Vários países europeus rejeitaram nesta sexta-feira (10) as quotas obrigatórias defendidas por Berlim e Bruxelas para dividir o fluxo ininterrupto de refugiados que chegam à Europa em circunstâncias por vezes controversas, como acontece na Hungria.
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O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, apoiado por seu colega luxemburguês, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE, viajou a Praga para tentar convencer os chefes da diplomacia dos países do grupo de Visegrado (Polônia, República Checa, Eslováquia e Hungria).
Mas a reunião não parece ter possibilitado uma aproximação entre os pontos de vista. "Os países devem ter o controle sobre o número de refugiados que estão dispostos a aceitar", insistiu à imprensa o chefe da diplomacia checa, Lubomir Zaoralek.
Uma posição já defendida na quinta-feira pela Romênia, e apoiada pela Dinamarca, que como o Reino Unido e a Irlanda dispõe de uma opção de rejeição da política de asilo da União Europeia.
Em Praga, o chefe da diplomacia alemã reiterou a "necessidade da solidariedade europeia" ante a crise migratória atual que é, segundo ele, "talvez o maior desafio da UE".
Berlim, que se disse pronto para acolher até 800.000 refugiados este ano, poderia receber 40.000 apenas no final de semana, segundo Steinmeier. Ou seja, um quarto das 160.000 chegadas que a Comissão Europeia deseja repartir a partir da próxima na assembleia da UE.
De acordo com as autoridades alemãs, 4.000 soldados serão mobilizados para ajudar em caso de emergência esses refugiados provenientes em grande parte da Síria.
Mais de 430.000 migrantes e refugiados cruzaram o Mediterrâneo desde janeiro, e cerca de 2.070 morreram ou estão desaparecidos, informou nesta sexta-feira a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Sobrevivência
Se os europeus não superarem suas divisões durante uma reunião extraordinária dos ministros do Interior prevista para segunda-feira, em Bruxelas, uma cúpula dos 28 chefes de Estado e de Governo será convocada, alertou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
A Hungria propôs, por sua vez, integrar às discussões Sérvia e Macedônia, países igualmente sufocados pelo fluxo de candidatos ao exílio fugindo principalmente da Síria, através da organização de uma conferência conjunta com a UE.
Entre quinta e sexta-feira, um recorde de 7.600 imigrantes entraram em 12 horas na Macedônia, segundo a ONU.
Mais ao norte, em Presevo, em território sérvio, centenas de migrantes esperavam a liberação de documentos que lhes permitam continuar a sua viagem através desta ex-República Iugoslava para a Hungria, porta de entrada para a União Europeia.
"O único objetivo deste êxodo é sobreviver", explica Rashid Wahid, de 37 anos, que tentava de alguma forma secar o seu passaporte, encharcado pela chuva da noite.
Budapeste espera bloquear a passagem de migrantes a partir de 15 de setembro com a instalação de uma dupla cerca de arame farpado na fronteira com a Sérvia, tendo mobilizado 3.800 soldados na área com a "tarefa prioritária" de acelerar sua construção por prisioneiros.
Apesar das primeiras cercas, 3.601 refugiados entraram no país na quinta-feira, um novo recorde, de acordo com um comunicado da polícia.
Em contraste, na Grécia, na ilha de Lesbos, onde cerca de 22.500 imigrantes, mais de um quarto da população, foram registrados desde segunda-feira, a situação está sendo "normalizada", segundo o ministro da Marinha Mercante, Christos Zois, graças ao estabelecimento de ônibus especiais para o continente.
Mas aliviando Lesbos, essas partidas aumentam a tensão nas fronteiras norte do país com a Macedônia, etapa seguinte da odisseia dos migrantes.
Condições desumanas
Denunciando a incapacidade de Atenas de "defender a sua própria fronteira", o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, exortou nesta sexta-feira a UE a "mobilização de recursos humanos, guardas de fronteira" para "defender a fronteira externa da Grécia".
Nos últimos dias, as condições de acolhimento dos migrantes na Hungria têm sido repetidamente denunciadas.
Um vídeo filmado secretamente dentro do maior campo de migrantes na fronteira entre a Hungria e a Sérvia revelou as condições "desumanas" em que o alimento é distribuído, de acordo com um voluntário austríaco que o postou na internet.
Nas imagens é possível ver cerca de 150 migrantes reunidos entre grandes dentro de uma sala e se acotovelando para tentar pegar sanduíches lançados por policiais húngaros, usando capacetes e máscaras sanitárias.
No dentro de outra polêmica, uma cinegrafista húngara que apareceu em um vídeo chutando migrantes que tentavam cruzar a fronteira, explicou ter entrado em pânico e lamentou suas ações.
"Eu não sou um racista e sem coração", afirmou.
No sábado, manifestações de apoio aos migrantes devem ser organizadas em várias capitais europeias, particularmente em Londres, onde mais de 80.000 pessoas confirmaram presença na página do Facebook dos organizadores.