Copa do Mundo

Copa de 2022 no inverno não esfria as polêmicas com o Catar

País árabe vive acumulando manchetes negativas desde que foi escolhido para receber o torneio, em dezembro de 2010

Da AFP
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Publicado em 18/03/2015 às 16:12
Foto: BEN STANSALL / AFP
País árabe vive acumulando manchetes negativas desde que foi escolhido para receber o torneio, em dezembro de 2010 - FOTO: Foto: BEN STANSALL / AFP
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O comitê executivo da Fifa deve confirmar na sua reunião de quinta e sexta-feira a realização da Copa do Mundo de 2022 em novembro e dezembro, mas esta decisão não será suficiente para acabar com todas as polêmicas que cercam a organização do evento pelo Catar.

Suspeitas de corrupção, problemas de calendário, denúncias de trabalho escravo nos canteiros de obras dos estádios: o país árabe vive acumulando manchetes negativas desde que foi escolhido para receber o torneio, em dezembro de 2010.

Como é praticamente impossível disputar jogos de futebol com temperaturas que beiram os 50 graus, tudo indica que o Mundial será disputado no inverno (boreal), e não em junho e junho, como sempre aconteceu.

Uma verdadeira revolução para o esporte, que bate de frente com o calendário dos clubes europeus, principais fornecedores de craques para o torneio.

De acordo com as recomendações de um grupo de trabalho da Fifa reunido no fim do mês passado, a Copa de 2022 deve acontecer no fim daquele ano, provavelmente dos dias 26 de novembro a 23 dezembro, de acordo com fontes próximas à entidade.

Alguns dirigentes, como o presidente da Uefa, o francês Michel Platini, pediram para que a final seja disputada mais cedo, no dia 18 de dezembro, para que a data não seja tão próxima ao Natal.

O certo é que a competição deve ser mais condensada, durante quatro semanas, quatro dias a menos que a última edição, no Brasil.

A ideia é atrapalhar o menos possível o andamento dos campeonatos europeus, que estarão no meio das suas temporadas. 

 

- "Nada que possa destruir o futebol" -

A Uefa tem se mostrado menos crítica do que os representantes das principais ligas profissionais do continente e já adiantou que aceitaria modificar o calendário das competições continentais, como a Liga dos Campeões, que costuma disputar a fase de grupos até o início de dezembro e o mata-mata a partir de fevereiro.

A Fifa rebateu as críticas ao alegar que praticamente todos os campeonatos paravam no fim do ano, menos a Premier League inglesa, que presa muito o tradicional 'Boxing Day', no dia seguinte ao Natal. 

É por isso que Blatter também é favorável à realização da final da Copa no dia 18 de dezembro, para colocar panos quentes nas polêmicas e não esbarrar com a tradição natalina do futebol inglês.

A Fifa, porém, se recusa a indenizar os clubes europeus, ignorando o pedido de Karl-Heinz Rummenigge, presidente do Bayern de Munique e da Associação Europeia de Clubes (ECA).

"Não haverá compensação financeira, os clubes terão sete anos para se organizar", sentenciou em fevereiro o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, bem conhecido no Brasil por ter afirmado que o país precisava de um "chute no traseiro" para acelerar os preparativos da Copa.

Por mais que reconheça que a opção de uma  Copa do Mundo no inverno "não é perfeita", o dirigente alegou que a entidade "não faz nada que possa destruir o futebol". "Porque deveríamos pedir desculpas aos clubes?", indagou.

Presidente do Lyon, atual líder do Campeonato Francês, Jean-Michel Aulas ainda mantém a esperança de que a posição da Fifa possa evoluir. "Já obtivemos indenizações da Uefa durante competições. Se o mesmo não acontecer da parte da Fifa, é de se esperar uma reação extremamente contundente da ECA", avisou.

"Ainda estamos no início das negociações, não podemos esquecer que a Fifa está em período eleitoral (a eleição presidencial está marcada para o dia 29 de maio, em Zurique). Vamos ver o que acontece depois das eleições", completou Aulas.

 

- "Catar precisa fazer mais" -

A questão do calendário deve ser resolvido nos próximos dias, mas ainda existem muitos problemas que mancham a Copa do Mundo no Catar, que já é a mais polêmica da história sete anos antes da sua realização.

A Fifa sofreu um grande baque em dezembro, com a renúncia de Michael Garcia, procurador americano que liderou investigações sobre suspeitas de corrupção na escolha do país árabe para receber a competição.

A entidade chegou a anunciar em novembro que o relatório Garcia não comprovava corrupção, apesar de apontar atos irregulares considerados "de alcance limitado", mas o próprio procurador veio a público para criticar uma leitura "incompleta e equivocada" do documento.

Altos dirigentes pediram a publicação na íntegra do relatório, entre eles Michel Platini, que  espera "um novo sopro de ar fresco para a Fifa", ou o príncipe jordaniano Ali Bin al-Hussein, um dos vice-presidentes da entidade, que espera desbancar Blatter da presidência em maio.

O ex-craque português Luis Figo e o presidente da federação holandesa, Michael van Praag, também são candidatos à presidência da Fifa, na qual o suíço, que está no cargo desde 1998, é favorito para buscar um quinto mandato.

Blatter se pronunciou no último domingo sobre outro tema polêmico da Copa do Mundo no Catar, as denúncias sobre condições de trabalho nos canteiros de obras de estádios e infraestruturas.

"Como já disseram algumas organizações que defendem os direitos humanos, por mais que algumas melhorias tenham sido observadas, principalmente no que diz respeito às normas introduzidas nas obras de construção, o Catar precisa fazer mais para garantir condições de trabalho mais justas para todos", criticou o cartola.

De acordo com um estudo divulgado em maio do ano passado pela Confederação Sindical Internacional (CSI), foram registradas cerca de 1.200 mortes de trabalhadores imigrantes em obras de construção de estádios e infraestrutura do Mundial.

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