O corpo do promotor argentino Alberto Nisman, encontrado morto com um tiro em seu apartamento há 11 dias, foi enterrado nesta quinta (29) no cemitério israelita do município de La Matanza, vizinho de Buenos Aires. A cerimônia foi fechada, assim como o velório, que tinha acontecido na quarta (28) à noite.
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Nisman denunciou a presidente Cristina Kirchner por ter supostamente feito um acordo com o Irã para deixar impunes os responsáveis por um atentado terrorista de 1994, que matou 85 pessoas na sede da Amia (Associação Mutual Israelita Argentina).
O cortejo foi acompanhado por pessoas exibindo cartazes com pedidos de justiça no caso; outros, com a frase "todos somos Nisman".
Segundo convidados da cerimônia, o túmulo ficou a poucos metros de onde estão enterradas várias vítimas do atentado à Amia.
O corpo de Nisman não foi levado para a ala reservada a suicidas, um claro sinal de que parentes e amigos não acreditam na hipótese de que ele tenha se matado.
"Temos certeza de que isso foi obra de outras pessoas", afirmou, durante o funeral, a ex-mulher de Nisman, Sandra Arroyo.
Ela leu cartas que as filhas, uma de 7 e outra de 15, escreveram ao pai. "A da mais nova terminava dizendo 'nos vemos quando eu morrer'. Foi muito emocionante", disse Marcelo Polakoff, o rabino que fez a cerimônia.
A polícia isolou a entrada do cemitério. Do lado de fora, equipes de TV de canais vistos como governistas foram vaiadas.
Na noite anterior, durante o velório, pessoas bateram nos vidros do carro em que chegou a procuradora-geral da Argentina, Alejandra Gils Carbó, por identificá-la como uma figura kirchnerista. Ela também foi chamada de "assassina".
Depois do enterro, membros da Amia e da Daia (Delegação de Associações Israelitas) encontraram-se com Gils Carbó para falar sobre o futuro das investigações que o promotor conduzia. Os representantes da comunidade afirmaram ter receio de que a denúncia de Nisman não seja levada adiante.
Julio Schlosser, da Daia, pediu para que a promotoria tenha uma equipe de pessoas "irretocáveis".
A procuradora Carbó disse que a substituição não acontecerá rapidamente e que, até lá, quem lidera o caso da Amia será Alberto Gentili, um promotor que pertencia à equipe de Nisman.