Crise

Corte de gás a regiões separatistas "cheira a genocídio", diz Putin

Na semana passada, o primeiro-ministro Russo Dmitri Medvedev disse que a Rússia fornecerá gás para as regiões separatistas por motivos humanitários

Da Folhapress
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Publicado em 25/02/2015 às 16:53
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Na semana passada, o primeiro-ministro Russo Dmitri Medvedev disse que a Rússia fornecerá gás para as regiões separatistas por motivos humanitários - FOTO: Foto: AFP
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O presidente russo Vladimir Putin afirmou nesta quarta-feira (25) que o corte do fornecimento de gás feito por parte de Kiev às regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, "cheira a genocídio". A afirmação de Putin foi feita no primeiro dia de trégua nos combates entre o exército ucraniano e os rebeldes desde o cessar-fogo acordado em Minsk no dia 12.

"Como se não bastasse que lá [em Donetsk e Lugansk] se passa fome e que a OSCE tenha constatado que há uma catástrofe humanitária, ainda por cima cortam o gás. Como isso se chama? Isso já cheira a genocídio", disse Putin em entrevista coletiva.

O chefe do Kremlin ressaltou que, além das milícias insurgentes, nos territórios rebeldes também vivem "crianças, mulheres e idosos que nada têm a ver com o conflito" e que as autoridades ucranianas haviam se comprometido no acordo de Minsk em garantir o fornecimento de energia às regiões controlados pelos separatistas.

Por outro lado, o presidente russo ameaçou cortar a exportação de gás para a Ucrânia em três dias caso Kiev não pague antecipadamente pelo consumo previsto para o mês de março.

"O que a parte ucraniana já pagou dá para três ou quatro dias de provisão. Se não houver pagamento prévio, a [companhia russa de gás] Gazprom cortará o fornecimento em virtude do contrato", advertiu Putin, que reconheceu que a medida "pode criar certa ameaça para o transferência (do gás) à Europa".

Na semana passada, o primeiro-ministro Russo Dmitri Medvedev disse que a Rússia fornecerá gás para as regiões separatistas por motivos humanitários. "Forneceremos até que haja dinheiro, incluindo os volumes que, por motivos humanitários, estamos transferindo no momento, por uma rota alternativa, às repúblicas populares de Donetsk e Lugansk", afirmou.

TRÉGUA

Pela primeira vez desde a o início do cessar-fogo acordado entre Kiev, os separatistas e Moscou, há sinais de trégua no leste ucraniano. Os rebeldes anunciaram nesta quarta (25) a retirada de armamentos pesados da frentes de batalha e Kiev confirmou que não houve mortes de soldados em confrontos, algo inédito em semanas.

As expectativas sobre o sucesso do cessar-fogo haviam sido frustradas na semana passada por conta de confrontos e de avanços dos rebeldes.

O exército ucraniano, por sua vez, avalia que seja "muito cedo" para iniciar uma retirada dos armamentos pesados dos locais de confronto, conforme acordado.

Teme-se que os separatistas planejem estender o seu controle sobre outras partes do território, em especial a cidade portuária de Mariupol, a única cidade de grande porte controlada por Kiev nas províncias tomadas pelos rebeldes.

"O problema hoje é particularmente Mariupol. Nós alertamos os russos que se houver um ataque dos rebeldes na direção de Mariupol, as coisas mudariam drasticamente, inclusive em termos de sanções", afirmou o chanceler francês Laurent Fabius.

SANÇÕES CONTRA MOSCOU

A ameaça de Fabius sobre aumentar as sanções a Moscou se soma à condenação feita pelo premiê britânico David Cameron na segunda-feira (23) às "ações ilegais e injustificáveis" da Rússia no leste ucraniano.

Também o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou nesta quarta que as sanções contra a Rússia aumentarão caso os eventos na Ucrânia demandem uma resposta significativa.

Líderes europeus concordaram em não aumentar as sanções contra a Rússia desde o cessar-fogo assinado em Minsk, o qual foi mediado pelo presidente francês François Hollande e pela chanceler alemã Angela Merkel.

Desde o início do conflito na Ucrânia, Moscou nega apoiar os rebeldes, embora tenha anexado a península da Crimeia em março de 2014 e defenda maior autonomia das regiões controladas pelos separatistas, de maioria étnica russa.

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