Fórum Mundial

Judeus, muçulmanos e cristãos unidos em Davos para condenar violência religiosa

Durante um longo debate sobre os conflitos no Oriente Médio, Nigéria, República Centro-Africana e também os recentes ataques em Paris, os debatedores reconheceram que não há nada de novo

Da AFP
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Publicado em 22/01/2015 às 13:22
Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Durante um longo debate sobre os conflitos no Oriente Médio, Nigéria, República Centro-Africana e também os recentes ataques em Paris, os debatedores reconheceram que não há nada de novo - FOTO: Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
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O que há em comum entre um rabino, um arcebispo, um clérigo muçulmano e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair?

Muitas coisas, de acordo com uma sessão incomum consagrada à religião realizada na quarta-feira no Fórum Econômico Mundial em Davos, onde discutiram o extremismo, a violência e a liberdade de expressão após os ataques contra a revista satírica francesa Charlie Hebdo em Paris há 2 semanas.

Durante um longo debate sobre os conflitos no Oriente Médio, Nigéria, República Centro-Africana e também os recentes ataques em Paris, os debatedores reconheceram que não há nada de novo.

"O extremismo não é um fenômeno recente, tivemos o extremismo no século 20, através do comunismo e do fascismo, que eram ambos ideologias profundamente anti-religiosas", declarou Blair, um cristão engajado, que é agora enviado especial para a paz no Oriente Médio.

"Não é a religião em si que causa conflito. No entanto, hoje, a ideologia que é mais ameaçadora para a nossa segurança é uma ideologia baseada em uma perversão da religião", acrescentou Blair em referência ao islamismo radical.

Hamza Yusuf Hanson, especialista em Islã, considerou, por sua vez, que o Islã radical era uma "perversão" e argumentou que o Islã tradicional era "uma das religiões excepcionais que permite que outras religiões vivam pacificamente em seu meio".

E o rabino David Rosen, do Comitê Judaico Americano, declarou que a religião foi desviada para manipular as pessoas, em uma espiral descendente que inevitavelmente leva à violência.

"Agora que nos sentimos ameaçados, é natural e desejável nos voltarmos para a religião", disse ele.

Charlie

Os líderes religiosos também discutiram os limites da liberdade de expressão após os atentados contra o jornal Charlie Hebdo há 15 dias em Paris.

Islamistas armados mataram 12 pessoas para "vingar" o profeta Maomé, após a publicação pela revista satírica de caricaturas do profeta.

Após os ataques, Charlie Hebdo publicou, novamente, em sua capa uma caricatura de Maomé, o que provocou uma onda de protestos e tumultos em muitos países muçulmanos, alguns dos quais resultaram em mortes.

O representante muçulmano Hamza Yusuf Hanson fez a crítica mais forte contra a publicação das caricaturas.

"Esta é uma absoluta falta de civilidade e decência", disse ele.

Observando que os três homens armados que mataram 17 pessoas em 3 dias na França se radicalizaram, ele acrescentou que "você pode condenar e criticar a religião, não há nenhum problema nisso, mas você não pode ridicularizar pessoas e desrespeita-las".

O arcebispo sul-africano Thabo Makgoba Cecil questionou, por sua vez, "o que significa os slogans 'Je suis Charlie' e 'je ne suis pas Charlie".

Ele pediu aos homens públicos para se absterem "de expressões que fazem o buzz" e procurarem as razões que explicam o fenômeno da radicalização, principalmente na França.

O rabino Rosen afirmou ainda à AFP que insultar a religião das pessoas era pior do que um insulto racial.

Como, neste contexto, resolver o problema da religião transformada em violência?

Tony Blair explicou que a única solução a longo prazo é a educação.

"O extremismo não é natural, é algo que é ensinado e deve ser removido dos sistemas de ensino", disse ele.

Para o arcebispo Makgoba, "enquanto eu tiver fé, não abandonarei a esperança".

"De um total de mais de 6 bilhões de seres humanos no mundo, há apenas um punhado de terroristas, não nos deixaremos aterrorizar por esta minoria", declarou.

"A liberdade e o amor são valores-chave, e se os defendermos poderemos transcender a violência", ressaltou.

O Fórum Econômico Mundial, que acontece na estação suíça de Davos, reúne este ano até o sábado 2.500 líderes econômicos políticos e tomadores de decisões do mundo.

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