No dia seguinte à vitória do partido de esquerda radical Syriza na Grécia, seu líder, Alexis Tsipras, assumiu o cargo de primeiro-ministro.
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Uma das suas primeiras medidas será enviar a Bruxelas nos próximos dias uma equipe econômica para discutir a renegociação da dívida do país na Europa, gesto que deve colocá-lo em rota de colisão com as grandes potências do bloco.
Tsipras visitou nesta segunda-feira (26) o presidente grego (um cargo simbólico), Karolos Papoulias, no palácio presidencial em Atenas, para cumprir o rito de informá-lo da maioria obtida no Parlamento e fazer o juramento.
Horas antes, ele havia selado aliança com o partido Gregos Independentes, de direita nacionalista, para ter maioria e formar um governo de coalizão no Parlamento.
Na eleição realizada domingo (25), o Syriza, em uma votação considerada histórica na Grécia, conquistou 149 das 300 cadeiras, duas a menos do que o mínimo necessário para governar sozinho.
O acordo com os Gregos Independentes, uma dissidência da Nova Democracia -que estava no poder-, deu mais 13 votos, formando um governo cuja principal plataforma será rever medidas de austeridade fiscal e renegociar a dívida pública do país, hoje em torno de € 320 bilhões (175% do PIB).
Embora atuem em campos políticos teoricamente opostos, Syriza e Independentes são contra o ajuste fiscal implementado desde a crise econômica de 2010 em troca do socorro de € 245 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu).
Mesmo com a maioria garantida, o partido discute novas alianças para aumentar sua força no Parlamento e evitar turbulência política no caso de romper com os Independentes.
Segundo cálculos do governo, o país precisa realizar um pagamento de pelo menos € 20 bilhões este ano. Tsipras defende o perdão de 50% do total da dívida e moratória temporária do restante.
Nesta segunda, o presidente francês, François Hollande, mandou um recado aos gregos: o país deve manter a promessa de pagar o que deve aos vizinhos. "Compromissos feitos devem ser honrados", disse, em Paris.
A chanceler alemã Angela Merkel, um dos principais alvos de críticas do Syriza, disse, por meio de um porta-voz, que o novo governo deve tomar medidas para "manter" o crescimento -e uma parte disso, afirmou, são os compromissos assumidos pelo país.
A eleição foi marcada pelo discurso pró ou antiausteridade fiscal. O então premiê Antonis Samaris, do Nova Democracia, afirmou na campanha que o Syriza colocará a Europa contra a Grécia, com risco de o país ser retirado da zona do euro.
Seu partido será a principal força de oposição, com 76 cadeiras no Parlamento.
Apesar de apresentar sinais de que saiu da recessão, a Grécia ainda tem a taxa de desemprego mais alta da Europa, em torno de 25% -entre os jovens, é de 60%.
A reação do mercado ficou restrita à Bolsa do país, que caiu 3,2% nesta segunda. Na Alemanha, o índice subiu 1,4%, e na França, 0,74%.
O euro começou o dia em desvalorização e chegou a alcançar seu menor patamar em 11 anos, mas fechou em alta de 0,22% em relação ao dólar.