treinamento militar intenso, afirmam fontes policiais.
As imagens gravadas por celulares evidenciam que o ataque foi bem planejado, de acordo com um membro dos serviços de segurança.
"Vemos claramente pela maneira que portam suas armas que agem discretamente, bem ao estilo militar, com frieza. Eles receberam treinamento. Eles não agiram por impulso", afirmou.
"O mais impressionante é a sua atitude. Eles foram treinados na Síria, no Iraque ou em outro lugar, talvez até mesmo na França, mas o certo é que eles foram treinados", enfatizou, destacando também o sangue-frio dos terroristas.
Coincidência ou não, a Charlie Hebdo fez a divulgação em sua edição desta quarta-feira do novo romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior.
A obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois da eleição de um presidente da República muçulmano.
"As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes... Em 2022, faço o Ramadã!", ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.
A revista de humor tem sido ameaçada desde que publicou charges do profeta Maomé em 2006.
Em novembro de 2011, a sede da publicação foi destruída por um incêndio criminoso, já definido como atentado pelo governo na época.
Em 2013, um homem de 24 anos foi condenado à prisão com sursis por ter pedido na internet que o diretor da revista fosse decapitado por causa da publicação das caricaturas do profeta muçulmano.
O ataque desta quarta-feira contra a Charlie Hebdo foi condenado em todo o mundo como um ato de terrorismo contra a liberdade de expressão.
O presidente americano, Barack Obama, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o Vaticano foram unânimes em condenar o atentado, definido pela maioria como um "ato de barbárie".
O papa Francisco expressou "sua firme condenação ao horrível atentado" cometido nesta quarta-feira, em Paris, contra a publicação e pediu a todos os católicos a "se opor com todos os meios à propagação do ódio e a toda forma de violência".
A Liga Árabe, Al Azhar, principal autoridade sunita, e o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) igualmente condenaram o ataque.
Em Lyon (centro-oeste) e em Toulouse (sudoeste), mais de dez mil pessoas foram às ruas para homenagear as vítimas do ataque, segundo estimativas das forças de ordem. Em Paris, mais de 5.000 manifestantes se reuniram na Praça da República, perto da sede do semanário.
Professor da UFPE que mora em Paria conta momentos de tensão vividos na cidade durante atentado.