O ex-fuzileiro naval acusado de matar Chris Kyle, o franco-atirador de elite que inspirou o filme "Sniper Americano", foi declarado culpado e condenado à prisão perpétua na terça-feira em um julgamento no Texas, sul dos Estados Unidos.
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A pena de Eddie Ray Routh, de 27 anos, também condenado pela morte do amigo de Kyle, Chad Littlefield, exclui a possibilidade de liberdade antecipada, de acordo com a leitura do veredito, transmitida ao vivo pela televisão.
Kyle, de 38 anos, e Littlefield, de 35, foram mortos em um rancho para a prática de tiros em Glen Rose, ao sudoeste de Forth Worth (Texas), em 2 de fevereiro de 2013.
O promotor Alan Nash havia anunciado antes do julgamento que não pediria a pena de morte.
O julgamento chamou a atenção de todo o país pela personalidade de Chris Kyle, que recebeu o apelido de "A Lenda" e escreveu uma autobiografia de sucesso que inspirou o filme "Sniper Americano", adaptado para o cinema pelo diretor Clint Eastwood.
Judy Littlefield, mãe de Chad Littlefield, divulgou um comunicado para comentar a decisão do júri.
"Esperamos dois anos para Deus fizesse justiça em nome de nosso filho, e Deus demonstrou ser fiel", afirma.
"Estamos muito satisfeitos de ter o veredicto que temos", completa.
Sem desculpas
Os integrantes do júri do tribunal de Stephenville (160 km ao sudoeste de Dallas) rejeitaram as alegações da defesa de que o acusado sofreu um surto psicótico quando cometeu o crime.
Os advogados de Routh argumentaram que o cliente sofria de "psicose", um trastorno mental grave que produz a perda do contato com a realidade. O ex-marine havia saído de um tratamento psiquiátrico uma semana antes do encontro com os soldados. Kyle ofereceu ajuda por saber que ele sofria de estresse pós-traumático por ter participado da guerra no Iraque e trabalhado no Haiti no terremoto de 2010.
Durante o primeiro dia do julgamento, o promotor relatou como os corpos das duas vítimas foram encontrados, com várias marcas de tiros nas costas. Kyle recebeu seis tiros de sua própria pistola calibre 45.
Depois dos tiros, Routh fugiu no automóvel de Kyle, mas foi detido no mesmo dia na casa da irmã e confessou os crimes. Ele afirmou que existiam "pessoas que sugavam sua alma e que podia sentir o cheiro dos porcos".
"A doença mental não elimina a possibilidade de distinguir o bem do mal", disse o promotor, antes de recordar que no dia dos crimes Routh havia consumido maconha e bebidas alcoólicas.
Durante o processo, a promotoria considerou que Kyle e Littlefield perceberam que algo estava errado poucos minutos antes dos tiros.
A caminho do rancho, Kyle enviou um SMS ao amigo que viajava ao seu lado na parte da frente do veículo.
"Este cara está completamente louco", escreveu em referência a Routh, que estava sentado na parte de trás do carro.
"Está logo atrás de mim. Vigia as minhas costas", respondeu Littlefield.
A defesa manifestou dúvidas sobre a possibilidade de um julgamento justo para Routh na pequena cidade do Texas, devido ao sucesso de "Sniper Americano" e a popularidade de Kyle.
O exército americano atribuiu oficialmente a Kyle, herói para alguns e desprezado por outros, as mortes de 160 pessoas em seus quatro turnos de serviço no Iraque, mas o atirador alegava ter matado 255 pessoas.
O filme tem uma grande bilheteria nos cinemas dos Estados Unidos e recebeu seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e melhor ator para Bradley Cooper.
Mas o longa-metragem saiu da festa do cinema americano apenas com uma estatueta, a de melhor edição de som.
O juiz Jason Cashon rejeitou inclusive um pedido de adiamento do julgamento devido a temores de que o filme influenciaria o resultado do processo.