Vaticano

Franqueza de Papa sobre genocídio armênio enfraquece papel da Turquia na região

Francisco defendeu nesta segunda-feira (13) a posição da Igreja de considerar um verdadeiro genocídio os massacres de armênios há um sécu

Da AFP
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Publicado em 13/04/2015 às 13:45
Foto: União Europeia 2014 ? Parlamento Europeu
Francisco defendeu nesta segunda-feira (13) a posição da Igreja de considerar um verdadeiro genocídio os massacres de armênios há um sécu - FOTO: Foto: União Europeia 2014 ? Parlamento Europeu
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A franqueza do papa Francisco ao se referir ao genocídio armênio em 1915 corre o risco de enfraquecer a Turquia, um ator chave para a paz na região, onde a organização extremista Estado Islâmico atacou a minoria cristã em muitas ocasiões.

Francisco defendeu nesta segunda-feira (13) a posição da Igreja de considerar um verdadeiro genocídio os massacres de armênios há um século, embora com isso tenha irritado as autoridades turcas, que classificaram de insulto a declaração do Papa e retiraram seu embaixador no Vaticano.

"O caminho da Igreja é o da franqueza", afirmou o Papa durante a missa matutina desta segunda-feira, em uma clara mensagem de que não pretende revisar suas declarações.

"Não podemos silenciar o que vimos e ouvimos", acrescentou o pontífice argentino.

O discurso de Francisco, pronunciado no domingo durante uma missa na Basílica de São Pedro, desencadeou uma grave crise diplomática entre o Vaticano e a Turquia, aliada importante na luta contra o islamismo radical que está sendo devastador para as comunidades cristãs do Oriente Médio.

Francisco, que visitou a Turquia em novembro passado, evitou na ocasião falar deste tema espinhoso tanto com as autoridades quanto com os jornalistas.

O Papa argentino conhece bem o caso, já que em seu país de nascimento reside uma importante comunidade de 100.000 armênios, a maior na América Latina.

O governo da Armênia, país independente desde 1991, estima que cerca de 1,5 milhão de pessoas foram exterminadas entre 1915 e 1917, e que se tratou de um genocídio, mas a Turquia insiste que não houve nenhum plano de extermínio da população armênia e que se tratou de um conflito civil.

"Desde que vivia em Buenos Aires se ocupava da questão armênia. O Papa quer restaurar a memória comum, passo fundamental para alcançar a paz", expressou a vaticanista do jornal Il Messaggero Franca Giansoldato.

"Destruir um povo é genocídio (...) A Turquia se nega a admitir isso no exterior, mas internamente há os que conseguem falar disso", explicou o historiador Marcello Flores D'Arcais, que acaba de publicar um livro na Itália sobre o genocídio armênio.

 

Memória e perdão

"Parecia que o Papa ia manter a linha prudente, como fizeram todos os pontífices até João Paulo II, o primeiro Papa que reconheceu o genocídio armênio no ano 2000. Se Francisco não tivesse falado (por ocasião da celebração dos 100 anos dos massacres), falharia com os armênios e também com os turcos que lutam para ter relações de verdade com os armênios", comentou o historiador Andrea Riccardi, outro especialista no tema.

"A memória e a condenação dos horrores do passado servem para impedir que se repitam, como infelizmente está ocorrendo em muitos lugares, incluindo o Oriente Médio", lamentou o patriarca católico armênio Nerses Bedros em declarações à agência católica Fides.

Em sua homilia de domingo, Francisco lamentou a indiferença com a qual o mundo acompanha os massacres cometidos atualmente em muitas partes do mundo e, em particular, contra os cristãos do Oriente Médio e da África.

A organização cristã Portas Abertas estima que atualmente mais de 150 milhões de cristãos sofrem perseguições no mundo.

"Parece que a família humana nega-se a aprender com seus próprios erros provocados pela lei do terror e assim, ainda hoje, há os que tentam eliminar seus semelhantes com a ajuda do silêncio cúmplice de outros que permanecem como espectadores", denunciou Francisco.

O Papa também convocou a Armênia a entrar no caminho da reconciliação, um apelo para que normalize suas relações com a Turquia.

Já a Turquia, que costuma ameaçar com sanções econômicas os países que reconhecem os massacres de um século atrás, considerou inaceitável a declaração de Francisco e ressaltou que "a história foi instrumentalizada com fins políticos".

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