CONFLITOS

Estado Islâmico onipresente para esquecer derrotas do 'califado'

O grupo quer transmitir a mensagem de que é ''capaz de atacar em qualquer lugar e a qualquer hora''

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Publicado em 22/03/2015 às 14:43
Foto: Salah Habibi /AFP
O grupo quer transmitir a mensagem de que é ''capaz de atacar em qualquer lugar e a qualquer hora'' - FOTO: Foto: Salah Habibi /AFP
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Ao atacar pela primeira vez a Tunísia e o Iêmen, o grupo Islâmico Estado (EI) tenta demonstrar sua capacidade de se expandir e fazer esquecer as seguidas derrotas registradas no Iraque e na Síria, onde proclamou um "califado", de acordo com especialistas.

"A expansão está no centro da estratégia do EI", lembra J.M. Berger, coautor do livro "ISIS, the State of Terror".

Por essa razão, ter proclamado um "califado, se aventurado no Egito, Argélia, Nigéria, Líbia e agora Tunísia e Iêmen, faz parte de seu esforço para estender a sua influência".

Os ataques recentes na Tunísia (21 mortos no Museu do Bardo, em Túnis) e no Iêmen (142 mortos em ataques contra mesquitas xiitas em Sana) permitem ao EI criar uma imagem de onipresença, diz o especialista.

"Criar essa sensação de força é um dos principais objetivos do EI em termos de recrutamento e propaganda", ressalta Berger.

"Estes ataques são tanto uma demonstração de força quanto uma mensagem à comunidade internacional: o EI se tornou um ator global", concorda Mathieu Guidère, professor de estudos islâmicos na Universidade de Toulouse, no sul da França.

O grupo quer transmitir a mensagem de que é "capaz de atacar em qualquer lugar e a qualquer hora, pois tem adeptos em todos os lugares prontos a morrer por seus objetivos", acrescenta.

Mas, para os especialistas, esta imagem de invencibilidade, forjada nas ofensivas no Iraque e na Síria, e sustentada pelos vídeos de suas atrocidades, começa a tornar-se frágil.

No Iraque, os jihadistas foram expulsos nos últimos meses de várias regiões no norte e estão prestes a perder Tikrit, um dos seus redutos atualmente cercado pelas forças armadas iraquianas.

Na Síria, o EI sofreu um duro revés contra os curdos, apoiados pelos bombardeios aéreos da coalizão antijihadista na emblemática cidade do Kobane. Os curdos também avançam em outras frentes, inclusive em seu principal reduto, a província síria de Raqa.

Nestas batalhas, o EI perdeu milhares de combatentes, mas também poços de petróleo e gás, que são alvo de bombardeios aéreos e que eram uma importante fonte de financiamento para o grupo jihadista.

Efeito de compensação

Por estas razões, os especialistas acreditam que os ataques recentes são um meio de desviar a atenção do contexto menos favorável no "califado".

Thomas Pierret, especialista no Islã contemporâneo, afirma que "há certamente uma lógica compensação para os reveses sofridos na Síria e no Iraque".

E "se ainda existe uma expansão, deve-se mais às atividades terroristas do que ao califado propriamente dito", diz o professor da Universidade de Edimburgo.

Além disso, ao cometer ataques na Tunísia e no Iêmen, o EI visa "compensar" o fato de que nestes dois países "não têm uma verdadeira presença regional", acrescenta.

Os especialistas salientam, contudo, que é difícil determinar o nível de coordenação entre os autores destes ataques e o comando central do grupo terrorista.

As informações disponíveis mostram que "os terroristas na Tunísia foram treinados na Líbia. Outros ataques podem muito bem ser planejados localmente", diz Berger.

O que é certo, diz ele, é que o EI tentará, "absolutamente, a cada semana ocupar as manchetes dos jornais, e mostrar sinais de expansão em outros lugares" para além do Iraque e da Síria.

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